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Foto Daniel Beltrá/ Greenpeace
Foto Daniel Beltrá/ Greenpeace| Foto: © Daniel Beltrá / Greenpeace

Algumas semanas atrás, um irreverente Jair Bolsonaro desmarcava reunião com o chanceler francês, Jean-Yves Le Drian, para fazer coisa muito mais importante: cortar os cabelos, com direito a transmissão ao vivo. Tudo muito engraçadinho e espontâneo.

O problema é que o mundo dá voltas espontâneas – nem tão engraçadinhas – também em geopolítica: agora, o presidente Emmanuel Macron é quem ameaça, digamos, desmarcar o encontro com o Brasil no acordo entre Mercosul e União Europeia. Chegou a sua vez de cortar os cabelos – ou, mais precisamente, as asinhas – do governo brasileiro.

A crise que se avizinha tem como causa próxima o notório descaso de Bolsonaro ante os problemas ambientais. Seu discurso é diversionista. “Questão ambiental é para veganos que só comem vegetais”. Sua atitude parte de uma visão atrasada do que seja desenvolvimento e chega à crítica da “psicose ambientalista”, numa espécie de pororoca ideológica em que um mar de ignorância encontra um rio de conspiracionismo.

Não se sabe ainda, com certeza, a origem e a extensão das queimadas na Amazônia (os dados têm sido discutidos e contestados de lado a lado), mas que acontecem, acontecem. E que o ideário do Ministério do Meio Ambiente sugere um desmonte do que havia de preservação, sugere. Daí a reação global ser compreensível, descontada a taxa de hipocrisia e o alarmismo de costume. Afinal de contas, há problemas nacionais que são problemas globais e, sobretudo, intergeracionais. Interessam não somente a outros países, mas a outras gerações.

Tudo considerado, a posição francesa é oportunista, mais do que propriamente oportuna? Pode até ser. Porém, se os europeus precisavam de uma justificativa qualquer para melar o acordo de livre comércio, ou mesmo impor novas e mais duras condições, encontraram na verborragia presidencial a queimada, minto, a tempestade perfeita. O jogo do comércio é jogado exatamente dessa forma. País nenhum, Brasil incluso, gosta de abrir suas fronteiras sem alguma contrapartida, ou sem ter a garantia de que as condições serão iguais ou equivalentes a todos.

Ora, se o Brasil não admite respeitar normas sanitárias, trabalhistas ou ambientais, os outros países tampouco admitirão. Ou, o que é pior, não admitirão o Brasil no acordo. O clube dos mais ricos é mesquinho. E de nada adiantam os devaneios retóricos do presidente, de seus filhos, de seus ministros, pois é preciso combinar o preço com os russos. Os franceses. Os alemães. Os ingleses.

Quem lacra não lucra, não é mesmo?

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