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Dionísio Filho: o Papai Noel mais feliz que Curitiba já teve, (Valquir Aureliano/ Arquivo/ Tribuna do Paraná)
Dionísio Filho: o Papai Noel mais feliz que Curitiba já teve, (Valquir Aureliano/ Arquivo/ Tribuna do Paraná)| Foto:
Dionísio Filho: o Papai Noel mais feliz que Curitiba já teve, (Valquir Aureliano/ Arquivo/ Tribuna do Paraná)

Dionísio Filho: o Papai Noel mais feliz que Curitiba já teve, (Valquir Aureliano/ Arquivo/ Tribuna do Paraná)

Quando o Dionísio foi colunista da Gazeta, costumávamos brincar que a coluna era feita por uma empresa familiar. Dionísio desenvolvia a ideia futebolística. Bibiana, então estudante de Jornalismo, dava a cara jornalística para o comentário. Cristiano, já um brilhante advogado, oferecia suporte jurídico. E a Sueli, em sua escalada acadêmica, tratava de deixar o texto em um português impecável.

 

A anedota com muito de verdade revelava duas características marcantes do Dionga. A primeira era que ele não admitia entregar algo malfeito. Se ele sozinho garantia a fluência da coluna no idioma do futebol, ele fazia questão de entregar o texto no português mais correto que somente alguém com todas as graduações possíveis em Letras era capaz de formatar.

 

A outra, o orgulho tremendo que o Dionísio tinha da família. Nas conversas por telefone ou nos encontros pelos estádios, era perguntar da Sueli e dos filhos para ver o sorriso natural do Dionga ficar mais rasgado. Cada linha escrita pela Bibiana, cada causa abraçada pelo Cristiano, cada honraria acadêmica da Sueli, cada passo no desenvolvimento do Márcio Eduardo… Tudo isso bombeava mais Sangue Bom nas veias do Dionísio.

 

É inerente a todo o chefe de família ter orgulho dos seus, mas o Dionga tinha razões a mais para estufar o peito. Ele nasceu preto e pobre. Para ganhar a vida, escolheu o futebol em um tempo em que boleiro era sinônimo de malandro e não havia salários milionários à espera de quem chegasse aos grandes clubes como ele chegou. Mesmo pelo caminho mais difícil, Dionísio cresceu, venceu e multiplicou essa vitória dentro de casa.

 

Uma parte fundamental da história do Dionísio fez com que nos encontrássemos pessoalmente pela última vez, em setembro do ano passado, na UFPR. Era um debate sobre racismo no futebol, mediado pelo Serginho Cabeção e com a participação do Dionísio, do Tinga e minha.

 

Eu estava conversando com o Tinga na sala da coordenação do curso de Comunicação quando o vozeirão do Dionísio ecoou pelo corredor. Do jeito de sempre, falante, sorridente, cumprimentando todo mundo como se fosse a última vez, deu um clima de festa para a conversa. No palco, com a autoridade de um acadêmico e a simplicidade de um mortal, deu aula sobre racismo – não no futebol, mas na sociedade. Expunha o mesmo senso de responsabilidade das colunas familiares, pois em tudo que fez sempre se viu não como um indivíduo, mas como alguém representando sua raça, sua gente, sua história. Arrancou risos e fez colar na mente de cada um essa mensagem com seu vozeirão.

 

Da mesma forma que ficam colados seus inúmeros bordões: “Esse é Sangue Bom!”, “Esse é 171 do bem”, “Garantir o papazinho das crianças”, “No fim do mês vem o numerário”, “Se futebol fosse fácil, eram 40 mil jogando e 22 batendo palma” e, o meu preferido, “Fulano toca o disco e recebe a capa”.

 

Lembro de duas histórias em especial do Dionísio que dizem muito do jeito espontâneo que ele tinha.

 

Em 2006, o Paraná foi enfrentar o São Paulo no Morumbi, numa quinta à noite, valendo a liderança do Brasileiro. Sexta era dia de coluna do Dionísio e combinamos de, depois do jogo, ele fazer uma atualização. Como o Dionga estaria na transmissão da Banda B, acertamos de eu ligar na rádio, ele fazer o comentário por telefone e eu redigir. Telefonei na hora marcada e o Dionísio perguntou como faríamos. Respondi que era só falar que eu estaria anotando. Acostumado à dinâmica do rádio, Dionga não teve dúvida e soltou com muitos decibéis: “Três… Dois… Um… O time do Paraná enfrentou o São Paulo esta noite…” Lá pelo meio do comentário, o Dionísio engasgou e, aborrecido, perguntou: “Ih, rapaz. Errei. Começa de novo ou vamos daqui?”. Rindo, lembrei a ele que não estávamos gravando e não tinha problema nenhum se errasse. A partir dali, ele retomou a análise.

 

A outra, infelizmente não vi, mas consigo visualizar. Para atender a algum patrocinador da Banda B (e desculpem-me por não citar nominalmente, simplesmente não lembro qual era), Dionísio se vestiu de Papai Noel em uma festa de fim de ano da empresa. Não consigo imaginar algum Papai Noel mais feliz, simples, bondoso e espontâneo que o Dionísio.

É essa imagem do “velhinho” Sangue Bom, cheio de energia e suíngue que, mesmo sem ter visto, vou guardar do Dionga. Como ele mesmo gostava de dizer, um cara que esteve jogador, esteve treinador, esteve comentarista e estará para sempre na nossa memória.

 

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