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Guilherme Macalossi

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STF

Moraes esnoba tarifas de Trump e vai atrás de Bolsonaro. E agora?

Moraes autorizou operação da PF contra Jair Bolsonaro
Moraes autorizou operação da PF contra Jair Bolsonaro (Foto: André Borges/EFE e Ton Molina/STF)

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A decisão do ministro Alexandre de Moraes, também corroborada pelos integrantes do STF, de impor medidas cautelares contra Jair Bolsonaro deixa evidente que o Judiciário esnobou as tarifas impostas por Donald Trump ao Brasil como punição pelo este que chamou de “caça às bruxas” aos ex-presidente brasileiro. “A Soberania Nacional não pode, não deve e jamais será vilipendiada, negociada ou extorquida, pois é um dos fundamentos da República Federativa do Brasil”, escreveu o magistrado. Moraes completa citando a frase do estadista norte-americano Abraham Lincoln, que dizia que “os princípios mais importantes podem e devem ser inflexíveis”.

Além das restrições a Bolsonaro, há aqui um recado indireto para o governo dos EUA. Ao longo dos últimos dias, o próprio Trump cristalizou que a motivação principal da taxação não são as relações comerciais entre os dois países, mas sua percepção do que ocorre no Brasil com seu aliado ideológico. Em uma carta endereçada a Bolsonaro, o presidente americano relatou ter visto “o terrível tratamento” a que Bolsonaro estaria “recebendo nas mãos de um sistema injusto”. Finalizou cobrando que o “processo deve terminar imediatamente”. Pelo visto não irá.

Só um parvo vai se surpreender se, ao longo do dia, ou mesmo nos próximos, Trump não se insurja com novas medidas contra o Brasil. O all in geopolítico de Eduardo Bolsonaro levou o Supremo Tribunal Federal a pagar para ver

Ao contrário do que muitos disseram por aí ao longo da sexta-feira, a fundamentação básica da decisão do STF não se baseia em um hipotético risco de fuga de Jair Bolsonaro, mas no que seria sua suposta coparticipação nas operações políticas de Eduardo Bolsonaro. É nisso que se fundamenta a integralidade do despacho.

Moraes inclusive menciona a “vultosa contribuição financeira encaminhada” como “forte indício do alinhamento do réu (...) com o seu filho, com o claro objetivo de interferir na atividade judiciária e na função jurisdicional desta Suprema Corte e abalar a economia do país, com a imposição de sanções econômicas estrangeiras à população brasileiras e com a finalidade de obtenção de impunidade penal”.

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O caso Bolsonaro já não é mais um tema exclusivamente de economia interna do Brasil, por mais que, de fato, o seja. Os empresários que se fiam em negociações econômicas para adiar o prazo das tarifas ou mesmo reverter o percentual designado são ingênuos e estão desenganados. Com a intromissão de Donald Trump, o que temos é uma escalada diplomática que tende a se aprofundar na sequência das cautelares.

A primeira coisa que Bolsonaro fez quando a Polícia Federal bateu na porta de sua casa no início do dia foi ligar para seu filho, que está nos Estados Unidos em permanente interlocução com as autoridades do governo americano. Só um parvo vai se surpreender se, ao longo do dia, ou mesmo nos próximos, Trump não se insurja com novas medidas contra o Brasil. O all in geopolítico de Eduardo Bolsonaro levou o Supremo Tribunal Federal a pagar para ver. A esperança derradeira do ex-presidente reside na capacidade de Trump tornar insustentável o custo de manter nele uma tornozeleira eletrônica.

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