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Ilustração: Felipe Lima
Ilustração: Felipe Lima| Foto:

O bolsonarismo fundou um caminho narrativo próspero o suficiente para fazer presidente da República sua principal referência. Entender as insatisfações populares e dar espaço para o que desejava boa parte dos eleitores no peculiar espírito do tempo de 2018 foi um grande trunfo do grupo de Jair Bolsonaro (PSL). Naturalmente, outros políticos perceberam o sucesso da trilha aberta pelo então candidato à presidência e seguiram seus passos.

Um exemplo é o governador do Paraná, Carlos Massa Ratinho Junior (PSD). Ele começou a disputa eleitoral de 2018 declarando timidamente apoio a Alvaro Dias (Podemos) na disputa pela presidência da República. Por trás dessa breve aliança havia um discurso paranista e um chega pra lá em Osmar Dias, irmão de Alvaro, que poderia ameaçar a eleição de Ratinho.

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No decorrer da campanha, Alvaro naufragou e Bolsonaro ganhou força. Foi o suficiente para que o então deputado estadual que nunca tivera um discurso ideológico forte pulasse para a campanha de Bolsonaro e incorporasse abordagens menos moderadas em sua campanha.

Vencedores os dois, Ratinho continuou colado no presidente da República e, no governo, ambos empunham bandeiras semelhantes. Quase seis meses após as respectivas posses, parece ser o momento de o presidente seguir a trilha do governador. Enquanto a gestão Bolsonaro bate cabeça nos pontos mais simples da articulação política, Ratinho Junior implantou no Paraná o bolsonarismo de resultado: um estilo de governo que defende pautas similares às de Bolsonaro, mas que tem capacidade política de botá-las em prática. Vamos aos exemplos.

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No caso da redução dos orçamentos das universidades públicas, a narrativa escolhida pelo governo federal ensejou as maiores manifestações de rua contra Bolsonaro até agora. Ao ridicularizar o trabalho nas universidades e depois chamar de “idiotas úteis” os manifestantes, o presidente abriu um novo campo de críticas ao seu governo.

Ratinho Junior também já disse que precisa contingenciar recursos das instituições estaduais de ensino superior. Sua opção de discurso, entretanto, foi muito mais habilidosa e gerou, portanto, menos ruído.

“Existe um orçamento e vai ser respeitado. O que nós estamos construindo com os reitores de todas as universidades é um modelo de gestão mais eficiente. Não pode um aluno da área pública custar o dobro da área privada. Tem que ter explicações sobre isso. O dinheiro é da população. À medida que nossas universidades vão dando transparência, vão ganhando credibilidade e, automaticamente, recebem mais dinheiro”, disse o governador.

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Ambos parecem chegar ao que almejam: a redução do orçamento do ensino público superior, mas para isso Ratinho queimou muito menos capital político que Bolsonaro.

Um ponto fundamental que separa o bolsonarismo de resultado do bolsonarismo raiz é a capacidade de articulação política.

Enquanto Jair Bolsonaro optou pelo confronto com o Legislativo como tática de ação política, Ratinho Junior aposta na composição com parlamentares: e isso envolve a distribuição de cargos a deputados aliados; almoços e jantares com a base e outras lideranças políticas; e um secretariado disposto a atender as demandas dos parlamentares.

Há dois grandes símbolos que deixam clara essa disposição do Palácio Iguaçu em manter boas relações com as lideranças locais. Em fevereiro, durante uma sessão da Assembleia Legislativa em que a deputada Mabel Canto reclamava da tribuna do fato de não conseguir marcar um horário com o secretário de Educação, o líder do governo, Hussein Bakri (PSD), telefonou para o secretário e, do microfone, acertou a audiência. Outro caso que ilustra a articulação política do governador aconteceu em Brasília, na terça-feira (21). Após a realização do Paraná Day, Ratinho uniu a bancada federal para um almoço. Do encontro participou até o deputado petista Zeca Dirceu, que posou para uma foto – acompanhado de sua mãe – ao lado do governador dizendo que era o momento de dialogar e cobrar investimentos para o estado. O mesmo petista que acusou Paulo Guedes de agir como “tchutchuca com banqueiros e tigrão com trabalhadores” tirou foto ao lado do governador que vai privatizar estatais e cortar recursos da educação.

Essa predisposição à articulação tem permitido ao governador aprovar projetos de seu interesse na Assembleia e saber que tem base para passar projetos que podem gerar mais ruído como, por exemplo, a privatização da Copel Telecom.

Com modos distintos de ação, Ratinho tem conseguido implementar projetos caros à pauta bolsonarista que nem o próprio Bolsonaro, imobilizado pela inabilidade política, tem conseguido fazer prosperar.

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