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José Fucs

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Militância

A direita e os descaminhos da ONU

Plenário da Assembleia Geral da ONU durante discurso do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu (Foto: Angel Colmenares/EFE)

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A 80ª Assembleia Geral da ONU, encerrada nesta segunda-feira (29), reforçou os questionamentos de líderes da direita internacional e de grupos conservadores e nacionalistas em relação ao papel desempenhado pela instituição, à legitimidade de suas decisões e à sua própria sobrevivência como órgão de alcance global.

Dominada por uma burocracia com forte viés esquerdista e antiocidental, afinada ideologicamente com as suas bandeiras, a ONU se tornou alvo de fortes críticas da direita por querer impor a sua agenda globalista, sobrepondo-a aos interesses dos Estados nacionais e às prioridades definidas por suas populações e abraçadas por seus líderes.

É o caso, por exemplo, da chamada Agenda 2030, que é um plano da instituição, a ser implementado pelos 193 países membros, para criar uma mundo “mais justo e sustentável”, por meio de ações que estão longe de representar uma unanimidade e são associadas, em boa medida, às propostas defendidas por grupos políticos e lideranças de esquerda.

Os questionamentos da direita se baseiam também na percepção de que a ONU tem apoiado, explicita ou veladamente, de forma direta ou indireta, por meio de órgãos a ela vinculados e de ONGs “amigas”, organizações terroristas como o Hamas e a imigração ilegal desenfreada do Terceiro Mundo para os países desenvolvidos.

Dominada por uma burocracia com forte viés esquerdista e antiocidental, afinada ideologicamente com as suas bandeiras, a ONU se tornou alvo de fortes críticas da direita por querer impor a sua agenda globalista

Num mundo em que a maioria dos países é dominada por ditaduras, regimes autocráticos e democracias de fachada, há ainda muitas reservas em relação às decisões aprovadas pelo conjunto das nações. E, para completar, a instituição perdeu muito de sua credibilidade, ao incluir em seu Conselho de Direitos Humanos países como Irã e Cuba, que são conhecidos violadores das liberdades.

Tudo isso ou quase tudo aflorou na Assembleia Geral da ONU, escancarando os seus descaminhos. O encontro não serviu apenas de palanque para discursos embolorados de representantes da esquerda latino-americana, como abriu os seus microfones para vozes que até ontem ou anteontem eram líderes de organizações terroristas.

O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, por exemplo, defendeu as ditaduras de Cuba e da Venezuela, relativizou o terrorismo do Hamas e se colocou contra a economia de mercado e a classificação do crime organizado como terrorismo. Seu brother Gustavo Petro, presidente da Colômbia e ex-integrante do grupo guerrilheiro M-19, por sua vez, exaltou o comunista Joseph Stálin, líder sanguinário da ex-União Soviética, responsável pela morte de milhões de pessoas.

Depois, com um megafone em punho, Petro foi às ruas de Nova York, onde fica a sede da ONU, pregar que soldados americanos desobedecessem as ordens do presidente Donald Trump e ainda incitou a violência da população contra o governo, o que levou a perder o seu visto para os Estados Unidos.

De quebra, o atual presidente da Síria, Ahmed Hussein al-Shar’a, também conhecido por seu “nome de guerra” Muhammad Al-Jawlani, que era um dos líderes do Estado Islâmico e da Al-Qaeda, responsável pelo atentado às Torres Gêmeas em Nova York em 2001, subiu à tribuna para dar o seu recado e foi aplaudido por muitas das delegações presentes ao encontro. Detalhe: sob seu regime, na Síria, terroristas islâmicos têm promovido a queima em série de aldeias cristãs e drusas, além do massacre a sangue-frio de seus habitantes.

No que parece ter sido um triplo ato de sabotagem de funcionários da ONU contra Trump, considerado como uma espécie de anticristo pela sua burocracia e pela esquerda, a escada rolante que conduz ao plenário da instituição parou de funcionar no momento em que sua mulher Melania, que o acompanhava, pisou no primeiro degrau. Em seguida, o teleprompter em que Trump estava lendo o seu discurso parou de funcionar e o volume de áudio do plenário ficou bem mais baixo do que estava durante as falas de seus antecessores no púlpito, com o aparente objetivo de embaraçá-lo.

“A ONU deve impedir invasões, não criá-las e financiá-las”, afirmou Trump na ONU, ao acusar a instituição de ter aplicado US$ 372 milhões para apoiar viagens de imigrantes ilegais para os EUA e fornecer alimentação, habitação, transporte e cartões de débito aos forasteiros irregulares que entraram no país. “Todo o conceito globalista de pedir às nações industrializadas e bem-sucedidas que causem dor a si mesmas e afetem de forma radical as suas sociedades deve ser totalmente rejeitado.”

O presidente americano também criticou a atuação da ONU na promoção da paz mundial, que estava entre as principais missões que lhe foram dadas quando de sua criação em 1945, após o fim da 2ª Guerra Mundial. “Num período de apenas sete meses, acabei com sete guerras infindáveis. Nenhum presidente ou primeiro-ministro – e, aliás, nenhum outro país – jamais fez algo parecido. Acabei com sete guerras, negociei com os líderes de cada um desses países e nunca recebi um único telefonema das Nações Unidas oferecendo ajuda para finalizar um acordo.”

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Nada, porém, parece simbolizar mais os descaminhos da ONU que o tratamento dado a Israel na Assembleia Geral e em eventos paralelos, impulsionando acusações de antissionismo e o antissemitismo por parte do país e de seus aliados.

Embora a missão diplomática de Israel tenha pedido para o Conselho de Segurança reagendar uma reunião sobre Gaza marcada para 23 de setembro, em razão da celebração do feriado do Rosh Hashaná (ano-novo judaico) no mesmo dia, a data foi mantida, ainda que fosse de conhecimento geral que isso impediria, como acabou impedindo, a participação israelense na discussão.

Quando o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, subiu ao púlpito para fazer o seu discurso, a maior parte das delegações presentes ao plenário deixou o evento, inclusive a do Brasil de Lula, em sinal de protesto contra um suposto “genocídio” que estaria sendo cometido na Faixa de Gaza pelo país.

De acordo com uma reportagem publicada pelo jornal The Jerusalem Post, representantes palestinos enviaram uma carta às delegações presentes à Assembleia Geral, pedindo para que elas enchessem o plenário e a área reservada aos visitantes com o maior número possível de funcionários, para que o efeito do esvaziamento das salas durante o discurso de Netanyahu fosse amplificado.

Entre os países árabes, a única delegação que permaneceu no plenário durante todo o discurso do líder israelense foi a dos Emirados Árabes Unidos, que foi o primeiro, ao lado de Bahrein, a reconhecer o direito de existência de Israel, em 2020, no primeiro mandato de Trump, desde que o Egito e a Jordânia fizeram o mesmo, em 1980 e 1994, respectivamente. Na contramão de seus vizinhos no Oriente Médio, o  ministro das Relações Exteriores do país, Sheik Abdullah bin Zayed, manteve também um encontro oficial com Netanyahu em paralelo à Assembleia da ONU, com o intuito de buscar um cessar-fogo permanente e sustentável em Gaza e um acordo de paz baseado na solução de dois Estados.

Entre 2015 e 2022, conforme um levantamento realizado pela UN Watch, organização independente cuja missão é monitorar a atuação das Nações Unidas, a Assembleia Geral da instituição adotou nada menos que 140 resoluções contra Israel ante 68 para todos os outros países.

É como disse o presidente da Argentina, Javier Milei, em seu discurso: “A ONU deixou de defender os princípios delineados na sua declaração de fundação. Há um padrão de votação sistemática contra Israel, o único país no Oriente Médio que defende a democracia liberal, ao mesmo tempo em que há a demonstração de uma incapacidade total de responder ao terrorismo”.

Segundo Milei, a ONU é “uma organização em decadência”, que está mais empenhada em “impor políticas ideológicas coletivistas” do que em garantir a liberdade das pessoas pelo mundo. “Em determinado momento, esta organização deixou de defender os princípios delineados na declaração de sua fundação. Tornou-se um Leviatã com múltiplos tentáculos que procura decidir o que cada nação deve fazer e como os cidadãos do mundo devem viver”, disse o presidente argentino. “O mesmo acontece com as ideias da esquerda. Elas desenham um modelo levando em conta o que os seres humanos devem fazer e, quando os resultados são diferentes do que eles esperavam, eles reprimem, restringem e cortam as liberdades.”

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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