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"A Onda" ("Die Welle"), filme alemão de 2008. Dirigido por Dennis Gansel
"A Onda" ("Die Welle"), filme alemão de 2008. Dirigido por Dennis Gansel| Foto:

Estes são os meus princípios. Não gostou? Tenho outros.

– Groucho Marx

 

Jair Bolsonaro e sua trupe não se aguentam no espartilho democrático, e as gordurinhas autoritárias escapam aqui e ali. Quando têm chance, uma chancezinha sequer, disparam barbaridades e inconveniências nada republicanas.

Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores que não gosta dos exteriores, titubeou quando perguntado sobre as semelhanças entre Venezuela e Coreia do Norte. Disse, sem corar, que são situações diferentes e não devem ser comparadas. Para o chanceler, Venezuela é uma ditadura brutal; Coreia do Norte não é para tanto.

Fiquei abismado, qualquer vivente neste planeta teria de ficar abismado, mas tem faltado abismo para tanta gente. E, se calhar, ninguém se abisma com mais nada. Embora o regime de Maduro seja, de fato e de direito, uma ditadura brutal, nada se compara ao sombrio totalitarismo instalado na Coreia do Norte.

Araújo pelo jeito não quis desagradar o alaranjado líder americano para quem nossos patriotas batem continência, nesse fervoroso patriotismo de bandeira alheia. O engraçado é que um possível (provável?) fracasso nas negociações entre EUA e Coreia do Norte, entre Donald Trump e Kim Jong-un, fará com que o ministro, muito convicto de suas convicções, troque essas por outras, bem rapidinho. Aguardem.

Falando em autoritarismo, Jair Bolsonaro aumentou sua excêntrica lista de grandes estadistas e homens de visão. Se já admirou Hugo Chávez, se ainda admira Brilhante Ustra, se para sempre admirará a ditadura militar, agora achou por bem elogiar o paraguaio Alfredo Strossner. Curriculum vitae: assassinatos, prisões, tortura, estupro de criancinhas. Ah, sim, ele ajudou o Brasil na hidrelétrica de Itaipu. Está justificada a homenagem ao “nosso general”.

De general para juiz, de juiz para ministro, de ministro para boneco de ventríloquo é um pulo: Sérgio Moro, herói nacional, nomeou a cientista política Ilona Szabó para a suplência de um cargo consultivo, não deliberativo e não remunerado, no Conselho Nacional de Política Penitenciária. Eles se conheceram em Davos, conversaram sobre política de segurança, entenderam-se muito bem, obrigado. Foi uma ótima escolha: demonstra sua vontade de entender e compartilhar outras visões sobre o gravíssimo problema da segurança no país.

O problema é que Sérgio Moro se esqueceu de combinar com os russos.

Tão logo anunciada a nomeação, os bárbaros digitais barbarizaram, os conspiracionistas conspiraram, as mídias antissociais exigiram e, muito prontamente, o destemido presidente desautorizou a autorização, trocou a carta branca pela carteirada e mandou que Moro, cavalheiro da triste figura, voltasse atrás. Moro enfiou a viola no saco, publicou nota para justificar a anedota e desconvidou a convidada.

Bolsonaro não gosta, não admite, não aceita o contraditório. Qualquer opinião que não seja a sua – ou a de seus filhos – é um desserviço à pátria amada Brasil. Eles têm alergia ao civilizado debate público.

Reagir com prontidão à grita do eleitorado – digital, amorfo, anônimo – é aceitar uma versão perigosa e bastante vulgar de democracia direta. O desprezo pelas ideias de processo, constitucionalismo, mediação representativa e garantias individuais trai as verdadeiras intenções de quem as despreza. Reacionários estão muito mais próximos de revolucionários do que imagina nosso vão bolsonarismo.

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