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Anúncio publicado na Folha de 1º/4/1992, anunciando a estreia de Galvão Bueno na Rede OM.
Anúncio publicado na Folha de 1º/4/1992, anunciando a estreia de Galvão Bueno na Rede OM.| Foto:

Um dos mais badalados lançamentos do mercado editorial brasileiro neste início de ano é Fala, Galvão!, biografia de Galvão Bueno. O principal narrador do país tem toda sua vida profissional ligada à Rede Globo, embora não tenha trabalhado apenas na emissora carioca. Um dos períodos fora foi exatamente em Curitiba, entre março e dezembro de 1992, na Rede OM, atual CNT.

 

Galvão era um dos pilares do ambicioso plano de José Carlos Martinez de criar uma rede nacional da televisão com sede fora do eixo Rio-SP, o que aconteceu por certo período. Galvão dedica algumas linhas da biografia para relatar a passagem por Curitiba. Experiência encurtada pela ligação política entre Martinez, que era deputado federal, e o então presidente Fernando Collor, que sofreria impeachment em setembro de 1992.

 

“Martinez sempre foi correto comigo, mas, por ser político, tinha uma série de compromissos com o governo Collor que acabaram inviabilizando minha permanência na organização”, limita-se a dizer Galvão, dentro do espírito do livro, muito mais de exaltação ao próprio narrador, sua carreira e seus companheiros do que de trazer revelações bombásticas.

 

As relações entre Martinez e Collor eram muito menos prosaicas do que indica o livro. Martinez foi acusado de comprar uma emissora no Rio de Janeiro com cheque-fantasma dado por PC Farias, o tesoureiro de campanha de Collor. Os cheques-fantasma eram a maneira de esquentar dinheiro de caixa 2 que havia sobrado da campanha presidencial de 1989. Esse dinheiro, arrecadado junto a empresas, saía do Brasil para paraísos fiscais e voltava para contas de laranjas (invariavelmente, funcionários de Collor ou PC que nem sabiam que eram usados), de onde cobriam despesas de pessoas próximas ao presidente ou do próprio Collor. Foi a compra de um Fiat Elba para a primeira-dama Rosane com cheque-fantasma que desencadeou o processo de impeachment.

Anúncio publicado na Folha de 1º/4/1992, anunciando a estreia de Galvão Bueno na Rede OM.

Anúncio publicado na Folha de 1º/4/1992, anunciando a estreia de Galvão Bueno na Rede OM.

Sem se aprofundar nas questões políticas, Galvão exalta as façanhas do curto período em que o departamento de esportes da OM esteve sob o seu comando. Além de narrador, Galvão Bueno era diretor do departamento de esportes e sua empresa cuidava dos contratos comerciais da área e direitos de transmissão.

 

Foi uma ação direta de Galvão e seus sócios – Alfredo Taunay, Fernando Guimarães e Sérgio Miranda – que levou a principal atração esportiva da grade da OM: a Libertadores de 1992. Negociação direta da produtora de Galvão com Marcos Lázaro, detentor dos direitos do torneio no Brasil. Foi em um São Paulo 4 x 0 Criciúma daquela Libertadores que Galvão estreou na emissora, em 1º de abril de 1992. E foi na final entre São Paulo x Newell’s que o canal registrou 37 pontos de média no Ibope. Superou a Globo em uma final que a Globo tentou ter até o último instante.

 

“No jogo de ida, na Argentina, já tínhamos conseguido dividir audiência com a Globo, que fez de tudo para comprar o direito de transmitir a finalíssima conosco. Pedi desculpas a Ciro José [diretor de esportes da Globo na época] e Marcos Lázaro, mas não vendi. Eu não poderia trair meu time, os colegas que tinham topado aquele desafio comigo”, descreve na biografia.

 

No fim de 1992, o esporte correspondia a 60% do faturamento da emissora, além de garantir os maiores índices de audiência. Fosse com a Copa do Brasil, fosse com o Mesa-Redonda, que tinha Galvão, Lombardi Jr., Sicupira e Fernando Gomes em Curitiba e Roberto Avallone em São Paulo. Pouco para garantir o futuro do narrador no canal.

 

“No começo de 1993, Martinez estava em grandes dificuldades financeiras, não conseguia mais pagar todas as contas e chegamos a um acordo para encerrar nossa parceria. Dois meses depois, eu estava de novo na Globo. Voltei para casa”, conta no livro.

 

Na época, Galvão disse em entrevistas que deixou Curitiba com a OM lhe devendo US$ 3,5 milhões.

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