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Exclusivo: Ciclofaixa de lazer terá “abandono programado”
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Gilson Camargo/www.gilsoncamargo.com.br
Alvo de críticas desde o início, Circuito de Lazer terá fiscalização reduzida e abandono programado.

Após operar em apenas seis edições, o Circuito Ciclístico de Lazer, trajeto de 4 quilômetros que funciona aos domingos na região central de Curitiba, será paulatinamente abandonado.

Oficialmente, o discurso é dar “autonomia” e “vida própria” ao sistema. Na prática, entretanto, está oficialmente programada a redução gradativa da estrutura de orientação, fiscalização e isolamento do circuito.

Não é preciso ter bola de cristal para prever que a falta de segurança afastará os usuários e, em pouco tempo, o projeto será abandonado e as faixas devolvidas à circulação de veículos 24 horas por dia, 7 dias por semana, 365 dias no ano.

O gasto total na implantação do projeto — incluindo pintura das faixas, sinalização e publicidade –, foi de R$ 124 mil, um custo médio de R$ 31 por metro linear.

Em reunião realizada entre a Secretaria Municipal de Trânsito (Setran) e a Secretaria Municipal de Esporte Lazer e Juventude (Smel) — responsável pela implantação do circuito ciclístico –, foram definidos 6 pontos que passam a valer já a partir do próximo domingo (05):

1) Será honrado o compromisso do prefeito da operação do circuito todos os domingos;

2) O circuito passará a ter vida própria, entendido que gradativamente a estrutura de orientação, fiscalização e isolamento serão minimizadas;

3) A manutenção da atual estrutura torna inviável o suporte a outros eventos que passam a acontecer a partir de fevereiro (Festa da Uva, corridas, etc.) pois a quantidade de agentes é modesta;

4) As vagas de estacionamento existentes entre a ciclofaixa e a calçada (Mal. Deororo, André de Barros) não será proibido , pois entendemos que isso potencializaria a intolerância entre motoristas e ciclistas, pois além da faixa de circulação de carros, estaríamos deixando ociosa uma imensa área de estacionamento. Entendemos que se busca uma convivência pacífica entre motorizados e bicicletas, portanto os motoristas ao entrarem e saírem dessas vagas devem ser cautelosos com os ciclistas, bem como os ciclistas devem ser ponderados quando automóveis estiverem entrando e saindo das vagas e forçosamente utilizando a ciclofaixa durante a manobra;

5) Agentes de bicicleta estarão circulando pelo circuito para as providências necessárias, bem como agente de motocicleta circulando. Agentes estarão posicionados em locais estratégicos. Nesse momento farão orientações aos motoristas que por desatenção circularem pelo circuito, mas o não atendimento às orientações poderá implicar em autuação pelo artigo 195 – desobediência às ordens do agente;

6) Haverá menor número de cones isolando a ciclofaixa do circuito porque sua função não será de isolamento, e sim de alerta e atenção, pois o local está sinalizado com dia e horário.

Decisões equivocadas

São extremamente preocupantes e sintomáticas as decisões tomadas. O Circuito de Lazer foi criticado desde o início pelos ciclistas por tratar a bicicleta como equipamento de lazer, e não de transporte. A “ciclofaixa” surgiu da noite para o dia, sem consulta aos usuários — desonrando compromisso prévio assumido pelo próprio prefeito Luciano Ducci (PSB).

O argumento apresentado pela prefeitura foi de que o circuito seria um laboratório para promover a educação no trânsito. Se os objetivos não mudaram (ao menos não houve nenhum comunicado oficial de que mudou), é temerário confiar que ciclistas e motoristas curitibanos serão autodidatas, e vão se autoeducar sem a presença dos agentes e monitores.

As leis existem e são solenemente desrespeitadas. Mesmo com a presença dos agentes foram registrados casos de acidentes graves no circuito — o ciclista, claro, é a parte fraca da relação e sempre levou a pior. Reduzir a estrutura de orientação, fiscalização e isolamento, portanto, é potencializar ao máximo casos de conflitos e compactuar com o aumento do número de acidentes.

A estratégia de abandono paulatino do circuito é o reconhecimento formal de que a “Ciclofaixa de Lazer”, da forma como foi feita, não passou de uma brincadeira de criança mimada, que enjoou da novidade a vai se dedicar, quem sabe, a alguma nova atividade de esporte ou lazer…

Isso que estamos falando de ridículos 4 km de circuito! Se a manutenção da estrutura do circuito curitibano é inviável, como reconhece formalmente a Prefeitura, o que esperar da promessa de ampliar a ciclofaixa para 14 quilômetros (o que continua sendo ridículo!) até o fim do primeiro semestre?

Elton Damasio / Agência de Notícias Gazeta do Povo
Protesto marcou o primeiro dia da ciclofaixa

Será que o projeto será abandonado, com o argumento de que a manutenção estrutura torna inviável o suporte a outros eventos? Se a quantidade de agentes é modesta para 4 km, será menor com a ampliação do circuito.

Outro ponto: também entendemos que se busca uma convivência pacífica entre motorizados e bicicletas. Mas esperar que cada um seja “cauteloso” e “ponderado” é de um otimismo demasiado que beira a ingenuidade. Se assim fosse, todos os problemas de trânsito estariam automaticamente resolvidos!

É preciso, sim, a presença do poder fiscalizador cumprindo seu papel de sancionar quem descumpre a lei. Manter agentes sem poder autuação é compactuar com a violência e o desrespeito às leis de trânsito. É o bloquinho e a caneta que têm que falar alto nesse momento. É isso que educa e muda a cultura.

Aos reclamões de plantão, basta dar uma simples orientação: se combate a Indústria da Multa cumprindo as leis de trânsito. Agora, a Indústria da Morte no Trânsito só se combate com a mudança de cultura, resultado da punição efetiva dos infratores.

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