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Promessa de ampliação da ciclofaixa de lazer não sai do papel
| Foto:
Cesar Brustolin/SMCS
Ciclofaixa de Lazer de Curitiba

O início do segundo semestre de 2012 coloca oficialmente o plano de ampliação da ciclofaixa de lazer de Curitiba na lista de promessas não cumpridas da Prefeitura Municipal. Em outubro de 2011, ao inaugurar o circuito com apenas quatro quilômetros de extensão na região central da cidade, o secretário municipal de Esporte e Lazer e Juventude, Marcello Richa, havia anunciado que o projeto seria ampliado para 15 quilômetros “até o segundo semestre”.

A pasta comandada pelo filho do governador Beto Richa (PSDB) é a responsável pela gestão do circuito ciclístico de lazer. “O trajeto é bem maior do que este de 4 quilômetros que simbolicamente vamos inaugurar”, afirmou o secretário ao blog, em 18 de outubro de 2011, por meio de sua conta no Twitter. Segundo ele, a ideia da ciclofaixa de lazer é mudar, “em pouco tempo” a cultura do motorista, com o auxílio de “sérias campanhas educativas”.

Com o prazo oficial esgotado e o início do calendário eleitoral, a implantação das vias exclusivas para a circulação de bicicletas, com operação todos os domingos e feriados, só poderá ser executada nos últimos dois meses do ano ou em um eventual segundo mandato do prefeito Luciano Ducci (PSB).


Visualizar Ciclofaixa de Lazer – Curitiba em um mapa maior

Procurada pelo Ir e Vir de Bike para comentar o assunto, a assessoria de imprensa da Prefeitura não respondeu sobre os motivos que levaram ao descumprimento do prazo de implantação da ampliação da ciclofaixa de lazer.

A Prefeitura investiu um total de R$ 142,3 mil na implantação dos 4 quilômetros do circuito – cerca de R$ 35,50 por metro de ciclofaixa de lazer, segundo ofício nº 441-EM/GTL encaminhado à Câmara de Vereadores, em resposta a um pedido de informações formulado pelo vereador Professor Galdino (PSDB).

Desde que inaugurou o circuito, a prefeitura busca, sem sucesso, a ajuda de patrocinadores privados para alavancar o circuito ciclístico. O projeto prevê a veiculação do nome da empresa em todas as peças confeccionadas para o evento, no colete dos monitores e o uso da ciclofaixa de lazer para ações promocionais e de merchandising, desde que não haja a comercialização de produto; somente divulgação e distribuição gratuita. Há mais de oito meses, Marcello Richa havia informado a existência de conversas “em andamento” com empresas locais e nacionais, mas, desde então, nada foi oficialmente acertado.

Em fevereiro, uma reunião com membros da prefeitura e das secretarias de Trânsito e de Esporte e Lazer chegou a discutir o abando programado do projeto, com a redução gradativa da estrutura de orientação, fiscalização e isolamento do circuito. Oficialmente, o discurso seria o de dar “autonomia” e “vida própria” ao sistema.

Acidente

Na edição do último domingo (1º), um ciclista se acidentou por volta do meio-dia enquanto pedalava pela ciclofaixa de lazer curitibana e precisou ser atendido pelo Siate, do Corpo de Bombeiros. A vítima foi o ciclista Vilmar Penteado, de 24 anos, que teve ferimentos leves e foi encaminhado ao hospital Cajuru.

A ocorrência foi registrada como “queda de bicicleta”. O acidente teria sido provocado pela colisão com um veículo que fazia uma conversão à esquerda.

Segundo a Setran, o relatório da líder dos agentes aponta que a vítima estaria “com vestes sujas” e apresentando “sinais de embriaguez”. A informação não pôde ser confirmada com o hospital.

Ainda de acordo com o órgão, o ciclista também teria, anteriormente, desrespeitado as orientações dos monitores. A agente responsável pelo relatório não estava presente no momento do acidente e teria colhido as informações com um dos monitores.

Com testemunhas, foi possível apenas apurar que o ciclista não usava capacete. Apesar de ser recomendado, o item não tem uso obrigatório previsto pelo Código de Trânsito Brasileiro (art. 105, inciso VI).

Em dezembro do ano passado, outro ciclista ficou ferido em um acidente na ciclofaixa. Um veículo não teria respeitado a sinalização do agente da Setran para dar preferência ao ciclista ao converter à esquerda.

Para não ser atropelado, o ciclista, um senhor de 60 anos, teve que jogar sua bicicleta para a lateral da rua. Ele bateu no meio-fio e caiu. O motorista, fugiu sem prestar socorro.

Adriano Justino / Gazeta do Povo
No último domingo, ciclista acidentado precisou ser atendido pelo Siate na Ciclofaixa

Exemplo paulistano

Embora as grandes cidades necessitem de infraestrutura cicloviária permanente que favoreçam o uso seguro da bicicleta como meio de transporte, a implantação das ciclofaixas de lazer tem seus méritos. Elas funcionam como um “estágio” para reinserir a bicicleta na vida dos cidadãos. Pedalando por lazer, muitos percebem intuitivamente as vantagens do uso desse meio de transporte no dia a dia.

Mas para que isso ocorra, é preciso muito mais do que apenas pintar o asfalto de vermelho, em um circuito fechado, e contratar estudantes de Educação Física para segurar plaquinhas de “pare” nos semáforos em troca de um certificado de horas para atividades complementares.

Reprodução/Ciclofaixa.com.br
Ciclofaixa de lazer de São Paulo: modelo a ser seguido.

A cidade de São Paulo tem uma ciclofaixa de lazer que cumpre sua função elementar: oferece opção de lazer sobre duas rodas e garante a segurança e a mobilidade dos usuários em pontos de interesse da cidade. Simples assim.

Nos últimos oito meses, desde que a ciclofaixa curitibana foi implantada, São Paulo ampliou em cerca de 40 quilômetros sua malha de lazer – 900% mais que a rede da capital paranaense. Lá, a ciclofaixa de lazer tem cerca de 70 quilômetros.

Já estive na capital paulista para conhecer o circuito e as impressões foram as melhores possíveis. Tanto que, qualquer comparação com a estrutura implantada aqui é vexatória para qualquer curitibano.

O projeto conta com o apoio institucional do banco Bradesco, que com a bandeira do Movimento Conviva, promove campanhas educativas objetivando a convivência pacífica entre motoristas, ciclistas e pedestres.

Lá, o circuito começa uma hora mais cedo, às 7 horas da manhã. A estrutura é de deixar qualquer ciclista de queixo caído: agentes de trânsito, com poder de multar, estão nas esquinas e cruzamentos e monitores dão bom dia aos usuários enquanto outros 20 monitores circulam com as SOS Bikes, fazendo pequenos reparos e ajustes nas bicicletas dos usuários. Tudo para garantir o prazer das pedaladas.

Outros monitores fazem entrevistas qualitativas, que são usadas para melhorar a infraestrutura a cada edição. Em determinados pontos do circuito, há semáforos exclusivos para os ciclistas — com bicicletas no sinaleiro. Também são tiradas fotos dos participantes, que são postadas no site da ciclofaixa de lazer paulistana. De acordo com a Prefeitura de São Paulo, cerca de 50 mil pessoas pedalam, todos os fins de semana, na ciclofaixa de lazer.

A prefeitura de Curitiba deveria deixar seu orgulho de lado e mandar alguns de seus técnicos e o secretário municipal de Esporte e Lazer para lá, aprender como se faz uma ciclofaixa de lazer de verdade.

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