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Muito embora os conceitos direita e esquerda me pareçam insuficientes e vazios de conteúdo, por mim eu os deixava de lado, aceito-os para fins de debate político. Dito isso, defendo a hipótese de que há, sim, espaço para uma esquerda civilizada. Ao menos em tese.

Excluídos os não poucos radicais de costume, na Europa e nos Estados Unidos porções relevantes do pensamento de esquerda já se destacaram da superstição marxista, depuseram as armas, desistiram da revolução e aceitaram a democracia e o mercado como soluções incontornáveis.

Infelizmente, como dizia o Millôr Fernandes, quando uma ideologia fica bem velhinha, vem morar no Brasil.

A paleozoica espécie de esquerda que aqui se instalou, e que insiste em sobreviver encalacrada no Estado, é das mais atrasadas e, ipso facto, irrelevantes. Resistente e chata como barata. Não aprendeu nada e, sobretudo, não esqueceu nada.

Ou temos o petismo que se reduz a lulismo, ou temos o lulismo derivativo (PSOL etc) que orbita em torno do ex-presidente e atual condenado. Em resumo, uma verdadeira Sibéria intelectual. Quem quer que, à esquerda, ofereça alternativas democráticas, é tratado como traidor e destruído em período eleitoral. Os exemplos são muitos.

Então, na prática, o que sobra são exemplares como Guilherme Boulos, Jean Wyllys, Gleisi Hoffmann, Fernando Haddad. Variações de um mesmo tema ou, para ser exato, de uma mesma falta de tema.

Daí o resultado de manifestações pacíficas como as do último dia 14: violência no varejo e no atacado, discurso autoritário para animar a torcida e mais um assassinato em nome da causa. Depois de o cinegrafista Santiago Andrade ter sido morto em 2014, agora a senhora Edi Alves Guimarães também foi morta ao inalar a fumaça dos pneus queimados em Belo Horizonte.

Como os neurônios desses joões batistas do atraso já torraram há muito tempo, restou-lhes queimar pneus e atirar rojões. Quando a pirotecnia toma o lugar da filosofia, os mortos são acidentes aristotélicos que não deveriam macular a platônica luta por, sei lá, educação-pública-e-de-qualidade, distorções previdenciárias ou Lula-livre.

Esse desastre ideológico é o que eu tenho chamado de stalinismo-como-ideia, aparentemente a única coisa a ser oferecida por representantes da delinquência moral no cardápio retórico do dia.

Por essas e outras, as críticas mais razoáveis aos arroubos e às lambanças presidenciais vêm da direita liberal e conservadora, não da esquerda majoritária; essa, sinceramente?, não deveria ter lugar na fila do debate público.

Entre o fascismo potencial e imaginado de um, e o fascismo atual e realizado de outros, ainda prefiro lidar com a primeira pedida. Ao menos é item novo no mal elaborado cardápio político brasileiro.

Chega de cometer os mesmos erros; cometamos outros. Eis a lição de Samuel Beckett: “Try again. Fail again. Fail better”.

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