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Flávio Dino foi aprovado por 47 senadores para o cargo de ministro do STF.
Flávio Dino foi aprovado por 47 senadores para o cargo de ministro do STF.| Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

Era pouco provável que a indicação de Flávio Dino não passasse no Senado Federal. A única dúvida era qual seria a votação. Dado o perfil combativo e as altercações que teve com integrantes da oposição em diversas oportunidades ao longo do ano, a única coisa que se sabia é que o placar não seria folgado, muito menos que o indicado de Lula seria unanimidade. Mas passou. E, já que os bolsonaristas adoram usar seu sobrenome e peso para fazer piadas envolvendo dinossauros, é possível dizer que, em termos argumentativos, retóricos e de apresentação, Dino passou sobre eles como um Godzilla. Despreparados, não sabiam o que perguntar, nem por onde contestar os posicionamentos apresentados pelo mais novo ministro do Supremo Tribunal Federal.

Logo no início da sessão, o senador Eduardo Girão (Novo) recorreu à numerologia para pedir o adiamento da sabatina conjunta de Dino e de Paulo Gonet, indicado para a Procuradoria-Geral da República. “Já tem uma coincidência aí grande, que a sociedade fala, que é do dia 13, que não apenas é o número do Partido dos Trabalhadores, mas também o aniversário do ministro Alexandre de Moraes”, disse sem qualquer constrangimento.

A confirmação do nome de Dino no STF também ilustra o atual cenário político, em que o governo só encontra dificuldades quando nos seus conflitos internos ou nas negociações com o centrão.

Imagine o leitor que a mãe de Alexandre de Moraes planejou que seu filho nascesse num dia 13 de dezembro porque anteviu que o PT adotaria esse número partidário e que a indicação de Dino seria apreciada no Senado Federal exatamente nessa data. Uma verdadeira Márcia Sensitiva da política. A requisição insólita de Girão, que só conseguiu arrancar gargalhadas dos presentes, deu o tom da mediocridade que se seguiria.

Em outro momento, o senador Flávio Bolsonaro, questionando Dino sobre seu histórico político e disposto a dar um exemplo de institucionalidade, acabou revelando que seu pai o cogitou para uma vaga na corte. “O então presidente Bolsonaro, quando a indicação do ministro André Mendonça, virou para mim e falou: ‘Flávio, o que você acha de você ser o indicado para o Supremo Tribunal Federal?’. Já que se discutia que a indicação fosse de um evangélico, como ele havia prometido na campanha eleitoral. Eu falei: ‘Presidente, apesar de eu ser advogado, o que eu sou é político, o que eu gosto de fazer é política. Indique o nome do André Mendonça, que é preparado para essa missão e eu vou poder ajudar muito mais o senhor aqui no Senado’.”, afirmou o filho 01 sem se dar conta de que com isso mostrava o tipo de ideia que circulava no Planalto na época em que era governo.

A autointitulada “maior oposição da história” só cumula derrotas e constrangimentos, franqueado o trabalho de Lula em reconstruir a hegemonia petista.

Diante dessa informação tornada pública por Flávio Bolsonaro, qualquer resquício de autoridade moral do bolsonarismo para cobrar isonomia na indicação de ministro do STF por Lula caiu por terra, uma vez que o ex-presidente cogitou por o próprio filho na corte, como se a mais alta instância da Justiça fosse uma sesmaria. Mesmo não tendo prosperado a ideia, o indicado terrivelmente consanguíneo acabou dando lugar ao terrivelmente evangélico.

Não que Dino seja inquestionável. Muito antes pelo contrário, talvez seja uma das indicações mais questionáveis da história recente do país, ainda que tenha inegável formação em direito e aptidão intelectual para a função. Em um artigo recente para a Gazeta do Povo, argumentei que ele fora apontado por Lula em meio a um desgaste crescente no comando do Ministério da Justiça por conta da elevação da violência em Estados importantes do país e os encontros da primeira-dama do tráfico de drogas no Amazonas com membros importantes de sua equipe. Apontei também sua autoatribuída característica camaleônica de mudar de personagem a depender da função que ocupa.

Tudo isso, fundamentado em questionamentos técnicos, poderiam minar sua credibilidade como candidato à corte e dificultar sua aprovação ao menos na Comissão de Constituição e Justiça. Alessandro Vieira (MDB), que adotou essa linha, acabou se saindo melhor, sendo a única exceção ao exigir mais de Dino na formulação de respostas. Ainda assim, insuficiente para barrar sua aprovação.

De certa forma, a confirmação do nome de Dino no STF também ilustra o atual cenário político, em que o governo só encontra dificuldades quando nos seus conflitos internos ou nas negociações com o centrão. A autointitulada “maior oposição da história” só cumula derrotas e constrangimentos, franqueado o trabalho de Lula em reconstruir a hegemonia petista e minando a criação de uma alternativa minimamente consistente e qualificada.

Conteúdo editado por:Jocelaine Santos
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