Gustavo Nogy

Gustavo Nogy
Falsos dilemas
- [15/07/2019] [16:52]

- [15/07/2019] [16:52]
Muito mais – ou, pensando bem, muito menos – do que o debate entre direita e esquerda, o que temos no Brasil, desde 2014, é uma rinha de galo retórica entre esta direita e aquela esquerda. Entre Lula e Bolsonaro. Ou, para resumir e reduzir, entre o lulopetismo e o bolsonarismo. É a simplificação de uma dicotomia já simplória em si mesma, em que um lado se define por sua oposição ao outro.
Para a esquerda, Lula é a única coisa que resta; é luz na escuridão. Não há ideias, não há propostas, não há candidatos nem líderes melhores ou possíveis. Para a direita, tudo o que não é Bolsonaro só pode ser Lula; o que não admite fanatismo e adesão plena só pode ser covardia e moderação indesculpável. Em lugar da prudência de Aristóteles e da disposição conservadora de Oakeshott, sturm und drang.
As críticas ao presidente eleito são quase sempre respondidas com a pergunta: “Você queria o Fernando Haddad?” Suspiros. Mais suspiros. Pondero que fazer do PT a régua com a qual se mede a política, no fundo, é um jeito de manter o PT vivo como nunca. Não, eu não queria o Fernando Haddad, distinto público. Por isso não votei nele. Mas a eleição acabou, não acabou?
Acabou, o governo começou, não vou criticar a Marina Silva nem bater no Marcelo Freixo. Ao contrário de uns e outros, eu não me isento: dou a cara à tapa e fiscalizo quem hoje tem a bic. Faço o que sempre fiz quando os personagens eram outros. Vida fácil é perder tempo reclamando do Geraldo Alckmin que comenta saúde no Ronnie Von, ou do João Amoedo enquanto dá testemunho das verdades do Novo como se fossem as de Jeová. Ser poupado de críticas é o amargo prêmio de quem não foi eleito.
De repente, cobram de mim não apenas as críticas ao Lula e ao PT (estão nos arquivos; procurem), mas também aos terroristas do 11 de setembro, ao golpe do Getúlio Vargas, ao estilo literário de Pero Vaz de Caminha, às libertinagens do imperador Calígula, à ingratidão do Judas Iscariotes e aos modos nada democráticos de Tutancâmon, que não respeitava o estado de direito e as garantias da Constituição cidadã de mil trezentos e tantos antes de Cristo. Eu queria ter nascido há dez mil anos, mas não nasci. Critiquei quem pude.
Então a saída consiste em pesquisar e se lembrar de que o país tem história, o comentarista tem biografia, os políticos – Lula, Bolsonaro, Getúlio Vargas, Tutancâmon – têm carreira e já fizeram ou deixaram de fazer coisas, e confessaram ou omitiram seus pecados ao padre ou ao eleitor. Nem tudo começou agora, neste exato instante, só porque agora, neste exato instante, a audiência tomou conhecimento da existência do político criticado ou do comentarista que critica. Meu passado, sinto dizer, não me condena.
O advento da internet (que agradeço) criou uma espécie de “presente contínuo”. A volatilidade dos interesses é tão alta, o entra-e-sai nos sites, blogs, aplicativos, plataformas e redes sociais é tão desnorteante, a concentração é tão pequena, a audiência é tão rotativa, que o leitor tem a impressão de que o mundo começa agora, quando os olhos distraídos miram naquele texto em especial. No texto de hoje, no de ontem, no máximo no da semana passada.
Comentários [ 8 ]
SILVIO JORGE MONTEIRO CONDE
± 0 minutos
Mais do mesmo, querendo justificar o injustificável. Assuma e pronto!
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Admar Luiz
± 13 horas
Essa dicotomia lulopetismo/bolsonarismo é narrativa criada por articulistas tipo esse que escreveu o texto acima de botar todos no mesmo ****. Eu votei no Bolsonaro, nem por isso sou bolsonarista fanático. Sei distinguir a figura do presidente a do homem comum com suas virtudes e defeitos. Por tanto não me venha com digressões falsas que todos que apoiam este governo são fanáticos radicais. A maioria não é. As manifestações, as passeatas expontâneas dizem isso. A esquerda e os apoiadores do Lularapio estes sim são radicais. Pregam o nós contra eles, não toleram a divergência e se pudessem poriam todos os que eles consideram de direita no paredão. No non è vero?
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Sartan
± 12 horas
O rotulo só serve para os outros para mim só a santidade. hipócrita.
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Anne Lyse Barbosa de Melo Cézar Cansian
± 13 horas
Bolsonarismo e lulopetismo, em sua essência, são igualmente cegos.
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Anderson
± 15 horas
Excelente texto. Ainda assim os bolsonaristas não entenderão. É pecado criticar o mito. E como você bem disse, a régua deles é o petismo. Uma pena! Mesmo após esse claríssimo texto, você será chamado de comunista, esquerdopata e defensor do Lula em 3, 2, 1...
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Zyss
± 21 horas
Sobre o Marcelo frouxo, é bom dar uma olhada no conteúdo do pavão misterioso. Que segundo mostra está envolvido na venda do mantato do Jean wylys. Mas esse assunto é bobinho demais né? Bom mesmo é criticar qualquer palavra dita pelo presidente.
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Zyss
± 21 horas
É um mané mesmo. Se a eleição acabou, então pq não vira o disco? Vc e o tal Mário vivem do terceiro turno. São encheram o ****!
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Sartan
± 12 horas
Porque vocês não deixam querem calar todos que discordam das suas santas opiniões a qualquer custo
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