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Adolph Reed (divulgação)
Adolph Reed (divulgação)| Foto:

Em maio último, o professor Adolph Reed, da Universidade da Pensilvânia, falaria aos Democratas Socialistas da América (DSA), em Nova Iorque, a propósito de uma agenda comum e possível aos progressistas na era de Trump.

Falaria.

A palestra foi discutida, boicotada e por fim cancelada pelos próprios integrantes do movimento. Tudo porque Adolph Reed defende posições hoje tidas como politicamente incorretas pela nova esquerda.

Mas quem é o perigoso Adolph Reed? Um ativista político e teórico negro, nascido em Nova Orleans, de formação marxista e insuspeito de veleidades conservadoras.

O pecado de Reed é que sua abordagem dos problemas sociais é mais classista que racial, mais materialista que cultural. Para ele, a esquerda se perdeu em discussões bizantinas e mutuamente excludentes, e os trabalhadores ganhariam mais se percebessem as dificuldades que têm em comum, a despeito de suas diferenças étnicas.

Diagnóstico parecido ao de Mark Lilla, intelectual e professor da Universidade Columbia, democrata convicto e sofisticado o bastante para ser lido com proveito por conservadores e liberais.

No livro O Progressista de Ontem e o do Amanhã (Cia das Letras, 2017), Lilla confessa a frustração com os rumos do liberalismo (à americana) no século XXI. Ele nota que, enquanto o site do Partido Republicano exibe um orgulhoso e por todos compreensível patriotismo, calcado em declarações fortes e abrangentes, o equivalente do Partido Democrata é um mostruário de micro discussões que interessam a grupos que não conversam entre si, e nem mesmo têm uma noção objetiva de comunidade política.

Que a esquerda cultive suas muitas divisões internas, é sabido por qualquer curioso da história das ideias. Isso não é necessariamente ruim. Mas a recente intersecção entre a cultura de cancelamento e o identitarismo do lugar-de-fala chegou às raias da loucura, pura e simples, e está prestes a inviabilizar qualquer debate público relevante.

Esse tipo de atitude, mais próxima da censura e do obscurantismo que da liberdade e do progresso, já impedia que esquerda e direita se entendessem sobre os bens maiores que seu próprio umbigo ideológico; agora inviabilizará o debate no âmbito da própria esquerda. O resultado é previsível.

A tendência é que grupos extremistas, à direita e à esquerda, aproveitem o espaço desocupado e imponham um discurso preto-no-branco (ops!) e destrutivo.

Neofascistas de um lado, neocomunistas de outro, os bárbaros costumam se aproveitar da pusilanimidade alheia para saquear os valores mais caros à civilização. É o que está acontecendo e precisa ser discutido agora. Mais tarde será tarde demais.

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