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Respeitável público!

No mambembe circo que é nossa disputa eleitoral, os palhaços, trapezistas e prestidigitadores começam a preparar seus números.

Nunca a vice-presidência pareceu contar tanto; não por acaso. Como a única estabilidade de nossas instituições democráticas é a certeza de sua instabilidade, o vice de hoje pode bem se tornar o presidente de amanhã. Vale mais votar pensando no vice, que no titular.

Também se escolhe o vice para confirmar ou variar tendências. O eleitor pode votar num candidato assim, ponderando que o vice será assado. Titular e vice como signos opostos e complementares.

“Sou de Esquerda, com ascendente em Direita e Lua em Centrão.”

Considerem em que situação engraçadíssima Jair Bolsonaro colocou a esquerda: ou ele será presidente, ou, em caso de impeachment, o general Mourão. Nesse sentido, foi jogada de mestre. Só nesse sentido. Luiz Philippe de Orleans e Bragança, membro da família real brasileira, foi preterido na última hora.

O que pode ter sido um erro. O príncipe atrairia votos de indecisos que não se entusiasmam com o excesso de verde-oliva nas fileiras do capitão. Ter um príncipe na república é coisa muito brasileira, seria até simpático.

Com o general, o candidato opta por uma versão extrema de si mesmo, numa campanha cada vez mais autorreferente, que pode atingir o teto eleitoral antes do imaginado. Mas não tem nada não: se ele perder, a culpa será das urnas eletrônicas.

Enquanto isso, Geraldo Alckmin fez o contrário: convidou Ana Amélia, mais conservadora do que ele próprio, para dar colorido a seu eleitorado. Talvez atrair indecisos que pendiam por Bolsonaro. Em contrapartida, sua aliança com o Centrão, em nome de minutos de tevê e meses de governabilidade, pode se transformar, na prática, no mais absoluto desgoverno.

Se Alckmin pretende governar com a ajuda do fisiologismo de centro, pode acabar não governando em virtude do mesmo fisiologismo, do mesmo centro. O Centrão faz as vezes do poder moderador, que vale mais que os três poderes de fato. Cada minuto de tevê é um cargo, uma secretaria, um deputado. Pode faltar merenda.

Marina Silva, que escolheu o simpático Eduardo Jorge como vice, continua a brincar de esconde-esconde com seu eleitorado. Depois ela reclama que na festinha de aniversário ninguém comparece.

Guilherme Boulos pode ficar desmarcado, na cara do gol, porque dele a natureza cuida. Zagueirão.

João Amoêdo ainda é café-com-leite na brincadeira. Nem deu tempo de se corromper.

Henrique Meirelles prossegue como o superego econômico de todos os candidatos. Na dúvida, ele participará de qualquer governo para fazer ajuste fiscal, flutuar o câmbio, bruxarias desse jaez.

Álvaro Dias, com esse papo de “vamos refundar a República”, soa tão novo quanto os primeiros testes da penicilina. Apelar à refundação da República, quando muita gente acha que o problema é justamente a fundação da República, é ter a certeza de que não será ouvido.

Ciro Gomes deveria se transformar de vez em “estudo de caso” em cursos de marketing político. Vender seu corpo – em especial, sua grande língua – à ciência. A velocidade com a qual ele implode a própria campanha só não é maior que a rigorosa falta de sentido de suas palavras. Ele fala nada com nada, e fala muito desse nada com nada.

Começou imaginando-se alternativa à esquerda da esquerda. Acreditou que o PT o abraçaria, de uma vez por todas, vem cá meu rapaz. Não foi (de novo) dessa vez. Ciro Gomes parece ter mau hálito eleitoral, ninguém fica muito tempo perto dele. Teve de se contentar com Kátia Abreu como vice, numa candidatura que tende a minguar por isolamento. O que é pior para ele é melhor para nós.

E o melhor, a propósito, fica para o final: Lula, o Candidato de Schrödinger, vivo e morto, livre e preso, mexe as peças do tabuleiro petista, manipula os fantoches, e mostra que a última palavra em matéria de empoderamento é dele. Fez Manuela d’Àvila, emparedada entre o discurso e a irrelevância, abrir mão de sua muito ideológica (cof-cof) candidatura, em nome do bem maior de painho. Lutou como uma garota, desistiu como uma oportunista.

E todo seu orgulho de vereadora mais jovem e deputada mais votada do Rio Grande do Sul haverá de se contentar com a humildade de ser a possível vice candidata de um hoje provisório vice candidato de um impossível candidato preso. É, na prática, como ser o terceiro goleiro de Copa do Mundo. Ele está lá, mas não participa de verdade.

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