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Balé em cadeira de rodas
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Uma anja de asas pretas despenca do céu e é acudida por um palhaço deslocado no seu próprio riso. Ao tentar ajudá-la, ele a leva para consultar-se com um homem muito bem vestido, com cabeça de macaco. Ou seria um macaco com roupa de homem? Além de parecer ser um cientista experiente, o macaco-homem tem um jeitão de dono do tempo e fica girando uma ampulheta, que regride a idade do palhaço deslocado, que se preocupa muito com a anja de asa quebrada, que passa a andar numa cadeira de rodas.

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Balé e acrobacias sobre rodas: surpresa e beleza em cena

O espetáculo “DNA: somos todos muito iguais”, conduzido brilhantemente pelo grupo Circo Roda, tem exatamente essa proposta de viagem, aparentemente sem pé nem cabeça, mas envolvente, inusitada, recheada de referências e que permite que cada espectador monte o seu próprio roteiro ao longo da peça, ou depois dela.

Os mestres de cerimônia são dois palhaços (o deslocado e o amigo dele), que criaram um idioma próprio, misturando inglês com francês, puxando um pouco de alemão e jogando por cima de tudo isso o bom e velho português, acionado em momentos cruciais, pontuando piadas, ou dando continuidade à narrativa. Acompanhados por uma equipe estupenda de acrobatas, os dois palhaços levam a platéia de uma esquete à outra, sempre sem palavras compreensíveis ao ouvido desavisado, mas com dança e movimentação corporal para bom entendedor nenhum botar defeito.

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A ovelha Dolly participa do espetáculo, trazendo um dos elementos mais emblemáticos da ciência genética

Cada cena tem o seu começo, meio e fim, mas com um elemento comum: a origem de todos nós. O elemento do DNA é um dos mais fortes, que a todo o momento volta à dinâmica de palco, seja em representações visuais, ou nos adereços das acrobacias, lembrando o público de que viemos todos do mesmo lugar e, mesmo com tantas diferenças no mundo, somos todos farinha do mesmo saco.

É nesse momento de igualdade essencial humana que o mote da história entra de uma maneira surpreendente. O fato do roteiro trabalhar com uma anja se locomovendo em uma cadeira de rodas torna o espetáculo muito desdobrável. A junção de elementos aparentemente tão desconexos (como uma imagem divina ter dificuldade de locomoção) faz com que a platéia seja convidada a olhar para dentro, pensando nas limitações de cada um que ali assiste ao espetáculo. É o perfeito e o imperfeito que convivem em harmonia dentro do mesmo ser, configurando uma das maneiras mais interessantes que eu vi a arte dizer que “todo mundo é assim e não tem como ninguém escapar”.

Para mim, “DNA: somos todos muito iguais” é uma peça sobre inclusão holística. O Circo Roda consegue dizer isso ao longo de duas cenas marcantes, em que bailarinos usam cadeiras de rodas e muletas como elementos da dança. Achei a proposta ampla e questionadora, colocando lado a lado duas coisas que não combinam ao olhar conservador. A trupe transforma a pergunta “Como o balé pode ser belo com o suporte de instrumentos de limite?” para “Por que o balé não pode ser belo com o suporte de instrumentos de limite?”.

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Dança e saltos com muletas

Quando vi a cena, fiquei com vontade de conferir o trabalho de grupos de dança com deficientes. Acho que estou perdendo tempo em não saber e me maravilhar com isso. Todos nós estamos.

“DNA: somos todos muito iguais” continua em cartaz no Festival de Teatro de Curitiba e é uma ótima pedida para transformar leituras.

DNA: somos todos muito iguais

Realização: Circo Roda
Autor: Hugo Possolo
Diretor: Hugo Possolo
Elenco: Ana Coll, Diego Vieira, Felipe Oliveira, Fernanda Rodrigues, Gabriela, Gian Franco de Sanzo, Joice Jonatan Karp, Jassy Brischi, Jefferson Silva, Kadu Mendes, Laís Camila, Leo Garcia, Paulo Maeda, Rodrigo Mangal, Ronaldo Aguiar, Yuliya Suslova e Zizza
Classificação indicativa: Livre
Onde: Ópera de Arame

Quando:

1º/04/2011, às 21h30
02/04/2011, às 21h30
03/04/2011, às 21h30
08/04/2011, às 21h30
09/04/2011, às 21h30

Para mais informações, clique aqui.

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