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Qualquer semelhança é mera coincidência.
Qualquer semelhança é mera coincidência.| Foto:

A ministra e presidente do STF, Cármen Lúcia, em pronunciamento à TV Senado falou falou falou e não disse nada de muito relevante. A impressão que se tem é que ela tratou de assoprar antes da mordida. In verbis:

Vivemos tempos de intolerância e de intransigência contra pessoas e instituições. Por isso mesmo, este é um tempo em que se há de pedir serenidade. Serenidade para que as diferenças ideológicas não sejam fonte de desordem social.

Pois é. Se vivemos “tempos de intolerância e de intransigência contra pessoas e instituições” isso se deve, desafortunadamente, ao desapreço com que ministros, juízes, advogados, políticos e demais primos de segundo-grau da República tratam as tais “pessoas e instituições”.

O que será decidido no dia 04 já deveria ter sido decidido antes da Páscoa. No entanto, um ministro ficou exausto, o outro tinha compromisso, o terceiro foi comprar os ovos de chocolate, e todos acharam realmente muito democrático e republicano empurrar com a toga o que o povo já não consegue mais engolir.

O affair Lula tem sido tratado com todo o casuísmo de que o mau direito é feito: o casuísmo a que estávamos acostumados, quando bichos antediluvianos como Sarney e Maluf andavam livremente sobre a terra, casuísmo segundo o qual quem pode mais sempre chora menos.

Temo que a Lava Jato, depois de tantas esperanças vãs, pode não ter sido mais que um encantamento frustrado do cidadão com a justiça. Um beijinho, um verão, a vida real.

Na próxima quarta-feira, muito provavelmente com o voto de Rosa Weber, saberemos o sentido exato dessa fala de Cármen Lúcia. A conferir.

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2018 é o novo 1964? Em entrevista ao Estadão o general da reserva Luiz Gonzaga Schroeder Lessa foi taxativo: se a bagunça continuar – e continuar para favorecer um condenado –, não restará alternativa, às Forças Armadas, a não ser intervir.

Se acontecer tanta rasteira e mudança da lei, aí eu não tenho dúvida de que só resta o recurso à reação armada. Aí é dever das Forças Armadas restaurar a ordem. Mas não creio que chegaremos lá.

Não sei o quanto há de blefe nessa declaração, mas sei que, desde o segundo mandato de Dilma Rousseff, nunca o clima foi tão perigosamente propício aos apelos militares. E isso não é culpa da “direita” não.

O que está em jogo, e tem provocado reações cada vez mais exaltadas, é a percepção de que o entendimento da Suprema Corte depende de quem é réu. Toda a discussão doutrinária e jurisprudencial sobre a prisão depois da segunda instância só tem acontecido porque Lula é réu, condenado em segunda instância, ponto.

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Ressalte-se ainda que são três questões importantíssimas em pauta. A primeira: se condenados em segunda instância podem ser e permanecer presos, até que se esgotem os recursos. A segunda: se o “Princípio Lula” valerá somente para ele ou será extensivo a todos os outros (E o Aécio Neves? E o Eduardo Cunha?). Por último: se Lula, prisão à parte, continuará inelegível ou dará um dibre também na Lei da Ficha Limpa.

E a Cármen Lúcia nos vem pedir serenidade…

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Os tiros contra o circo ideológico mambembe do ex-presidente e atual condenado causaram certo estranhamento. Há quem diga que, se tivessem sido disparados contra o ônibus em movimento, deixariam rastros bastante diferentes daqueles círculos tão perfeitinhos que lá estão. Com a palavra, os peritos.

(Aliás, todo mundo estranhamente quieto. Deveriam estar fazendo mais barulho.)

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Diálogo com petista empedernido, dias atrás:

– Lula foi o maior presidente do país, e só não continuou porque é nordestino, tiraram ele de lá.

– Mas ele foi eleito e reeleito, não estava bom? Um mandato a mais e teria sido ditador.

– Merecia ficar mais tempo. Colocou o país no mapa…

– …da corrupção, como nunca. Merece é ser preso.

– Não tem prova nenhuma contra ele.

– Tem.

– Não tem!

– E contra Temer, tem? –

– Tem!

 

Tudo isso é mistério da fé.

 

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