• Carregando...
O pré-candidato do PSDB João Doria
| Foto: Pablo Jacob/Governo de SP

– Tomei uma decisão e não tem volta.

– Que decisão? Pensa bem. Decisão sem volta não tem volta.

– Já pensei. E ninguém vai me fazer mudar de ideia.

– Fala logo.

– Não sou mais candidato à presidência.

– O que?

– Isso mesmo que você ouviu. Não adianta insistir.

– Estou confuso.

– Imagino. Vou surpreender a todos.

– Não. Estou confuso porque achei que você já tivesse desistido antes.

– Como assim?! Tá louco? Até um minuto atrás eu era candidato a presidente.

– Então devo ter me enganado. Achei que algum tempo atrás tivesse ouvido você dizer que não disputaria.

– E você acreditou?

– Claro.

– Esse foi o seu erro.

– Acreditar em você?

– Não. Ignorar os movimentos da política.

– Que movimentos?

– Política é como a maré: vai e volta.

– Entendi. Você foi e voltou.

– Não. O que vai e volta é a política. Eu sempre estive no mesmo lugar.

– E esse lugar era o de candidato a presidente.

– Exato. Mesmo quando parecia não ser.

– Agora ficou claro. Então você sempre foi candidato a presidente mesmo quando parecia não ser e agora decidiu desistir da desistência de desistir.

– É por aí.

– E por que você não quer mais ser presidente da República?

– Não é que eu não queira.

– Ih... Então o que é?

– A República é que não me merece.

– A República?

– É. O país. A sociedade. O povo.

– Entendi. Como você chegou a essa conclusão?

– Comecei a perceber isso no dia em que estava andando num shopping vazio.

– O que aconteceu?

– Acenei para ninguém e ninguém respondeu.

– O que há de errado nisso?

– Tudo. Num país educado, nenhum aceno fica sem resposta.

– Você não acha que se em vez de acenar para ninguém, tivesse acenado para alguém, alguém teria correspondido?

– Isso não é problema meu. Fiz a minha parte, que era acenar. E não gostei da falta de resposta. Povo malcriado.

– Povo? Você disse que não tinha ninguém no seu caminho...

– Justamente. Se fosse um povo educado estaria no meu caminho para acenar para mim, me aplaudir e gritar meu nome.

– É, realmente é falta de educação deixar uma pessoa que quer ser presidente do país andando sozinha por aí.

– Completa falta de educação. E olha que eu dei todas as pistas para eles perceberem a minha importância.

– Trancou tudo, né?

– Exato. Tranquei todo mundo alegando emergência sanitária e fui passear em Miami, onde não tinha nada trancado. Eles não entenderam meu gesto.

– Não mesmo.

– Gente burrinha. Incapaz de distinguir um líder corajoso.

– Corajoso?

– Claro. Tranquei milhões de pessoas e fui curtir as praias da Flórida. Sou ou não sou corajoso?

– Sem dúvida.

– Danem-se todos. Cansei. Vou retomar meus negócios da China. Saio da vida pública e volto para a privada.

– Você merece.

– Eu sei.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]