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O labirinto de Hollywood
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The Shape of Water (A Forma da Água) e Guillermo Del Toro receberam os prêmios de melhor filme e diretor. Não surpreende; decepciona.

Ou nem decepciona mais. Filmes são, como quase toda obra de arte, forma e conteúdo. Sim, eu sei, essas definições são mais complexas do que parecem, mas vocês percebem aonde quero chegar.

Para fins de conversa, aceitemos a simplificação.

Ocorre que, cada vez mais, já não há forma (como o filme é feito) e conteúdo (de que o filma trata), mas principalmente contexto. Intenções. Bons ou ruins, filmes têm de ser bem-intencionados. Se forem bons, tanto melhor.

E mais: não basta que sejam bem-intencionados. Têm de ser produzidos por gente moralmente boa, de acordo com os padrões estritos (risos) e dos valores (gargalhadas) da Academia.

Del Toro é um cineasta de imaginação fértil e linguagem muito própria; ele faz hoje o que Tim Burton fez nos anos 90; entretanto, como Burton, o diretor mexicano parece hipnotizado pela própria imaginação: já não distingue bem ficção de realidade ou, no caso, filme bom de filme ruim.

Não chego a dizer que A Forma da Água é ruim, ruim; mas é derivativo. É um Del Toro sem a surpresa e, principalmente, sem o vigor – e, aqui sim, justamente político – de El laberinto del fauno (O Labirinto do Fauno). Ou sem a graça de Hellboy.

O que se lamenta é que a politização do Oscar veio para ficar. Tudo remete à política, às questões de representatividade, de equiparação salarial etc. Não que tais questões não possam ser colocadas em pauta. Podem. Devem.

Não podem, não devem, entretanto, ser o critério com que se julgam filmes. Filmes são filmes: obras de arte ou que se pretendem obras de arte.

A Forma da Água é um apanhado de clichês políticos e poéticos (e visuais, no caso da filmografia do diretor) que serve para passar o tempo, não mais que isso. Se quisessem premiar filmes políticos de fato bons, premiassem Darkest Hour (O Destino de uma Nação; ao menos Gary Oldman venceu) ou, naturalmente, Dunkirk. 

Este sim, Dunkirk, será lembrado como o grande filme do ano. Talvez da década. Filme com cara de filme, com pretensão a cinema. Filme-manifesto de Christopher Nolan: o cinema ainda é possível no tempo do streaming e das telas e pretensões estéticas em miniatura.

Os outros manifestos são apenas isso: manifestos.

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