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Battisti logo após a prisão na Bolívia. Reprodução/Twitter/Polizia di Stato
Battisti logo após a prisão na Bolívia. Reprodução/Twitter/Polizia di Stato| Foto:

“Conheci Cesare Battisti e li muito sobre o processo que levou à sua condenação. Acredito que 99% das pessoas que o atacam o fazem porque desconhecem os detalhes do processo ou porque odeiam ativistas de esquerda. Creio na inocência de Cesare. Espero que a Bolívia não o extradite.”

Essa foi a generosa sentença proferida em 13 de janeiro por Juliano Medeiros, presidente nacional do PSOL, juiz para si mesmo sonhando, homem que ausculta os corações e lê a borra de café dos processos criminais.

Pois a Bolívia o extraditou. Extraditado, Cesare Battisti, o queridinho da esquerda tropical, resolveu confessar o que não precisava ser confessado – posto que provado já estava: participou, sim, do assassinato de quatro italianos. Comoveu-se. Pediu desculpas às famílias. Talvez devesse pedir desculpas também ao Juliano Medeiros, por frustrar suas expectativas e obriga-lo a uma inconveniente errata.

A confissão do terrorista italiano encerra uma das mais longevas temporadas ainda em cartaz do espetáculo mambembe protagonizado por gente como Lula, Boulos, Manuela, Gleisi, Genro, Zé de Abreu e grande elenco: aquele em que o bandido é o mocinho e mocinho nenhum entra na história.

Vem bem a calhar a entrevista do cientista político alemão Jan-Werner Mueller, no caderno Aliás, do Estadão, sobre o recrudescimento do discurso antidemocrático e a ascensão de líderes populistas.

Embora o autor do livro What Is Populism seja ponderado o suficiente para não cair na facilidade de identificar populismo autoritário com qualquer versão da direita, toda a conversa gravita em torno desse polo ideológico, que junta nomes como Donald Trump, Viktor Orbán e, claro, Jair Bolsonaro, num mesmo balaio.

Há, de fato, semelhanças entre eles, e entre eles e governos autoritários históricos: o incentivo à divisão, o apelo ao nacionalismo, o desprezo à democracia representativa e a crença na comunicação direta com o “povo”, que será sempre um certo povo – o nosso povo. Os outros não são povo; são apenas os outros.

No entanto, importa registrar que semelhanças e caraterísticas comuns não significam que o destino dos respectivos países seja também comum. A resiliência das instituições, a tradição democrática, o dinamismo social, a força dos mercados, a coesão da cultura e a rebeldia da imprensa tendem a frear ímpetos menos amistosos à liberdade.

Por outro lado, o affair Battisti – e Fidel, Che, Chavez, Maduro… – ilustra bem as verdadeiras intenções de muitos dos que hoje se arreganham e dizem se preocupar com o autoritarismo de direita. O assassino italiano é apenas um, entre tantos e tantos exemplos, de como a esquerda instrumentaliza os direitos humanos, trata a democracia como jogo de azar, ajusta a narrativa histórica e bajula o que há de menos humanista em política.

Não custa lembrar que o padrinho de Cesare Battisti no Brasil foi o ex-presidente e atual condenado Luiz Inácio, ele próprio alpinista social e golpista político, gângster que privatizou o Estado e o transformou num puxadinho de sítio em Atibaia.

A democracia corre perigo, sim, e não só ela: a civilização é um arranjo fragílimo que se arrebenta fácil, ao menor piparote. Os bárbaros sempre estão defronte os portões, eles chegam de todos os lados. Desafiar o Parlamento e afrontar a imprensa são atos tão graves quanto comprar o Parlamento e manipular a imprensa. Esquerdista nenhum, dos que andaram pedindo conselhos a corruptos e ciceroneado homicidas, tem do que reclamar.

É o trapo que reclama do rasgado.

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