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Eduardo Leite ambiciona ocupar o Palácio do Planalto. Concorrer, entretanto, não será fácil. Nas últimas semanas, se avolumou a especulação de que o governador gaúcho trocaria o PSDB pelo PSD. Ciente da pretensão do tucano, o engenhoso Gilberto Kassab lhe ofereceu sua legenda para que ele concorresse à presidência. Seria o meio mais rápido. Afinal, Leite havia perdido a conturbada prévia de seu partido, que teve João Doria como vencedor.

Em meados de março, quando da filiação da ex-senadora Ana Amélia Lemos no PSD, tudo parecia desenhado para que a mudança se efetivasse, mas houve pressão interna dos aliados do governador. Até uma carta em favor de sua permanência foi publicada. Bom leitor de cenários, ele parece ter percebido que a transferência poderia ser arriscada demais. Afinal, parte do PSD, e mesmo Gilberto Kassab, não escondem a simpatia por Lula. Como construir uma alternativa sob o risco de boicote? Leite não poderia contar com unidade alguma, nem isso deve lhe ter sido prometido. Recuou.

Na última segunda-feira (28), Leite fez um anúncio duplo no Palácio Piratini: confirmou que renunciaria ao mandato e que se manteria no PSDB. A um só tempo foi seu dia do saio, e também do fico. Sua decisão gerou ainda mais pressão no pré-candidato tucano, João Doria. O governador de São Paulo é questionado internamente pela rejeição gigantesca, e também pelo imobilismo nas pesquisas de intenção de voto. Até aqui, desde o resultado das prévias, ele continua com percentuais mínimos.

Cresce o número de tucanos que desejam trocar de pré-candidato, mesmo depois de Doria reafirmar sua intenção de permanecer como tal. A contestação é tamanha que o governador paulista teve de fazer um movimento extremo. Permitiu a especulação de que desistiria da disputa nacional, trocando-a pela busca da reeleição. Tal decisão sepultaria a aliança criada em torno de seu vice e m São Paulo, bem como comprometeria as candidaturas de centenas de candidatos a deputado estadual e federal. O PSDB, já esfacelado internamente, convulsionaria. O presidente da legenda, Bruno Araújo, precisou atuar publicamente, divulgando uma carta ressaltando a validade das prévias. Em poucas horas, o partido foi do impasse à reafirmação de Doria como pré-candidato.

Ainda que tenha conseguido uma sobrevida interna no PSDB, o fato é que Doria sai ainda mais enfraquecido do episódio. As fissuras políticas produzidas a partir de sua estratégia agora atingiram até mesmo seus aliados. Presente no ato de formalização de sua renúncia ao governo de São Paulo, o deputado Bruno Araújo mostrava visível desconforto. Ao erguer a mão de Doria, parecia mais carregar um fardo.

Desafio de Eduardo Leite

Enquanto isso, no Rio Grande do Sul, Eduardo Leite e seus aliados parecem se fiar na expectativa de que, ao contrário de Doria, há espaço para crescimento do governador gaúcho. Numa disputa de rejeições, ser desconhecido dá teto para crescer. O desafio, por óbvio, é se tornar conhecido a tempo e cativar indecisos de forma e mostrar competitividade. Ele também pretende se mostrar mais apto a construir alianças com outros partidos, amalgamando outros nomes do assim chamado “centro democrático”.

No pronunciamento do início da semana, Eduardo Leite anunciou que pretende percorrer o país. É a primeira etapa de sua estratégia, que agora se volta novamente para dentro do PSDB. Ainda que não seja indicado, poderá observar de fora a derrota de Doria, aguardando para se projetar como líder inconteste do PSDB em 2026. Se suplantar Doria e for indicado, mesmo a derrota não representaria desgaste. Afinal, ganharia musculatura e presença nacional em uma eleição difícil, e capitalizaria isso para a disputa seguinte. Leite deu um all in político, mas sem ter nada a perder, ao contrário de seu oponente paulista.

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