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Grande Prêmio de macartismo sexual
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Há (muitos) lugares no mundo em que mulheres são estupradas, vendidas, compradas, punidas quando estupradas, punidas quando resistem ao estupro. Não raro são mutiladas, espancadas, forçadas a abortar, forçadas a ter filhos, forçadas a casar-se, impedidas de casar-se.

Como isso tudo é vulgar e acontece longe demais das capitais, e não consta na bibliografia acadêmica dos departamentos de estudos culturais, a militância feminista tem de se preocupar com outras coisas mais urgentes e importantes como, por exemplo, a dignidade das moças que acompanham os pilotos da Fórmula 1, conhecidas como “grid girls”.

Elas foram salvas de trabalho degradante e em condições insalubres e de alta periculosidade: na F1 não haverá mais “grid girls”. Se foram consultadas eu não sei, mas sei que isso representa, sim, muito da opressão que têm sofrido as mulheres.

Não da opressão dos machos, pilotos e demais envolvidos, sobre as mulheres; mas das mulheres, ou de certos grupos que agora são os representantes legais, morais, intelectuais de todas as mulheres. Mulher não pode ser tutelada por machos; só por outras mulheres. Esta é a nova ordem.

Num artigo para o site Estado da Arte, capitaneado por Eduardo Wolf e Marcelo Consentino, Juliana de Albuquerque coloca a questão nos termos devidos:

Reservo a mim, e a mais ninguém, o direito de ponderar sobre as minhas reações e aceitar os riscos intrínsecos às minhas opções, estejam elas vinculadas ou não à experiência do meu corpo e da minha sexualidade, e dessa forma exerço minha autonomia.

A nova ordem comportamental lembra muito outros tempos, em que tudo o que não fosse liberal seria comunista, tudo o que não fosse americano seria soviético, tudo o que não fosse azul seria, necessariamente, vermelho. O macartismo agora é sexual e, ironicamente, consegue ser mais autoritário e rigorista que qualquer conservadorismo de antanho.

Há não muito tempo, quando imaginávamos um tipo verdadeiramente moralista, desses tipos caricatos, que se escandalizam com toda e qualquer liberdade ou menção à liberdade sexual das mulheres, ele tinha feições de religioso puritano, antes protestante que católico, em geral misógino e, quase sempre, hipócrita: negava em público – e ao público – os vícios que praticava em privado. Hoje esse tipo se transformou, e está cada vez mais parecido com uma ativista enragé . O tempora! O mores!

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