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Retrospectiva

O balanço da democracia brasileira em 2024

Câmara autoriza que despacho de bagagem e wifi em voo sejam pagos com cotas parlamentares (Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados.)

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O ano de 2024 foi marcado por diversos acontecimentos importantes para a democracia brasileira. No fim das contas, qual é o balanço? Com as eleições municipais e a polarização afetiva ainda em evidência, e a falta de comprometimento com os valores democráticos por parte das instituições, fica claro que a democracia brasileira tem enfrentado sérios desafios.

No que diz respeito às eleições municipais, embora o processo eleitoral tenha ocorrido com êxito e os principais índices de democracia apontem para a integridade do sistema eleitoral brasileiro durante os anos, no âmbito cultural observa-se um crescente desânimo entre os eleitores em relação aos líderes apresentados como alternativas viáveis. Esse desânimo ficou evidente nas altas taxas de abstenção registradas em algumas capitais e na intensa polarização dos debates, especialmente no primeiro turno.

Para promover uma mudança sistêmica em nossa democracia, o fortalecimento dos valores democráticos é essencial. Apenas com esse alicerce sólido será possível enfrentar os desafios que limitam nossa consolidação democrática

Esses fatores indicam um cenário de desconfiança e uma possível retração na mobilização eleitoral, destacando o desafio de engajar a população em um processo político cada vez mais complexo e fragmentado. Além disso, episódios de violência política marcaram o primeiro turno das eleições, reforçando a falta de diálogo e tolerância no ambiente político.

No que se refere ao desempenho das instituições, percebe-se que nem sempre há um comprometimento pleno com valores democráticos fundamentais, como a transparência e a liberdade. A situação da Venezuela ilustra bem esse ponto. Governos que realmente defendem os princípios democráticos não podem demorar tanto tempo para reconhecer que as eleições venezuelanas foram fraudulentas.

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Embora o Executivo brasileiro tenha seguido as regras do jogo democrático no contexto interno, a demora em reconhecer a fraude e declarações que normalizam as eleições venezuelanas revelam uma preocupante relativização de princípios essenciais à democracia, como a garantia de eleições livres e justas.

Neste mesmo sentido, o crescente ativismo judicial dos últimos anos tem colocado em risco valores fundamentais como a transparência e a liberdade. Ministros têm sido acusados de usar o Judiciário de forma arbitrária, desrespeitando o devido processo legal para perseguir opositores. Outro exemplo foi a suspensão da plataforma X durante as eleições, que evidenciou decisões extremadas, como a aplicação de multas pelo uso de VPNs, resultando no silenciamento de parte do debate público na rede.

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Além disso, as tentativas do Judiciário de regulamentar as plataformas sociais, ainda que fundamentadas no combate à desinformação — um desafio real para a democracia — muitas vezes carecem de respeito à liberdade de expressão. Como evidenciado no julgamento da constitucionalidade do Artigo 19, algumas falas demonstram uma falta de compreensão sobre o que a liberdade de expressão realmente significa.

Esses exemplos mostram o Judiciário, muitas vezes, tentando assumir o papel de um Legislativo omisso. A falta de apreço pela liberdade de expressão, podem abrir espaço para censura prévia e para o silenciamento de vozes dissidentes, que são legítimas e essenciais para a democracia.

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Diante disso, percebemos que a democracia brasileira precisa ser fortalecida tanto no âmbito institucional quanto no cultural. O ano de 2025 representa uma oportunidade para que as instituições reforcem seu compromisso com valores essenciais para a democracia, como a liberdade, integridade e transparência. A falta desse comprometimento tem gerado uma desconexão entre os cidadãos e os líderes políticos, que pode impactar negativamente a qualidade do processo eleitoral.

No campo cultural, a polarização afetiva ainda muito presente continua a dificultar um debate público de qualidade. Essa realidade se torna ainda mais preocupante considerando a proximidade das eleições de 2026. Para promover uma mudança sistêmica em nossa democracia, o fortalecimento dos valores democráticos é essencial. Apenas com esse alicerce sólido será possível enfrentar os desafios que limitam nossa consolidação democrática.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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