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Raul Seixas
Raul Seixas| Foto:

Leonardo Sakamoto fez a leitura certa: o boicote do Partido dos, aspas, Trabalhadores à cerimônia de posse de Jair Bolsonaro é tudo o que o presidente queria do Papai Noel. PSOL e PC do B também prometeram boicotar, mas PSOL e PC do B não contam na fila do voto.

Não que Bolsonaro precisasse, porque ele parece ignorar essas preocupações. De todo modo, como político que fez propaganda de negar a política, para seu governo é ótimo galvanizar ainda mais o discurso acirrado de campanha e reativar o ímpeto eleitoral, depois de tantas trombadas e mal-entendidos no período de transição.

Enquanto isso, pela enésima vez, o PT acredita no simbolismo do boicote. Eu também acredito. É mesmo simbólico que eles não reconheçam o resultado das urnas, bem como não reconheceram (e não assinaram) a Constituição de 88, a mesma que agora dizem ter sido desrespeitada. Tudo é golpe. Como garoto que não sabe jogar, o petista quer furar a bola quando não é escolhido.

E tudo é conveniência política – ou, mais precisamente, conveniência partidária. A política serve como truque para distrair a atenção das colisões entre o partido e a democracia. A Constituição é uma obra aberta, que pode ou não ser obedecida, que deve ou não ser observada, a depender das flutuações do mercado de propinas, das decisões da Suprema Corte, dos alvos da Lava Jato, dos tornozelos com sapatinho eletrônico.

Ao assumir, mais uma vez, a posição que ora assumem, os legítimos perdedores legitimam implicitamente o discurso (também equivocado, a seu modo) de Bolsonaro e respectiva militância, quando estes alardeavam que não reconheceriam a derrota, caso suas teorias da conspiração se confirmassem. As teorias não se confirmaram: ele ganhou, levou e assumirá.

O PT e os partidos que lhe servem de reboque naufragam na canoa do lulismo. Toda a esquerda brasileira queda, mesmerizada, diante da efígie de Luiz Inácio. Este, por sua vez, pouco se importa com esquerda, direita, democracia, Constituição, Brasil e qualquer coisinha que não seja ele mesmo.

Às vezes, por uns breves minutos, me pego a lamentar o fato de existirem pessoas dispostas a fazer vigília de Ano Novo pelo Lula. Então me dou conta de que é bom que exista um Lula preso no Ano Novo, para que pessoas idiotas a esse ponto estejam dispostas a fazer vigília por ele.

Tudo caminha para um fim muito simbólico, como tanto deseja e merece o PT.

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