• Carregando...
Pedala, Beto Richa!
| Foto:
Reprodução
Joínha? Governador Beto Richa pedala ao lado do filho Marcello, secretário municipal de esporte e lazer.

Menos de uma semana depois de ser cobrado em praça pública para apoiar a causa das bicicletas, o governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), tirou sua magrela da garagem e saiu para pedalar; e, claro, para ser fotografado.

Obviamente, ninguém vai ser tolo de pensar que o governador teve uma súbita revelação e que, a partir de agora, vai deixar seu SUV blindado parado no estacionamento da Granja do Canguiri para ir pedalando todo dia até o Palácio Iguaçu.

Em se tratando de política, tudo gira em torno da construção de uma imagem e, por isso mesmo, cada gesto é milimetricamente calculado. Isso vale para a escolha da cor da gravata, para a manga da camisa estrategicamente arregaçada, para entonação da voz e para os bordões e frases de efeito que são repetidos, como aquela emotiva referência ao “meu pai”.

Mestre nessa arte da autopromoção, o presidente russo Vladmir Putin já posou de judoca, ciclista, mergulhador, cowboy das estepes, caçador e lenhador. Assim como o ex-presidente Fernando Collor, que também pedalava, andava de jet ski, praticava corridas matinais, artes marciais e chegou a pilotar um caça da FAB.

Também em busca da empatia do eleitorado e da imagem de político bacanão, Richa já pilotou carros de corrida, jogou bola ao lado de Zico, disputou partidas de truco e sinuca e, agora, resolveu pedalar.

Reprodução/Bicicleteiros.com.br
Marcha das 1.000, no Dia Mundial Sem Carro, reuniu 1,2 mil ciclistas em Curitiba.

Mas é exatamente pela sua carga simbólica que o gesto do governador do Paraná deve ser avaliado e, por que não, elogiado? Já critiquei aqui no blog o fato do prefeito de Curitiba, Luciano Ducci (PSB), não ter sido capaz de um gesto simbólico como esse no Dia Mundial Sem Carro.

Também elogiei o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB) e o senador Eduardo Suplicy (PT), que usaram a bicicleta na ocasião; ainda que eles tenham feito isso apenas para saírem bem na foto, virarem notícia e, de quebra, ganharem a imagem de “políticos moderninhos”.

Maurilio Cheli/SMCS
Gabinete de crise: ciclistas são recebidos na prefeitura para tratar de assuntos referentes ao Circuito Ciclofaixa de Lazer.

Posso estar enganado, mas creio que nunca antes na história deste estado, um governador no exercício do mandato saiu por aí, andando de bicicleta. O fato ocorreu na noite da última terça-feira (08), durante o passeio noturno Pedala Curitiba, promovido semanalmente pela prefeitura de Curitiba.

O objetivo do governador — além de sair bem na foto, virar notícia e ganhar a imagem de político “moderninho” – foi, claramente, o de manifestar apoio ao seu pupilo Marcello Richa, atual secretário municipal de esporte e lazer, responsável pelo programa Pedala Curitiba e pela implantação do circuito ciclístico de lazer na cidade e provável candidato a vereador pelo PSDB em 2012.

Ainda assim, continuo preferindo enxergar o copo meio cheio. O gesto do governador é prova inequívoca que há uma revolução silenciosa em marcha: a Primavera das Bicicletas nas ruas de Curitiba.

De uns tempos para cá, a bicicleta tomou conta do debate público na cidade, sendo apontada como a solução mais inteligente para o problema da (falta de) mobilidade e da saturação do trânsito na capital mais motorizada do país.

Recentemente, um debate sobre o tema promovido na Câmara de Vereadores mobilizou mais de 120 ciclistas e cicloativistas, que lotaram o plenário para reivindicar políticas públicas de mobilidade focadas na bicicleta.

Isso repercutiu nas páginas dos jornais, nas rádios e televisão e levou o povo para as ruas. Na inauguração da ciclofaixa de lazer, um esquadrão de cicloativistas ocupou o centro da cidade em um protesto que terminou com mais de 300 pessoas em frente à casa do prefeito pedindo “ciclofaixa todo dia” e gritando “pedala Ducci”.

Reprodução/phcosta33
Richa e Ducci durante a Virada Cultural: panfleto na mão, manifestação de apoio às bicicletas. Mas voto que é bom, “demora muito”.

Há poucos dias, a bicicleta apareceu como tema de quatro das cinco principais notícias do site oficial do município. A prefeitura, aliás, chegou a montar uma espécie de “gabinete de crise”, convocando uma reunião com os ciclistas organizados da capital para detalhar seus projetos em torno da ciclomobilidade. Tudo isso depois da marcha das 1.000 bicicletas, em que um batalhão de ciclistas ocupou as ruas da cidade.

Aos poucos, alguns políticos estão percebendo que a bicicleta é hoje uma das bandeiras políticas mais modernas em todo o mundo. Em torno dela estão questões como o aquecimento global, a segurança no trânsito e compartilhamento das ruas.

A bicicleta também promove a cidadania, com a ocupação das ruas, um bem público de todos, contra uma sociedade individualista, poluidora e motorizada. Bike pode ser encarada como veículo de promoção da saúde, do esporte e do lazer.

Um político que pedala – independentemente de seu partido político –, tem, na pior das hipóteses, a intenção de passar a imagem de que tem a consciência de tudo isso (nem que seja para ganhar mais alguns votos, o que não deixa de ser legítimo).

Cabe a nós, cidadãos e eleitores, cobrar para que esses gestos de puro marketing se transformem em políticas públicas concretas de estímulo ao uso da bicicleta.

Estou certo de que nossa Democracia dará um grande salto qualitativo quanto mais políticos começarem a pedalar. Um dia, quem sabe, veremos sem espanto alguns de nossos representantes abrindo mão do auxílio gasolina para ir pedalando até o Congresso, Assembleia Legislativa, Câmara de Vereadores ou Palácio de governo.

_________________________o>°o
Pedale com o blog
Siga as atualizações pelo Twitter.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]