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De um lado, Jair Bolsonaro dispara frases de efeito que agitam os hormônios (mais do que os neurônios) de muitos eleitores. Sua retórica picotada soa como a Nona Sinfonia nos ouvidos da audiência; de outro, Fernando Haddad, que se desvanece diante da sombra imensa do também populista – mas sobretudo criminoso – Luiz Inácio. Ciro Gomes dispensa apresentações e despedidas. Figura cartunesca, atualiza como poucos o ditado: “Ciro morre pela boca”.

No meio disso tudo, todos os outros candidatos (não levo Guilherme Boulos a sério, registre-se) que não foram agraciados com o tal “carisma”: virtude principal e única dessas eleições, maná hilariante, alucinógeno consumido em escala industrial.

Geraldo Alckmin é quem mais sofre, mas também Marina Silva e João Amoêdo, Henrique Meirelles e Álvaro dias tiveram suas candidaturas esterilizadas porque não são carismáticos. Porque são apagados. Porque seu discurso não colou.

Pouco importa a substância das respectivas propostas, a trajetória dos postulantes, os feitos ou as ideias. Não são carismáticos. Não se comportam como integrantes do Jackass. Não despertam emoções, nem provocam repulsa ou desejo. Logo, patinam nas sondagens e apagam as luzes dos comitês.

Não os defendo por defender. Apenas noto que, nesse próximo dia 07 de outubro, tudo parece reduzido aos efeitos pirotécnicos que as frases, as caras, as bocas e as polêmicas puderam provocar.

É a memetização definitiva da política.

Não que a política seja muito mais do que isso. Porém, talvez nunca ela tenha sido tão somente isso, como agora. E, pelo jeito, daqui para frente. Fossem outros os presidenciáveis e as condições seriam as mesmas, os requisitos curriculares seriam os mesmos: “O senhor cabe num meme?”

Quem cabe num meme, cabe no Palácio do Planalto.

Daí essa impressão de que só teremos, de fato, segundo turno. Se as pesquisas estiverem corretas, haverá uma espécie de plebiscito sobre o petismo. Ou sim ou não. E, como todo plebiscito, aceita-se ou rejeita-se no todo. Rejeitar o PT é fácil; o difícil é aceitar qualquer outra coisa. José Dirceu anda abanando o rabinho de alegria.

Isso quer dizer, portanto, que optar por Jair Bolsonaro no segundo turno é a decisão mais acertada e inquestionável? Talvez. Mas isso quer dizer, acima de tudo, que o esvaziamento de qualquer discussão mais rica e menos polarizada resultou no descarte de todos os candidatos que não participaram desse cabo-de-guerra, mais guerra que cabo, chamado Brasil.

Ficamos numa situação em que até a melhor escolha pode não ser boa o suficiente para afastar a pior escolha.

Jair Bolsonaro insiste numa campanha solipsista, que terminou por afastar de seu campo gravitacional muitos eleitores que não votariam no PT. Seu carisma pecou por excesso; Mourão continua falando mais do que devia, sendo desautorizado em público; Guedes desapareceu do mapa, não sem antes também desagradar o patrão.

O resultado dessa bagunça toda, cheia de som e fúria, é que o eleitorado que se movimenta entre a centro-direita e a centro-esquerda não tem muito o que fazer. Uns anularão, outros votarão nos candidatos nanicos, todos padecerão de uma campanha que não houve.

Cabo Daciolo, simpático e farsesco, a seu modo bastante decente, rege com maestria a orquestra de loucos.

O nonsense faz muito sentido.

 

 

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