“Eles cobrirão a superfície desta terra em tal quantidade que não se conseguirá ver o chão. Devorarão o que escapou do granizo e ainda todas as árvores que crescem nos vossos campos. Invadirão os teus palácios e as casas dos teus servidores e as casas de todos os egípcios. Será uma calamidade tão grande que os teus pais e os teus avós nunca viram igual, desde que chegaram a esta terra até aos nossos dias.” (Êxodo 10, 5-6 )
Estamos ao final de três meses da tomada de poder pelos gafanhotos que, desta vez, ao contrário do que anunciavam os profetas da democracia, ocuparão com virulência e revanchismo todos os espaços de autoridade e exercício de agência, para que nunca mais haja troca nos comandos relevantes do país, além de dominar de vez corações e mentes com o mesmo propósito.
Vasta é a fome e a sede pelo poder, pelas vantagens pessoais e pelo domínio ideológico, porque não se pode cair na besteira de “repetir os erros do passado”, como já sabemos. Nenhum campo ficará de fora da sanha e educação é o campo de batalha imprescindível, porque conquistar esse território é garantir um futuro sem contestações e disputas custosas pela hegemonia estatal controlada por poucos e leais amigos.
Com base nessa lógica, os gafanhotos do poder não querem permitir que a reforma do ensino médio continue, mesmo já sendo uma lei (13415/2017) votada por ampla maioria em dezembro de 2016 (263 votos favoráveis e 106 contrários) a partir da Medida Provisória 746/16.
Como meus caríssimos e bem informados leitores já sabem, as políticas educacionais brasileiras são quase que certeiramente mal desenhadas e implementadas de modo ainda pior. Existem, sim, raras exceções, principalmente ao se levar em conta apenas um desses vieses: a referida Lei do Novo Ensino Médio é um exemplo de reforma bem desenhada e que alinha nossa política com a de países desenvolvidos. Só que, como quase tudo na educação, é pessimamente institucionalizada e incompetentemente transposta para escolas e salas de aula. É essa suposta fragilidade que está sendo explorada pelo furor gafanhotal nas últimas semanas (já tem outras na fila e vou relatar tudo para as senhoras e senhores aqui).
E por que a extrema esquerda não gosta da reforma? Ganha um doce (o pessoal da Gazeta entrega) quem disser que é porque perdem poder. Um pouquinho só, mas quando se é extremo, nem um pouquinho se entrega ao inimigo, o qual, neste caso, somos nós: a sociedade brasileira e os alunos da última etapa da educação básica. Resumidamente, a reforma pressupõe três grandes motores de mudança:
1) o aumento da carga horária para o ensino médio das atuais 800 horas por ano para 1400, em um período paulatino de implementação que, em 2022, já deveria estar em 1000 horas por ano. Como a etapa, em geral, é composta por três anos, teremos um total de 4200 horas de exposição dos alunos a conteúdos e experiências de aprendizado (isso não incomoda a esquerda porque resulta em mais gente contratada pagando contribuição sindical – professores são muito mais sindicalizados que a média e pagam mais a contribuição ora optativa – mas aguardem novas manobras gafanhóticas nesse assunto);
2) dilui a importância das disciplinas de Humanas no currículo porque, no artigo 3º, a lei diz que a) apenas 1800 horas – das 4200 totais, ou seja, até 43% do total podem ser cobertas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC, que contém todas as disciplinas, incluindo Humanas), além disso, b) durante os três anos da etapa, só é mandatório ensinar Língua Portuguesa, Matemática e Língua Inglesa, o restante do tempo – fora o que é obrigatoriamente ocupado pela BNCC – é usado para ensinar os tais “itinerários formativos” que englobam as mesmas áreas do conhecimento que a BNCC, mas que não precisam ser distribuídos da mesma forma. Ou seja, por exemplo, podemos ter escolas que aumentam mais o tempo na Matemática e Física que nas Humanas. Adivinhem que tipo de conhecimento o mercado de trabalho valoriza mais? Adivinhem que áreas serão mais demandadas? Acho que já deu para entender, mas tem mais!
3) Aumenta também a ênfase em formação técnica e profissional (Halleluyah!), permitindo que os alunos usem sistemas de crédito para contar para aquisição de seu diploma, que professores possam ter formação alternativa, se provarem “notório saber” em área técnica e que as escolas e redes podem fazer convênios para aquisição de conteúdo à distância de entidades de fora do sistema educacional. Perceberam? Uma bomba atômica de liberdade de escolha diretamente nos interesses sindicais! E ainda tem uma cerejinha que é o reconhecimento do magistério em nível médio, para que os alunos que quiserem possam sair formados para dar aulas, o que é uma excelente maneira de preparar professores para educação infantil e elementar.
E por que a extrema esquerda não gosta da reforma? Ganha um doce quem disser que é porque perdem poder. Um pouquinho só, mas quando se é extremo, nem um pouquinho se entrega ao inimigo, o qual, neste caso, somos nós: a sociedade brasileira e os alunos da última etapa da educação básica
Façam as contas aí: vai deixar de cair contribuição na conta do sindicato e vai diminuir substancialmente a ocupação dos alunos em aulas onde mais ocorre a lavagem cerebral para formar militantes na ideologia sindical, as matérias de Humanas (História, Geografia, Sociologia e Filosofia). É só isso. A briga toda é apenas por esse espaço de coleta de recursos e influência ideológica.
Então, fiquem de olho nos argumentos falaciosos. Um deles é de que os alunos vão aprender menos e vão estar menos preparados para ir para a faculdade (e se eles quiserem parar no técnico, ou fazer o técnico antes da universidade? Melhor deixar eles mesmos escolherem, não?). Também tem uma frase de efeito para os alunos que não aceitarem ser dirigidos, mas serem dirigentes: “faz área de Humanas você vira dirigente (sindical, com sorte) rapidinho”.
Vi vários debates no YouTube e há um conto recorrente: a história do brigadeiro, que é de rolar de rir. Os alunos estariam deixando de aprender Física, Biologia e Filosofia para aprenderem a fazer brigadeiro gourmet! É o seguinte: as redes, que já eram péssimas, inclusive com falta de professores nas áreas de Exatas (porque os sindicatos não deixam pagar de acordo com a lei da oferta e da procura) dificilmente se estruturaram para atender às necessidades dos alunos, quer de matérias de Exatas, que leva a melhor remuneração no mercado de trabalho, quer de disciplinas profissionalizantes. O certo seria fazer um matching de demanda do mercado de trabalho com as escolas e proporcionar essas experiências de acordo, pois os alunos se manteriam mais engajados. Mas se as redes já eram incompetentes até para ensinar a ler, escrever e aritmética elementar, imaginem concatenar esse montão de novas variáveis!
Além disso, óbvio, está cheio de picaretas vendendo “projeto de vida” e uns cursos de baixa qualidade, tipo os que eles ofertavam para o FIES (no qual a esquerda não batia porque era do Haddad), ao invés de ensinar uma profissão ou habilidades que levem os alunos a uma vida mais produtiva no pós-escola.
No entanto, basta ler os livros didáticos brasileiros, assistir a umas aulas e ler trabalhos dos alunos para se perceber que o problema não é a reforma, mas a pífia capacidade instalada educacional que nós já tínhamos. Já era tudo muito ruim e de baixo nível antes, agora, pelo menos, há liberdade de escolher e, quando o aluno der sorte de cair na mão de um secretário de educação ou diretor de escola sério, terá à sua disposição um leque (a depender de seu contexto) de escolha bem mais interessante, pragmático e útil do que tinha antes.
Leitores, marquem seus deputados e enviem este artigo para eles! Deputados, a bola está em seu campo, favor não jogar o bebê junto com a água do banho. A reforma é boa, deixem-na como está e cobrem de seus governadores que busquem os melhores cursos profissionalizantes e opções relevantes para construir o Novo Ensino Médio para os alunos de seu estado! Pais, não caiam nessa e fiquem de olho no que a escola de seu filho oferece. Alunos, vocês não são trouxas: brigadeiro gourmet se aprende no Insta, de graça, procure saber o que o mercado de trabalho mais valoriza e cobre da sua escola. Não importa se você quer ir para a universidade, fazer curso técnico ou trabalhar, você tem direito a aprender o necessário para essas opções em sua escola e há muito mais do que as áreas de Humanas, que já estão mais do que saturadas de alunos entediados e formados desempregados.
-
Bancada do agro na Câmara impõe ao MST derrota que pode esvaziar o movimento
-
O que esperar do futuro da Petrobras nas mãos da nova presidente; ouça o podcast
-
TRE-RJ absolve Castro e mais 12 políticos da acusação de abuso de poder político e econômico
-
Quem é Iraj Masjedi, o braço direito da Guarda Revolucionária do Irã, que apoia terroristas no Oriente Médio
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS
Deixe sua opinião