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Semana passada, María Corina Machado foi anunciada como ganhadora do Prêmio Nobel da Paz de 2025. Esta mulher, lembremos, teve a coragem que muitos marmanjos ditos defensores da democracia jamais tiveram: peitou um ditador, Nicolás Maduro, que hoje controla a Venezuela, mandando e desmandando no Judiciário, no Legislativo, no Exército, nas milícias, nas eleições, na imprensa – enfim, cumprindo direitinho o papel de mais um líder autoritário sul-americano. Mas, como Maduro é “companheiro” das demais autocracias que afogam a liberdade mundo afora, não tardaram os latidos do pessoal que idolatra Fidel Castro e Mao contra María Corina. Melhor seria, disseram, ter dado o prêmio a... Greta Thunberg.
Falar absurdos, espalhar mentiras, distorcer a realidade e inventar lorotas são coisas comuns para quem acha que vale tudo em nome do poder ou do partido. Não teve gente que disse que foi Lula – e não Trump – quem acabou com a guerra em Gaza? Não causa nenhuma surpresa, assim, que a militância se apressasse em tentar rebaixar Corina – coisa que já haviam feito outras vezes – à categoria de mais uma “fascista”, ou seja, alguém que não faz parte da esquerda e insiste em defender a liberdade – a verdadeira criptonita de qualquer regime autocrático – e que, por isso, nem é gente.
Choramingar que Greta Thunberg seria mais merecedora do prêmio que Corina é uma desfaçatez, mas explica muito bem como a cabecinha progressista trabalha
Entre as matérias da imprensa oficial falando que Corina criticou Lula – vejam só, que crime absurdo dessa mulher ousar criticar o apoio de Lula ao ditador Maduro –, falou bem de Milei ou mencionando que Corina dedicou o prêmio a Donald Trump – mais um crime, na visão esquerdopática –, pipocaram aqui e ali menções sobre a “injustiça” do comitê do Nobel, que ignorou a verdadeira heroína da paz mundial: Greta Thunberg. Teve gente que escreveu que até os "seres do mar" sabem que Greta merecia o prêmio.
Aqui, um reconhecimento: é preciso elogiar a capacidade bovina de seguir o mestre dos militantes progressistas. Bastou um iluminado mencionar a ideia que todos vão seguindo atrás, compartilhando a mesma coisa. É assim que ideais sem pé nem cabeça proliferam como moscas da fruta em banana pobre. Choramingar que Greta Thunberg seria mais merecedora do prêmio que Corina é uma desfaçatez, mas explica muito bem como a cabecinha progressista trabalha.
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É bem simples, aliás: só vale premiar, elogiar, bater palmas para quem é de esquerda – ou está alinhado ao que o pensamento progressista late aos quatro ventos como se fosse verdade absoluta. Não se encaixou aqui, sai fora que é fascista, um aliado do “imperialismo” e tantas outras palavras que são usadas sem se conhecer seu real sentido. A questão de haver, de fato, uma ditadura na Venezuela, que já fez milhões fugirem do país, não importa. Aliás, sendo Maduro de esquerda, um progressista, tudo o que ele fizer é permitido e não pode ser criticado, e qualquer um que se opuser a ele “merece” ser perseguido, colocado na cadeia, calado. Nessa lógica, María Corina deveria estar na cadeia por se opor a Maduro.
Já Greta Thunberg – ah, a Greta Thunberg! – anda bem alinhada ao pensamento progressista, ao menos por enquanto. Que ninguém se engane: se Greta mudar de atitude, se falar mal de algum autocrata da esquerda, facilmente pode virar “fascista” do dia para a noite. Mas, neste momento, logo após Greta ganhar holofotes com sua “flotilha” inútil (aliás, Greta e os petistas que a acompanhavam na flotilha podem agora ir tranquilamente para Gaza levar ajuda e reconstruir casas para os palestinos), sua imagem é útil para desviar os olhos do que realmente importa: a luta de María Corina contra a ditadura venezuelana, que escancara o quão vis são os regimes fundamentados no socialismo e no comunismo.




