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Descendo a Serra da Graciosa de bike em noite de lua cheia
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Ir e Vir de Bike
Preparativos para a descida da Graciosa em noite de lua cheia

Já escrevi antes aqui no blog que a descida da Serra da Graciosa ganha uma nova perspectiva se feita sobre uma bicicleta.

Tive a oportunidade de explorar algumas variantes deste, que é um dos principais roteiros turísticos do Paraná: descida com sol e na chuva, sob calor escaldante e no frio congelante, pela estrada nova e pela velha (Trilha do Alemão), pelo asfalto e pela terra (antes de asfaltarem a Dom Pedro). Mas, jamais havia sequer passado pela minha cabeça a possibilidade de descer a Graciosa pedalando durante a noite.

Quem teve essa brilhante ideia foi meu amigo do pedal Gustavo Carvalho (Iê), dono da empresa Kuritbike, que promove passeios cicloturísticos em Curitiba. Ele me ligou no meio da tarde de sábado fazendo um convite para essa aventura.

Na prática, já havia até me conformado que não iria dar pedal no fim de semana. A previsão do tempo não era nada animadora: tempo frio, nublado e chuvoso no sábado e no domingo. Mas, como num passe de mágica, o céu começou a limpar ainda na tarde de sábado, abrindo uma incrível janela de oportunidade de aproveitarmos a luminosidade da lua cheia.

Combinamos o ponto de encontro e o horário de partida. Levamos as bikes de carro até um trecho da Dom Pedro e iniciamos a viagem exatamente no ponto mais alto, pouco a frente da bifurcação que leva para a Trilha do Alemão.

O grupo foi formado por seis bikers: eu, Andreza (minha mulher), Gustavo (Iê), Alessandro (Puma), Jorge e Marcelo; e duas motoristas: Susan (namorada do Marcelo) e Helen (namorada do Iê).

Logo que paramos na estrada, o ânimo e a expectativa aumentaram: uma noite linda, absurdamente clara e o céu sem uma nuvem sequer. A temperatura estava um pouco baixa, mas perfeitamente suportável com o uso de um agasalho leve e o calor gerado pelo próprio corpo com as pedaladas.

Descemos as bikes e preparamos os equipamentos. As meninas cobriram a retaguarda como apoio em caso de qualquer emergência, mas foram orientadas para que não se aproximassem para não estragar a o espetáculo da luz da lua com o farol dos carros.

Iniciamos a descida por volta das 22h30. Sob nossas cabeças, uma lua cheia imponente iluminando nosso caminho, a ponto de fazer sombra sob nossos pés e pneus. Em pouco tempo, a vista se adapta à luminosidade e é possível enxergar praticamente tudo. É estranho, mas, chega um momento em que a gente praticamente se esquece que é noite.

A descida é íngreme e, sem fazer esforço, a bicicleta atinge 50 quilômetros por hora. Mesmo com toda a adrenalina e tomado pela emoção, é preciso saber dosar a empolgação e usar o freio e a prudência. Ainda assim, é impossível não curtir o embalo e a sequência de curvas.

Alexandre Costa Nascimento/Ir e Vir de Bike
Pausa na ponte dos Arcos, no fim do trecho de descida

O tráfego na estrada durante a madrugada é leve, porém existe. Enquanto descíamos, provavelmente não mais do que dez veículos cruzaram nosso caminho subindo ou descendo. A cada farol ou barulho de motor, os gritos de alerta: carro! De bicicleta é assim, um cuida do outro.

Sob a luz do luar, a estrada revela uma nova face de sua graciosidade, com sons, cheiros e paisagens diferentes e surpreendentes. Também é possível observar alguns pássaros de hábitos noturnos e morcegos. No quesito paisagem, os morros da Serra do Mar surpreendem pela imponência, como o Pico do Marumbi, com seu contorno contrastando com o céu e pontos luminosos, formados pelo reflexo da luz da lua na pedra nua ou em pontos de queda d´água.

Mas nada supera a vista do mirante, de onde é possível avistar a Baía de Paranaguá, toda iluminada, na linha do horizonte. Um verdadeiro êxtase que compensa todo o empenho e esforço. Gritamos e nos abraçamos em comemoração. Comungando o vinho da amizade, brindamos às bikes e às e aventuras que ela nos possibilita enquanto contemplamos um visual único e inesquecível.

O trecho seguinte é mais íngreme e sinuoso e a impressão é que tudo passa muito rápido. A antiga Ponte dos Arcos marca o fim do trecho de descida. Paramos novamente para observar as corredeiras prateadas do rio Nhundiaquara, o céu estrelado e a lua cheia.

Ir e Vir de Bike
Obs: gasto referente a diária, por pessoa, na pousada. Nível de dificuldade médio, com trechos de aclives e declives acentuados. Passeio recomentado para ciclistas com certo nível de experiência.

Dali para frente há um longo trecho plano e com poucas curvas. Aproveitei para forçar um pouco o ritmo da pedalada. Até então, a física havia feito boa parte do trabalho sozinha. Aumentei o ritmo e com isso acabei me distanciando um pouco do grupo. Depois de pedalar mais ou menos uns cinco quilômetros, quando já estava reduzindo o ritmo para esperar o pessoal, percebi um vulto na margem esquerda da pista.

Comecei a frear, pensando ser um cachorro, quando o bicho atravessou, saltitando, a pista na minha frente. Era uma linda fêmea de veado-campeiro. Uma belíssima surpresa, um presente da natureza para fechar o passeio com chave de ouro!

Por volta da uma hora da manhã, chegamos à pousada Itupava, em Porto de Cima. Depois de um bom banho, nos reunimos novamente, os seis ciclistas e a equipe de apoio, para comemorarmos nossa incrível jornada com pizzas congeladas trazidas no carro e esquentadas no microondas da pousada.

No fim, a conclusão foi unânime: descer a Serra da Graciosa, de bicicleta, em uma madrugada de lua cheia, pode parecer uma insanidade. E de fato é. Mas, certamente, é também um dos passeios mais incríveis que alguém pode fazer sobre duas rodas.

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