• Carregando...
CicloIguaçu esclarece posicionamento sobre ciclofaixa da Marechal Floriano
| Foto:

Diante da polêmica gerada após o entendimento entre os ciclistas e a Prefeitura de Curitiba sobre as obras da ciclofaixa da Marechal Floriano,na reunião realizada no último sábado (14), a Associação de Ciclistas do Alto Iguaçu (CicloIguaçu) divulgou a seguinte carta aos cicloativistas de Curitiba:

Jaelson Lucas/SMCS
Ciclistas discutem com secretário municipal de Trânsito e técnicos do Ippuc e URBS ajustes na ciclofaixa da avenida Marechal Floriano Peixoto.

Esclarecimento sobre a reunião entre os ciclistas e a Prefeitura

A CicloIguaçu foi fundada em maio de 2011 com um intuito bem definido – criar uma interface de diálogo construtivo com o poder público afim de consolidar o desenvolvimento de políticas de ciclomobilidade.

Dentro deste amplo objetivo muitas necessidades foram percebidas. Os ciclistas não estão bem cuidados por nossa sociedade. Além da carência explícita de ciclovias e ciclofaixas, de uma rede bem amarrada com conexões e cruzamentos seguros, falta também toda uma estrutura de paraciclos, bicicletários, sinalização, vestiários nas empresas e, o mais importante, o florescimento de uma cultura de respeito e simpatia à bicicleta.

Há histórico por trás disso tudo. Não são reivindicações do momento. Estão sendo ditas, escritas e gritadas há alguns anos. As bicicletadas iniciaram em 2005 exigindo políticas de estímulo a bicicleta como meio de transporte. A cultura da bicicleta sempre existiu em Curitiba. É rica e diversificada. Isto significa que existe gente de todo tipo. De todas as ideologias.

A CicloIguaçu não pretende ser representante de tudo isto, mas almeja apenas fomentar situações de maior segurança para quem quer pedalar pela cidade – por prazer, esporte ou trabalho.

A Associação está defendendo diretrizes e valores que fortaleçam este objetivo. Ela não quer representar quem não quer ser representado e quem quer se representar diretamente, dentro da CicloIguaçu, nestas diversas frentes de trabalho que estão ocorrendo no momento, é bastante bem vindo. Tem reuniões, conversas e articulações acontecendo.

Um breve balanço do ano que passou mostra que a CicloIguaçu contribuiu de maneira bastante positiva em sua esfera de atuação. Tivemos, finalmente, uma primeira conversa com o prefeito. Nossa pauta foi específica – o projeto da Cândido de Abreu deveria ter ciclofaixas; necessitamos de paraciclos e bicicletários por toda cidade; a prefeitura deveria promover campanhas permanentes sobre o tema; e, por último, queríamos participar do Conselho da Cidade de Curitiba (Concitiba).

Houve a promessa de inclusão de ciclofaixa na Cândido de Abreu. O Ippuc ainda não apresentou o novo projeto. Estamos aguardando. Os paraciclos e bicicletários estão finalmente dando as caras – no mês de março, ao que parece.

A campanha passou batida até agora. Dentro do Concitiba participamos de uma Câmara Técnica que passou 3 meses discutindo a bicicleta em Curitiba com os membros do Conselho. Houve avanço significativo no entendimento mútuo. O relatório final ainda não foi publicado, mas logo o será após ser votado em plenário.

Em conversas e reuniões que buscamos com os técnicos da URBS conseguimos iniciar o mapeamento de alguns pontos críticos das ciclovias na região central. Visconde de Guarapuava com Mariano Torres era o primeiro da lista. O semáforo está em testes, diz a URBS, agora por acionamento.

Não é o que queremos, é claro. Queremos que o tempo do pedestre e ciclista seja respeitado como o tempo dos automóveis. Ainda não é um avanço completo. É tímido ainda, mas, mesmo assim, é uma mudança. Não é no ritmo e na velocidade que a gente gostaria que fosse, porque não depende só de nós. Estamos fazendo o papel crítico. Apontando as falhas, dando sugestões.

O que quero dizer é que existe no momento uma conversa de verdade, pelo menos com alguns setores da prefeitura. Você escreve e recebe uma resposta. Liga e te retornam. Em outros setores, como a Secretaria Municipal de Esporte, Lazer e Juventude (Smelj) não. Tudo bem. As idéias se disseminam aos poucos. Há muitos técnicos de idônea conduta e merecedores do nosso respeito. Bom seria se dependesse deles as decisões mais importantes, o empurrão contínuo no fomento à bicicleta.

Eu pessoalmente tentei conversar com o atual prefeito Luciano Ducci desde quando ele ainda era apenas o vice do Beto Richa. Nunca retornaram os pedidos. Quando este assumiu a prefeitura, de minha parte, re-encaminhei os e-mails, refiz os telefonemas. Não uma, mas algumas vezes. Silêncio total.

A ideia de um grupo organizado, uma associação – nasceu da necessidade de forçar um diálogo com o poder público. Falo neste verbo – forçar – porque foi assim que agimos desde sempre. Se o interlocutor te ignora, você faz algo para chamar sua atenção. Junta um monte de gente na rua. Sai gritando. Cria fantasias. Cria fatos. Pinta ciclofaixas. Reorganiza o espaço urbano. Re-significa as coisas.

Tal necessidade, sentida por muitos de nós que estávamos há mais de 7 anos tentando mostrar para o então prefeito o que é uma bicicleta, levou a tentativa de se criar um grupo mais ou menos organizado, uma instância que agregasse pessoas que querem contribuir positivamente à causa.

Quem quer participar é bem vindo e tudo o que aconteceu até agora só se efetivou porque existem muitos braços, muitas cabeças, muitas idéias. A práxis é coletiva e está acontecendo agora.

A CicloIguaçu também só existe porque tem um número crescente de ciclistas e de gente um pouco mais consciente em geral. Curitiba teve mais de 1.500 ciclistas no Dia Mundial Sem Carros de 2011. Tem mais de 12 mil votos para Lei da Bicicleta (www.votolivre.org). Tem um movimento histórico em movimento. Todos reconhecem isto, no entanto as políticas públicas atuais priorizam o automóvel particular. Curitiba e o Paraná não são exceção.

A CicloIguaçu é aberta a participação de todos. Há arquitetos que querem melhorar o padrão das ciclovias, há artistas que querem mexer com a cultura geral, há advogados e juristas preocupados com as especificidades legais e há gente que simplesmente apóia tudo isto. Tem espaço para debater e propor idéias.

No último sábado, dia 14 de janeiro, participamos de uma reunião com o Secretário de Trânsito, Marcelo Araújo, para discutir as obras da ciclofaixa da avenida Marechal Floriano.

Todas as sugestões e críticas ao projeto, nossas e da parte dos leitores do blog Ir e Vir de Bike foram apresentadas e discutidas. O Secretário conduziu a conversa nos tons do direito, do diálogo e da tentativa de entendimento.

O grande resultado da reunião talvez não tenha sido realmente o acolhimento de todas as nossas sugestões – o que de fato não houve, mas sim a demonstração de uma boa vontade sobre o tema e necessidade de haver este canal de comunicação aberto com o poder público. Não com este ou aquele prefeito, este ou aquele partido.

As políticas que inserem a bicicleta não devem depender da simpatia do gestor. Devem ser incorporadas a dinâmica da cidade – limpeza das ruas, saneamento, energia, ônibus, bicicleta.

emos participado de reuniões diversas e tentado inserir a pauta da bicicleta na política de Curitiba. Sinto que estamos sim fazendo um bom trabalho. Tem muito mais trabalho pela frente e se tiver mais gente envolvida a coisa pode andar mais depressa.

Em resposta aos comentários feitos após a reunião, acho que falta conhecimento da história toda, para começar. Falta dar a cara pra bater um pouco mais. Não é simplesmente ficar ´batendo a pé´ numa posição. Tem que conversar com os responsáveis, ouvir os argumentos, tentar indicar as falhas e corrigir o que pode ser corrigido.

Não acho que tudo vai sempre ir caminhando do jeito que a gente gostaria – como ideal. Não sejamos tão intransigentes e birrões de achar que não podemos nunca estar errados ou que temos a resposta pra tudo. Alguns de vocês que já participaram de conversas com o IPPUC e Urbs sabe como é difícil avançar os argumentos. Estamos conseguindo aos poucos.

Em 2007, a nossa “ciclofaixa pirata” na Stresser tinha 1 metro contando da sarjeta. Não dava para ultrapassar outros ciclistas. Dava pra ir um de cada vez. De boa!

Essa ciclofaixa da Marechal foi feita sem qualquer tipo de estudo, pesquisa de origem-destino, ou demanda local. Simplesmente era mais um trecho que teria reformas, que o Beto Richa inseriu a ideia para desviar um pouco a pressão dos ciclistas na época. Isto foi em 2007!! Faz um tempinho.

Foi o Divo Maia que alertou para a largura da faixa, a princípio considerada estreito demais. Passou a pauta para o Alexandre que conseguiu chamar a atenção do problema.

Foi importantíssima toda esta movimentação, como tem sido importante toda cobrança e crítica que temos feito. A questão técnica do tamanho da faixa é relativa. O Miranda pode falar mais sobre isto. Eu concordo com a posição dele. Não é a melhor ciclofaixa do mundo, mas existe uma disposição do novo secretário em debater o problema. Vamos ser tão infantis a ponto de negar o diálogo? Não vamos ceder em nada? Vamos ficar batendo o pé em cima de ideais ou buscar o consenso nas coisas reais?

Não pensem, por favor, que simplesmente ficamos lá, passivos na reunião, aceitando tudo de cabeça baixa. Estávamos eu, Miranda, Belotto e Alexandre. Eu não duvido absolutamente da sinceridade e empenho destes companheiros nos objetivos que estamos buscando. E como disse o Miranda, as reuniões tem sido abertas. Todos podem participar.

Goura Nataraj
Presidente da CicloIguaçu

***

Impressões pessoais

Como também participei na reunião na condição de cicloativista — e não como jornalista, o que exigiria de mim uma neutralidade que não houve, já que tomei partido no debate –, acho que cabe algumas linhas com minhas impressões pessoais sobre todo esse episódio:

Houve a abertura de um canal de diálogo sobre a questão da ciclofaixa da Marechal Floriano através deste blog, quando o secretário de Trânsito, Marcelo Araújo, diante das críticas dirigidas ao projeto, pediu o envio de sugestões, ideias e projetos.

Todas, absolutamente todas as críticas, opiniões e sugestões encaminhadas pelo Facebook e pelos comentários do blog, foram apresentadas na forma de um relatório, entregue ao secretário da Setran e aos técnicos da URBS e Ippuc.

A questão da largura foi debatida do ponto de vista técnico: a ciclofaixa precisa ter 1,5 m de área total — considerando os bordos e faixas laterais. Consultamos o manual do Denatran e constatamos que o projeto atual estaria de acordo com essas recomendações técnicas.

Se avaliarmos a ciclofaixa de Moema, em São Paulo, por exemplo, veremos que ela tem praticamente a mesma largura de área útil (faixa vermelha): entre 0,75 cm e 0,80 cm. A Prefeitura esclareceu ainda que, no caso da Marechal, a largura total de 1,5m ocorre apenas nos trechos de passagem das estações tubo — e que, nas outras áreas, a largura total varia entre 1,8 m e 2 m, possibilitando, inclusive, as ultrapassagens seguras entre os ciclistas.

Particularmente, expressei minha insatisfação com essa largura, pois considero 75 cm de área útil (faixa vermelha) estreita demais. Nos foi explicado que poderíamos “ganhar” 5 cm com a pintura da faixa branca interna sobre o meio fio – o que, na prática, criaria apenas um artifício, mas manteria a mesma largura útil atual, já que ninguém vai pedalar sobre a sarjeta. Ainda que contrariado, reconheci que o projeto, tal como está, não é o ideal, mas é funcional.

o arquiteto especialista em planejamento cicloviário Antonio Carlos Miranda, diretor técnico da CicloIguaçu, ressaltou que, mais importante que a largura da ciclofaixa é a redução e controle da velocidade lindeira (do tráfego lateral). Conseguiu estabelecer essa velocidade em 40 km/h, além do compromisso da Prefeitura no reforço da fiscalização, com o uso de radares móveis pelos agentes da Setran.

O presidente da CicloIguaçu, Goura nataraj, ressaltou a necessidade de programas de educação dos motoristas sobre o compartilhamento das via com a bicicleta.

Concordo que nosso papel coletivo é questionar, cobrar e divergir. Mas também entendo que, quando houver a possibilidade, devemos sugerir e propor soluções.

É isso que venho tentando fazer com esse blog, dedicando esforço, tempo e empenho “pela causa”, já que meu vínculo trabalhista com a Gazeta do Povo é apenas o de repórter do caderno de Economia. Particularmente, e sem falsa modéstia, acho que tenho dado minha contribuição para colocar a bicicleta na pauta do debate público da cidade.

A CicloIguaçu não é a única instância de debate sobre a ciclomobilidade, mas é uma instância que foi constituída para esse fim, existe e é legítima.

Garanto que, todos os que pedalam e estavam naquela reunião, em uma manhã de sábado, também tinham como único interesse encontrar a melhor solução para que se possa fazer o uso seguro daquela ciclofaixa. Qualquer comentário ou ilação que não reconheça isso é, no mínimo, desonestidade.

Como bem lembrou o Goura, nem todas as sugestões apresentadas foram acatadas. Mas conseguimos, por exemplo, derrubar a infame ideia de criar um “caminho de rato” próximo ao terminal do Carmo, trocando um cruzamento com o ligeirinho por três com os carros, o que certamente estimularia o uso da canaleta em detrimento da ciclofaixa.

Dentro das possibilidades, encontrou-se a melhor solução para garantir a segurança dos ciclistas.

A questão da ciclofaixa da Marechal, entretanto, não é uma batalha encerrada: é um processo contínuo. Continuaremos cobrando a implantação de projetos seguros e eficientes para a ciclomobilidade.

Além disso, vale lembrar que, qualquer cidadão — ciclista ou não –, que estiver insatisfeito com o projeto tal como está sendo implantado, pode procurar seu vereador e propor que ele faça um requerimento de informações ao Executivo Municipal. Também pode reclamar no número 156 da Prefeitura e/ou propor uma ação ao Ministério Público do Paraná.

Pode também participar das reuniões, propor, opinar, sugerir. Ou, pode ainda, apenas tecer criticas no campo de comentários desse blog. Na Democracia e na luta pela construção de uma cidade amiga da bicicleta, cada um decide o seu grau de envolvimento.

Alexandre Costa Nascimento
Ir e Vir de Bike

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]