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Bolsonaro visita o Muro das Lamentações
Bolsonaro visita o Muro das Lamentações| Foto:

Acompanho as andanças de Jair Bolsonaro mundo afora e rezo para que tenha sorte, muita sorte, porque juízo ele não tem.

Estreitar relações com Israel não é errado e, antes, pode ser bom a longo prazo (em parceria tecnológica e médica, por exemplo). Além disso, parte considerável da esquerda flerta com o mal disfarçado antissemitismo, e a diplomacia petista por muito tempo andou às voltas com o que  há de pior no mundo. Nesse sentido, reposicionar a amizade entre os países é bom sinal.

Não obstante, há maneiras e maneiras de fazer essa aproximação sem comprar brigas que não podemos pagar. Sempre nos demos bem sendo a turma do deixa-disso. O conflito entre Israel e Palestina é tão profundo, tão inapreensível, tão fora dos nossos alcance e interesses, que brincar de Estados Unidos com o poderio da Papua-Nova Guiné não é atitude razoável de um chefe de Estado.

Não se trata de defender um pragmatismo frio, cínico e calculista; uma espécie de acídia política aplicada. Trata-se de resgatar e preservar a tradição da boa diplomacia brasileira, que sempre soube se equilibrar entre extremos e trazer de fora o que há de melhor, sem comprometer o que já estava ganho aqui dentro. É para isso que servem os diplomatas. Recomendo o ótimo  Diplomacia na Construção do Brasil. 1750-2016 (Versal), de Rubens Ricupero.

O presidente Bolsonaro, influenciado pela fauna ideológica que o rodeia como índio em torno de fogueira, inventou de exportar posições doutrinárias e dar opiniões sobre o mundo e arredores. Como se ele de fato as tivesse, e meditadas. Como se, de repente, o Brasil importasse nas decisões internacionais que não lhe dizem respeito. Nosso país não tem tamanho político para isso.

Não tem tamanho e não deveria ter interesse. Conflitos dessa magnitude não servem para marcar posição estratégica, nem para jogar charme internacional. Temos problemas demais com os quais lidar, antes de sequer imaginar os problemas alheios.

Um país em que metade da população vive sem saneamento básico não tem moral nem condições de sanear a vida alheia.

Israel não precisa de nós, eis a verdade. Eles sabem se defender, fazem isso muito bem há bastante tempo. Qualquer tentativa de mediar guerras ou de se intrometer nesse caos do Oriente Médio terá somente um resultado: atrair problemas comerciais e geopolíticos que não tínhamos, sem com eles trazer junto as soluções de que precisamos.

No final das peregrinações, Bolsonaro visitou o Museu do Holocausto. Com sua argúcia inigualável, achou conveniente enfatizar que o nazismo foi mesmo de esquerda.

Para nosso alívio, a viagem terminou.

Shalom Adonai.

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