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Liderança
Liderar compreende entender pessoas, saber perguntar, saber ouvir e saber se colocar no lugar do outro.| Foto: Katemangostar / Freepik

Em meio a discussões sobre o risco de as ferramentas de inteligência artificial “roubarem” os nossos empregos, eu pergunto: seria a inteligência artificial capaz de LIDERAR equipes com a competência de um humano? E, para responder, eu faço algumas considerações.

Liderar é muito mais do que, simplesmente, atribuir tarefas a um grupo de pessoas e cobrá-las por sua execução e por seus resultados. Liderar compreende entender pessoas, saber perguntar, saber ouvir e saber se colocar no lugar do outro.

Para liderar de forma correta e competente, é preciso conhecer a fundo e respeitar cada ser humano de uma equipe, entender o que cada um sente, o que o motiva, e utilizar este conhecimento para extrair o máximo de sua capacidade.

Para que um time seja capaz de alcançar os resultados projetados por uma empresa, precisa ser formado por um líder que compreenda quais os diferentes perfis profissionais necessários e que coloque cada pessoa no lugar correto, de acordo com as habilidades de cada uma. Mas, mais do que enxergar apenas “peças” que compõem uma equipe, um bom líder enxerga em cada membro do time um ser humano, entendendo suas fragilidades, dificuldades, habilidades e potencial.

Pense no melhor líder que você teve: que memórias você tem a respeito do trabalho que desenvolveu sob a liderança dele? Qual acontecimento marcou positivamente aquela liderança e por que, exatamente, você o considera um líder exemplar? Provavelmente, se você puxar na memória essas lembranças, pensará neste líder como uma pessoa que conseguiu extrair profissionalmente o seu melhor, mas que, sobretudo, conseguiu enxergar você enquanto pessoa.

Logicamente, um bom líder nem sempre agradará a todos, mas, para ser um bom líder, precisa ser justo e correto com todos, tendo, também, a capacidade de reconhecer os seus erros, corrigir rotas e seguir em frente, sempre buscando melhorar - visto que um bom líder não nasce pronto, mas aprende todas essas questões ao longo da sua jornada.

Eu consigo imaginar um algoritmo avançado criando processos, cronogramas e estabelecendo prazos. Mas não consigo imaginar uma inteligência artificial que tenha a capacidade de encorajar alguém, de forma humana, a dedicar-se a uma tarefa e a compartilhar do mesmo propósito do restante de um time.

Eu consigo ver um sistema de IA recrutando pessoas para criar um time e até mesmo, como é comum hoje em dia, fazendo uma pré-seleção de talentos para uma área de gestão de pessoas. Mas eu não consigo ver um sistema de IA impulsionando um grupo de pessoas para transformá-las em uma verdadeira equipe, instigando-as a agirem de forma colaborativa, torcendo umas pelas outras na busca de um resultado em comum.

Corroborando este meu ponto de vista, um estudo da McKinsey publicado no último mês (Julho/23) no portal Statista aponta que, impulsionadas pela IA, a força de trabalho e as habilidades necessárias para um ambiente de trabalho cada vez mais digital passarão, sim, por mudanças significativas: as mais visíveis ocorrerão nas habilidades tecnológicas – como análise de dados e design de tecnologia, programação avançada e habilidades digitais –, mas, por outro lado, haverá também um aumento substancial na demanda por habilidades sociais e emocionais, o que denota a importância da interação humana neste mundo orientado pela tecnologia. Essa mudança também priorizará habilidades cognitivas mais elevadas em relação às habilidades cognitivas básicas.

Este estudo, que analisou dados históricos de 2002 a 2016 nos Estados Unidos e projetou tendências até 2030, sugere que a demanda por habilidades tecnológicas e habilidades sociais e emocionais experimentará crescimento acelerado durante o período de 2016 a 2030.

Portanto, voltando a falar sobre os líderes que lhe inspiram, eu pergunto: quais características esses líderes tinham para conseguir inspirar você dessa forma? Certamente, as características que lhe virão à mente serão aquelas relacionadas às habilidades sociais e emocionais citadas no estudo, como empatia, ao respeito e à humanidade destes profissionais.

E é por isso que, se por um lado, as ferramentas de inteligência artificial estão em constante evolução e continuarão revolucionando, cada vez mais, não apenas a esfera profissional, mas nossas vidas como um todo, por outro, características como a empatia, o senso de ética e moral e a criatividade original se tornam cada vez mais relevantes, especialmente para o exercício da liderança. E estas características, tipicamente humanas, a inteligência artificial ainda não é capaz de copiar.

*Ney Braga Alves é formado em Administração de Empresas com MBAs em Gestão de Negócios e Marketing e Especialização em Gestão Avançada, pela Escola Superior de Administração e Gestão Empresarial (ESADE), em Barcelona. Especialista em gestão de negócios, Conselheiro de administração e Presidente do Conselho deliberativo da ADVBPR.

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