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A bicicleta feita de garrafa PET reciclada
| Foto:
Alexandre Costa Nascimento/Ir e Vir de Bike
n´Pypora: a bicicleta feita de PET reciclada e não deixa pegada ecológica

Minha nova bicicleta é um lixo. Ou melhor, era um lixo, antes de passar pelo processo que a transformou de fato em uma bicicleta. Ao invés de ferro, alumínio ou fibra de carbono, ela ganhou corpo e forma tendo como matéria prima cerca de 200 garrafas PET, que poderiam estar poluindo rios ou ocupando espaço em aterros sanitários. Todo esse lixo foi reciclado e transformado em um veículo movido a propulsão humana: mais sustentável, impossível!

A ideia partiu do inventor, designer e artista plástico Juan Muzzi, um simpático e criativo uruguaio radicado no Brasil. Soube da novidade em agosto do ano passado, quando entrevistei Muzzi para uma matéria sobre empreendedorismo, para o caderno de Economia da Gazeta do Povo. Na época, o projeto ainda passava pelos últimos ajustes, antes de ser lançado comercialmente no mercado.

“Não vendemos bicicleta, vendemos um conceito que tem a ver com a realidade do nosso planeta. O projeto tem cunho social e ecológico e busca transformar o problema do lixo em um produto contemporâneo, poupando recursos minerais e evitando a emissão de carbono”, resume o inventor, que também criou a Molamania, aquelas molas coloridas que fizeram sucesso entre as crianças nas décadas de 1980 e 1990.

O empresário dedicou mais de dez anos ao desenvolvimento do projeto. “Não sei dizer ao certo o quanto investi até hoje porque nunca fiz as contas. Mas deve passar de R$ 3 milhões”, diz. Muzzi, que também é piloto de aviões, vendeu a própria aeronave para financiar a criação da Muzzi Cycles. Apenas o equipamento que molda o quadro custou R$ 1 milhão.

A meta de Muzzi é fabricar anualmente 132 mil unidades, o que representa 15,8 milhões de garrafas recicladas, com economia de quase 1 milhão de litros de petróleo, num processo que evita a emissão de 2,7 mil toneladas de gás carbônico.

Sem pegadas

Diante de todo esse conceito ecológico, batizei a nova bicicleta de n´Pypora – que, em tupi-guarani significa “o que não deixa rastros ou pegadas”. Minha outra bike, uma MTB, também tem nome indígena: a Manguarirê, ou, “Magrela-amiga”.

O custo do quadro é de R$ 275 mais o valor do frete (cerca de R$ 50 para Curitiba). A Muzzi Cycles também vende a bicicleta já montada – o custo varia entre R$ 462 e R$ 1.617, dependendo das peças escolhidas. Optei por comprar apenas o quadro e montá-la aqui mesmo, para poder escolher as peças.

Coloquei uma kit Nexus da Shimano, com três velocidades e câmbio interno (dentro do cubo), mais alguns acessórios: campainha, pisca dianteiro e traseiro, bagageiro e paralamas. No total, gastei cerca de R$ 1 mil com as peças mais a mão de obra da montagem.

Mas, se você também gostou da ideia de ter uma bicicleta com o quadro 100% reciclado, é preciso antes ter bem claro que ela é, essencialmente, uma bike para uso urbano e/ou passeios.

O projeto é fantástico, mas ainda precisa de alguns ajustes técnicos: o quadro ainda é muito pesado – tem cerca de 5 quilos –, dada a densidade do material; nesse primeiro lote, também foram usados outros plásticos, como frascos de xampú e parachoques de carro.

O diâmetro da caixa de direção é incompatível com os modelos disponíveis no mercado. É preciso adaptar um calço para evitar que haja uma folga no guidão. Além disso, o quadro tem uma certa flexibilidade e trabalha um pouco na horizontal. É meio esquisito no começo, mas logo você se acostuma.

Além disso, o quadro não suporta câmbio na coroa e também não tem estrutura para passar os cabos do freio – resolvi a questão usando uma fita lacre como braçadeira. Já um amigo, que também montou uma Muzzi Cycles, resolveu a questão parafusando uns ganchinhos como guia no próprio quadro.

De qualquer forma, o desenho do quadro é arrojado e a bike, de tão linda, chama a atenção de quem a vê. No pouco que andei, algumas pessoas me pararam para perguntar sobre a bike e ficaram encantadas quando souberam que ela é feita de PET reciclada.

Enquanto tomava um café no centro da cidade, com a bike parada ao lado, um senhor engravatado — com pinta de executivo — parou para puxar conversa e perguntar sobre ela. “Estou querendo comprar uma para trocar pelo carro. Não dá mais para andar de carro nessa cidade”, disse.

Rio+20

Durante a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), a polícia militar do Rio de Janeiro usou 30 bicicletas Muzzi Cycles para fazer o patrulhamento do evento. Após o encontro, as viaturas foram incorporadas à ciclopatrulha da PM fluminense.

Resistência

A primeira dúvida que surge na cabeça de qualquer um quando ouve falar de uma bicicleta feita de plástico é: “Mas ela é resistente?”. O próprio criador da bike fez um vídeo para dar a resposta (veja abaixo). E, para não restar dúvidas, ele também oferece garantia de um ano para o quadro.

Serviço

Loja virtual da Muzzi Cycles

Montagem em Curitiba: Agência da Bicicleta

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