• Carregando...
Diego Salgado, Gustavo Zucchi, Beatriz Farrugia e Murilo Ximenes, autores de O Preço de uma Copa, nas sociais da Vila Capanema.
Diego Salgado, Gustavo Zucchi, Beatriz Farrugia e Murilo Ximenes, autores de O Preço de uma Copa, nas sociais da Vila Capanema.| Foto:

Dentro de 18 dias começa a segunda Copa do Mundo no Brasil. Embora separados por 64 anos, os Mundiais de 1950 e 2014 têm inúmeras semelhanças. Conclusão a que chegaram os jornalistas Diego Salgado, Murilo Ximenez, Gustavo Zucchi e Beatriz Farrugia, autores do livro O Preço de uma Copa, sobre o torneio que acabou entrando para a história pelo Maracanazo. Concebido ainda na faculdade, o livro converteu-se na mais completa obra sobre a primeira grande competição internacional realizada no Brasil. Em entrevista por telefone, Salgado aponta as semelhanças entre as duas competições, inclusive na preparação de Curitiba. Como agora, em 1950 a cidade tinha o estádio mais pronto.

Diego Salgado, Gustavo Zucchi, Beatriz Farrugia e Murilo Ximenes, autores de O Preço de uma Copa, nas sociais da Vila Capanema.

Diego Salgado, Gustavo Zucchi, Beatriz Farrugia e Murilo Ximenes, autores de O Preço de uma Copa, nas sociais da Vila Capanema.

Qual a semelhança mais marcante entre a Copa de 1950 e a atual?

Diego Salgado – O atraso no palco de abertura, com obras apressadas na reta final e a Fifa batendo o pé para que tudo seja entregue o quanto antes. Em 1950, o Maracanã ficou pronto a sete dias do jogo de abertura. O segundo teste da Arena Corinthians será a 11 dias do primeiro jogo. O Brasil foi escolhido sede da Copa de 50 a pouco menos de quatro anos do início do torneio. A obra do Maracanã começou em agosto de 1948. Perdeu-se metade do tempo com burocracia, com a briga entre o vereador Carlos Lacerda e o prefeito Mendes de Moraes para ver quem seria o pai da obra. A mesma coisa foi em 2014. O Brasil foi escolhido sede em 2007 e somente três anos e meio depois o estádio começou a ser construído, também por uma briga política que tirou o Morumbi da Copa.

 

Há uma foto clássica do primeiro jogo do Maracanã com arquibancada lotada e andaimes, indicando que a obra seguia. Pode acontecer algo parecido com o Itaquerão?

Diego Salgado – A gente não sabia se essa foto era da abertura da Copa ou da inauguração do estádio, sete dias antes. Era da abertura. A cobertura havia sido construído em seis meses e não estava seca, por isso os andaimes. No dia 24 de junho, para o jogo de abertura, estava tudo pronto, mas com muita lama em volta. Isso indica que não deu tempo de construir tudo. O teste do dia 1º vai dizer muito da condição da Arena Corinthians para a abertura, até o entorno hoje está muito mais apresentável. Mas não se pode fechar os olhos para a pressa na conclusão do estádio.

 

A política foi um problema marcante em 50 também?

Diego Salgado – Houve uma influência política muito grande e emprego de dinheiro público em obra privada. O estádio dos Eucaliptos, em Porto Alegre, precisava do equivalente a 900 mil reais para a construção de uma arquibancada nova. O dinheiro saiu da prefeitura porque o Ildo Meneghetti, prefeito, era torcedor do Internacional e foi presidente do clube no começo da década de 30.

 

Houve algum tipo de oposição ao uso de dinheiro público como agora?

Diego Salgado – Nem por parte da imprensa nem da população. O governo usou a Copa de 50 para mostrar que o Brasil poderia receber um evento daquele porte e a população tinha um entusiasmo muito forte. Apenas a oposição e uma pequena parcela da imprensa, em momentos isolados, chegaram a bater forte. Não havia um olhar crítico.

 

Algum erro daquela Copa não se repetiu? Alguma lição foi aprendida?

Diego Salgado –  Nenhuma. O Brasil perdeu a chance de olhar para a experiência do passado e aprender. Ajudaria 2014 a não ser o fiasco que é.

 

Existia alguma preocupação com o legado?

Diego Salgado –  O maior legado da Copa de 50 foi o Maracanã. Não sei se o estádio teria sido construído sem a Copa. O Independência também foi feito para a Copa. Belo Horizonte pedia um grande estádio para os seus clássicos. Foi um legado regional. E só. Não havia obras de mobilidade. O grande legado foi esportivo, do Maracanã e de como a experiência de 50 ajudou o Brasil a ser campeão em 1958.

 

A Fifa tinha algum padrão de exigência?

Diego Salgado – Caderno de encargos não existia. Eram pouquíssimas exigências. Pediam alargamento do acesso aos vestiários, aumento da pista de atletismo e estádios com mais de 15 mil pessoas. Prova disso é que os estádios de Porto Alegre, São Paulo e Recife começaram a ser reformados em abril e ficaram prontos.

 

O Jérôme Valcke tem sido uma presença constante no Brasil. Como era o acompanhamento da Fifa naquela época?

Diego Salgado – O Jules Rimet, presidente da Fifa, veio pouquíssimas vezes. Esteve em novembro de 1949 preocupado com o Maracanã e só voltou para a Copa. Outro dirigente da Fifa, o Otorino Barazzi, foi bem mais presente, em um papel semelhante ao do Valcke em 2014. Mas as visitas eram apenas ao Rio, pois 92% do orçamento da Copa foi destinado ao Maracanã.

 

Curitiba foi uma dor de cabeça?

Diego Salgado – Curitiba teve, talvez, a organização mais tranquila da Copa de 1950. O Rio foi uma loucura com estádio novo. O Independência ficou pronto no comecinho de 50. São Paulo, Recife e Porto Alegre tiveram de ser reformados. Curitiba tinha um estádio pronto, não precisou de grandes intervenções.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]