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Everyday Is Like Sunday
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Causou celeuma nas mídias sociais e antissociais o vídeo gravado por Gleisi Hoffmann para a tevê Al Jazeera. A senadora convoca o povo árabe, invoca Alá, para que olhem por seu padrinho, Lula-lá na prisão. A reação foi imediata: teve gente dizendo que o PT estaria tramando uma invasão muçulmana no país, um recrutamento do Estado Islâmico ou coisa que se assemelhe.

Só Alá na causa, mas é preciso maneirar no consumo de estupefacientes. Primeiro, porque o “mundo árabe” tem ocupações demais explodindo e decapitando uns aos outros para se preocupar a sério com o mundinho petista. Segundo, porque Glesi falou sobre “juízes parciais” e “devido processo legal”. Se por “mundo árabe” entendermos as autoridades árabes e seus intelectuais, dá para ficar tranquilo: eles sequer compreenderam o que a Gleisi quis dizer com os conceitos de “parcialidade” e “devido processo legal”.

Entretanto, cabe uma nota: que uma senadora da República use seu tempo – regiamente pago por nós – para não fazer outra coisa que não a defesa de Lula, isso é grave e passível de sanção. A conferir.

Eu disse que cabia uma nota, mas cabem duas: que Gleisi, do jeito dela, “convoque” autoridades doutros países para de alguma forma interferirem no nosso, mesmo que diplomaticamente, não me parece, como eles dizem mesmo?, “republicano”. Por muito menos todos berram que os EUA se metem onde não são chamados.

De todo modo, compreende-se: elas estão descontroladas.

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Morrisey disse coisas não muito agradáveis:

 

1 Que Hitler era de esquerda

2 Que Londres está indo para o buraco com seu prefeito vagamente alfabetizado

3 Que o racismo virou um jeito de acusar por acusar e mudar de assunto

 

Sobre Hitler, a tese é interessante e gera controvérsias. Há autores que filiam Hitler à esquerda, e isso não é exatamente maluquice. Estatismo, dirigismo… revolução.

Sim, porque o nazismo foi uma espécie de “revolução para trás”, uma tentativa de romper com a ordem estabelecida (ou que aos poucos se estabelecia: liberal e burguesa, aberta) para voltar a uma espécie de paganismo racial (fechado e autorreferente).

Em suma, um revolucionarismo reacionário: romper com tudo (e aqui, de esquerda) para voltar ao paraíso perdido (e aqui, de direita). Hitler foi, ainda é, caso para estudo.

Mas o cantor britânico não parou em Hitler e avançou em questões bem impertinentes. Ele, que sempre foi antimonarquista e, a seu modo, de esquerda, não vê com bons olhos a histeria a respeito do racismo, em particular, e do politicamente correto, em geral.

De repente, tudo é racismo (ou machismo, ou xenofobia). O racismo, no debate, virou uma espécie de toque de recolher argumentativo: acusado de racismo, o debatedor cai imediatamente em descrédito. Enquanto isso, nos subúrbios de Londres e Paris, nas cidades de primeiro e terceiro mundos, o obscurantismo avança.

Ponto para Morrisey.

*

Jack White, o mais criativo e interessante roqueiro do planeta, deu longa entrevista à Rolling Stone. Aquelas perguntas “like a Rolling Stone”, se é que vocês me entendem. Lá pelas tantas, o guitarrista fala de sua admiração por Jordan Peterson, psicólogo canadense que têm feito barulho e provocado ódios da imprensa mais à esquerda.

O fazedor de perguntas – também conhecido como jornalista – rebate, elencando todas as – palavras dele – “bravatas” do pensador contra feministas, ideólogos de gênero etc. Pecado, pecado. White mudou de assunto.

Impressiona como a imprensa foi tragada, absorvida, cooptada pela agenda politicamente correta. Na entrevista, a pessoa que importa é Jack White, não o entrevistador. Se o entrevistado dá opiniões e manifesta admirações, isso é com ele. Cabe ao entrevistador registrá-las e transmiti-las fielmente, tanto quanto possível.

Cada vez mais a imprensa mostra estar aos pés de pressões ideológicas rasteiras e restritivas. Cada vez menos a imprensa mostra sua relevância e zelo pelo debate livre.

Ponto para White.

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