Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Guilherme Macalossi

Guilherme Macalossi

Projeto

A dosimetria como prêmio de consolação

Comemoração da oposição no plenário da Câmara dos Deputados, após aprovação do PL da dosimetria. (Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados)

Ouça este conteúdo

“Ao vencedor, as batatas” é o que diz o velho ditado. Um novo ditado poderia trocar batatas por dosimetria. Foi o que o PL conquistou na bacia das almas depois da votação na Câmara dos Deputados na madrugada desta quarta-feira (10). Espezinhado, rejeitado e maldizido pelos próprios bolsonaristas, o projeto que reduz as penas dos condenados por tentativa de golpe, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro, foi comemorado como uma vitória por eles. Tem mais as características de um prêmio de consolação.

Como sempre alertei, aqui e em toda parte, o projeto da anistia não tinha votos para passar no Congresso. Sua viabilidade era um sonho estimulado por agitadores políticos e arrivistas ávidos em conduzir os militantes esperançosos ao autoengano. “Ao invés de um Bolsonaro perdoado e elegível, o resultado será, provavelmente, um Bolsonaro condenado por menos tempo”, tendo de se contentar “não com a anistia, mas com uma dosimetria ampla, geral, irrestrita e devidamente calculada pelo Centrão”, escrevi.

Hugo Motta e seus aliados do Centrão não gostam de Lula, mas também não querem a família Bolsonaro com poder. Ao tocar a dosimetria, o Centrão amplia seu processo de afastamento do governo, mas também não dá ao bolsonarismo o que este deseja

A dosimetria que veio pelas mãos de Hugo Motta foi costurada por personagens que o bolsonarismo despreza profundamente: Michel Temer, Paulinho da Força, Aécio Neves e quejandos. É bom lembrar as palavras de Eduardo Bolsonaro: “Qualquer anistia que não seja ampla e irrestrita não será aceita”, advertiu. Mas a realidade (sempre ela) acabou se impondo, restando aceitar o texto possível. A floresta, a seu contragosto, não foi queimada. E ainda poderá acabar cassado.

Bolsonaro, é verdade, foi suficientemente esperto para colocar um bode na sala. A pré-candidatura do filho 01, Flávio, teve o condão de lhe devolver alguma margem de manobra no debate sucessório no qual vinha perdendo protagonismo de forma sistemática. A um só tempo, refreou o movimento de Michelle Bolsonaro, que vinha capitalizando junto às bases bolsonaristas, escanteou momentaneamente Tarcísio de Freitas (que, apesar de servil, é visto como um oportunista com pretensões próprias) e deu ao Centrão um recado sobre custos políticos.

VEJA TAMBÉM:

Flávio seria o nome para manter a hegemonia sobre a direita, mas não para vencer Lula. Considerado o desempenho nas pesquisas, entre todos os possíveis concorrentes do petista, o escolhido para representar Bolsonaro em 2026 é o que se sai pior.

Hugo Motta e seus aliados do Centrão não gostam de Lula, mas também não querem a família Bolsonaro com poder. Ao tocar a dosimetria, o Centrão amplia seu processo de afastamento do governo, mas também não dá ao bolsonarismo o que este deseja de verdade – nem mesmo a garantia de que, no Senado, o texto final será mantido.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.