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A Gazeta do Povo apurou que 15 governadores se ausentaram do ato promovido pelo governo, STF e presidência do Congresso
A Gazeta do Povo apurou que 15 governadores se ausentaram do ato promovido pelo governo, STF e presidência do Congresso| Foto: Zeca Ribeiro

A ausência de muitos representantes de oposição no evento do último dia 8 de janeiro em Brasília é revelador do descompasso estratégico e até moral em que se encontram nacos desse segmento político, que parece ainda perdido na orbita do bolsonarismo ou incapaz de formular um discurso minimamente consistente. Estes comentem um erro básico de leitura da realidade. Jamais serão alternativa enquanto se pautarem pelas possíveis reações negativas entre o público fiel ao ex-presidente, tampouco vão moldá-lo pasteurizando a doxa radical que requer a retroalimentação permanente.

Pouco importa se o presidente de turno é Lula. O ataque que visava incitar uma intervenção militar queria, mais do que impedir o exercício do poder por quem havia sido legitimamente eleito, romper a ordem institucional estabelecida, entregando o país ao julgo da caserna. Estamos a falar da supressão de um sistema de governo que se impõe acima das diferenças ideológicas, e que deveria ser defendido uniformemente, independente da visão de mundo.

Não é preciso ser liberal ou conservador para defender a institucionalidade, mas estes, antes de todos os demais, é quem deveriam fazê-lo por primeiro.

Houve, entretanto, quem, por antipetismo cegou ou até desapego institucional, achasse por bem ignorar o ato. Uma honrosa exceção foi o governador gaúcho Eduardo Leite (PSDB-RS), que se fez presente interrompendo suas férias na Bahia. “Eu defendo que essa cerimônia do 8 de janeiro não pertence a qualquer ideologia política, é uma celebração da democracia. […] Não estou aqui pelo governo Lula, por alguma conotação político-eleitoral. Mas, sim, porque o Estado Democrático de Direito sofreu uma tentativa de golpe naquele contexto e temos que celebrar a nossa democracia, além de reforçar que não deixaremos passar qualquer tentativa de golpe no nosso país”, afirmou. Manifestação sóbria e exemplar.

Não é preciso ser liberal ou conservador para defender a institucionalidade, mas estes, antes de todos os demais, é quem deveriam fazê-lo por primeiro. Mas aqui jogaram Edmund Burke e sua escola de pensamento no bueiro, preferindo fazer exercício de genuflexão ante coturnos polidos. Alguns sedizentes liberais e conservadores chegaram até mesmo a tomar os delinquentes que botaram para quebrar na sede dos Três Poderes como pobres injustiçados. Outrora a direita, com razão, rejeitava black blocs. Agora tem até os seus de estimação.

Também é um erro tomar o ocorrido como mera baderna, ainda que muitos o façam corretamente condenado a violência. Isso é ignorar o contexto de outras ações que antecederam o 8 de janeiro, como os piquetes em rodovias pelo país no dia seguinte ao 2° turno, a invasão da sede da Polícia Federal no dia da diplomação presidencial e o plano de explodir uma bomba no aeroporto de Brasília na véspera de Natal. A invasão e destruição dos prédios do STF, do Congresso Nacional e Executivo eram o ápice de um processo contestatório e a busca desesperada por um pretexto que desse ares de legitimidade a um ato de ruptura. Também é ignorar que, concomitantemente aos ataques, muitos tramavam dentro dos palácios e quartéis.

Não há vácuo de poder, nem parágrafo em branco na narrativa histórica. Integrantes das correntes não esquerdistas que se ausentaram do evento do 8 de janeiro estão entregando para a esquerda o monopólio da defesa da democracia. Um erro que cobrará seu preço.

Conteúdo editado por:Jocelaine Santos
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