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Foto Arquivo/ Tabata Amaral
Foto Arquivo/ Tabata Amaral| Foto:

A deputada Tabata Amaral é jovem, inteligente e, até onde se sabe, honesta. Pobre, nascida e criada em periferia, aproveitou as oportunidades que teve – no Brasil e no exterior. Poderia ter feito a vida nos EUA e se transformado numa “protoneoliberalzinha de merda”, mas estudou ciências políticas e fez o ingrato caminho de volta. De certo modo, experimentou e soube lidar com dois dos princípios mais caros à esquerda e à direita. Se a direita prega as virtudes do esforço e do mérito, ela os teve; se a esquerda ensina que o mérito depende de oportunidades, ela as aproveitou.

Elegeu-se pelo PDT, sob a bênção de Ciro Gomes, e fez mais do que muito deputado teria feito em poucos meses de mandato. Pressionou Ricardo Vélez Rodríguez, então ministro da Educação, com a mesma firmeza com que tem pressionado o ministro Abraham Weintraub. Exigiu de ambos um projeto mais claro, uma proposta de gestão – metas, dados e números. Tinha tudo para ser a heroína de uma esquerda moderada em seus métodos e modernizada em suas convicções.

Até que a pauta da reforma da Previdência veio à tona. Tabata Amaral ponderou, debateu, estudou o assunto e, razoável como é, apoiou o projeto mais amplo. Ela sabe que o sistema é deficitário, que as contas estouraram, que o país está perto do colapso fiscal, que a folha consome quase todo o orçamento. Fez suas ressalvas, apresentou suas emendas ao texto-base. Fiel à própria consciência, não aceitou tudo como estava. Apoiou no atacado, criticou no varejo.

Pois isso bastou para que fosse suspensa do PDT, sob a maldição do mesmo Ciro Gomes. E foi também suficiente para que merecesse os ataques furiosos de uma esquerda que se quer nova, novíssima, porém é gagá como a velhinha de Taubaté. Esquerda recheada de autoritários como o próprio Ciro, além de Boulos e Hoffmann, mas também por abobados intelectuais que infestam mídias e redes, gritam Lula Livre, acham Bacurau uma crítica relevante ao imperialismo e entendem de economia tanto quanto os terraplanistas manjam de astronomia.

Tabata Amaral não está acima de críticas. Ser jovem, ser pobre, ser estudiosa não faz de ninguém santo. O que impressiona é que ela tem (ou tinha) tudo para representar uma esquerda assim melhorzinha, que houvesse percebido o momento de deixar certas pautas e certas causas pra lá e seguir em frente. Uma esquerda que fosse mais FHC que Lula, mais Gabeira que Boulos, mais Marina que Haddad. Em vão. Tanto os monstros pré-diluvianos encalacrados no PT, quanto os guerreirinhos de Vila Madalena empoleirados no PSOL desprezam em Tabata tudo aquilo que eles não têm: uns miolos na cabeça e alguma vergonha na cara.

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