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A última pesquisa Genial/Quaest, divulgada na semana passada, que mostrou uma ligeira melhora na avaliação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de seu governo pelo segundo mês seguido, turbinou o ufanismo do Planalto, do PT e de seus aliados em relação às perspectivas para as eleições de 2026.
Embora Lula tenha dito que nunca levou “a sério” as pesquisas, quando elas apontaram o pior desempenho de seus três mandatos, em fevereiro, o resultado do levantamento da Quaest – que reforçou os de outras sondagens divulgadas recentemente – foi o suficiente para ele voltar a pontificar por aí sobre a sua reeleição.
“Um mandato do Lula incomodou muita gente. Dois mandatos incomodou (sic) muito mais. Três mandatos, muito muito mais. Imagina se tiver um quarto mandato como vão ficar incomodados”, disse Lula logo em seguida à divulgação da pesquisa, em evento realizado em Sorocaba, no interior de São Paulo.
Os seus apoiadores também aproveitaram a oportunidade para soltar rojões virtuais, adiantando o resultado das urnas, como torcedores que “cantam” a vitória de seu time antes do jogo começar. “É tetra”, afirmou o deputado petista Lindbergh Farias em suas redes sociais, celebrando desde já, a mais de um ano da realização do pleito, uma iminente vitória de Lula.
A questão é que o oba-oba do presidente e de sua tropa de choque pode até reforçar o ilusionismo petista, mas tem pouco ou nada a ver com a realidade. Apesar de eles se mostrarem empenhados em impulsionar um clima de “já ganhou” – acreditando, talvez, que isso possa contagiar o eleitorado hoje refratário a Lula e a seu governo – sua reeleição está longe, muito longe, de ser favas contadas.
As próprias pesquisas que apontam uma pequena melhora na avaliação de Lula e de seu governo jogam água fria no entusiasmo da turma. Primeiro, porque, no caso do levantamento da Quaest, essa melhora se deu dentro da margem de erro, de dois pontos para cima ou para baixo. Depois, porque, mesmo que os índices de popularidade de Lula e de sua gestão tenham de fato melhorado nos últimos meses, ainda que ligeiramente, a desaprovação se manteve superior à aprovação em ambos os casos. Com o agravante de que 57% dos entrevistados, conforme a mesma pesquisa, afirmaram que o Brasil está indo na direção errada, o que não é pouca coisa.
Uma pesquisa divulgada pelo Datafolha no início de agosto foi na mesma direção, ao mostrar uma relativa estabilidade nos índices de popularidade de Lula e de seu governo, também com a avaliação negativa ainda superando a positiva nos dois casos. Até entre os que fizeram o L em 2022, 10% avaliaram o atual governo como ruim ou péssimo, segundo o levantamento – um contingente que provavelmente representa boa parte do grupo que votou em Lula de nariz tampado, “pela democracia”, imaginando ingenuamente, talvez, que desta vez o seu governo seria diferente das demais gestões petistas.
Embora se trate de uma fatia relativamente pequena do eleitorado, ela foi decisiva para a sua vitória em 2022, numa disputa acirrada. O afastamento desse grupo de Lula agora representa uma perda que dificilmente será compensada daqui para a frente. Diante dos rumos de seu governo, que assumiu as feições emboloradas dos governos anteriores do PT, parece improvável que um número significativo de eleitores que não votaram nele no último pleito esteja disposto a fazê-lo em 2026, limitando o seu teto na preferência popular.
O laboratório de geração de narrativas pró-Lula vai funcionar a todo vapor e a mão pesada do STF, com apoio nada discreto do governo, deverá continuar a se fazer sentir sobre a oposição
Mesmo em meio ao “linchamento” promovido por petistas e pelo STF (Supremo Tribunal Federal) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, uma terceira sondagem, divulgada no fim de julho pelo instituto PoderData, mostrou que 40% dos eleitores consideravam o governo Lula pior que o de seu antecessor, enquanto apenas 33% afirmaram o contrário e 24% avaliaram os dois governos como semelhantes.
Entre as principais pesquisas divulgadas nas ultimas semanas, apenas a do instituto AtlasIntel apontou que a discreta melhora na popularidade de Lula foi suficiente para que o seu índice de aprovação voltasse a superar o de desaprovação, ainda que por muito pouco – 50,2% contra 49,7%. Mas, em relação a seu governo, a avaliação negativa, de 48,2%, continuou acima da positiva, de 46,6%, apesar da melhora também registrada recentemente no indicador.
Mesmo nesse cenário, o cientista político Andrei Roman, CEO da AtlasIntel, afirmou que “hoje há uma chance maior de Lula perder do que ganhar”. Em sua visão, é “muito difícil”, no contexto de polarização política do país, que Lula consiga “uma aprovação muito maior do que os 50% que ele tem hoje”, devido à “resistência à sua figura no campo identitário da direita” e ao apoio que o bolsonarismo e o segmento que é antipetista, mas não se define como bolsonarista, têm na sociedade – uma fatia que representa atualmente, segundo os seus cálculos, entre 45% e 55% dos eleitores.
De acordo com a narrativa dominante, muito da recuperação esboçada por Lula nas pesquisas se deve à sua reação ao “tarifaço” imposto às exportações brasileiras pelo presidente americano, Donald Trump, e às sanções também adotadas por ele contra o ministro Alexandre de Moraes, a e alguns de seus colegas do STF e a representantes do Executivo e do Legislativo.
Os diretores dos institutos AtlasIntel e Quaest até disseram que as bravatas em série de Lula em defesa da “soberania nacional” e contra os “traidores da pátria” contribuíram para ressuscitá-lo politicamente, assim como a relativa estabilidade da inflação e a queda nos preços dos alimentos nos últimos meses. No entanto, um novo levantamento divulgado pelo Datafolha em meados de agosto colocou em xeque a percepção de que as sanções de Trump e a reação de Lula “ajudaram a revigorar um governo sem viço e em viés de baixa”, como afirmou outro dia um analista.
Segundo a pesquisa do Datafolha, 35% dos entrevistados responsabilizaram Lula pelo tarifaço, ao contrário do que esperavam o Planalto e seus aliados, mesmo com o governo martelando o tempo todo que a medidas estavam relacionadas às ações do clã Bolsonaro junto ao governo Trump. Apenas 22% disseram que o ex-presidente era responsável pela medida. Outros 17% apontaram o seu filho Eduardo Bolsonaro como culpado, e 15%, Alexandre de Moraes.
Em meados de julho, uma pesquisa anterior da Quaest já havia mostrado que quatro em cada dez entrevistados achavam que as críticas de Lula a Trump, ao dólar e aos Estados Unidos na Cúpula dos Brics, realizada dias antes no Rio de Janeiro, pesaram mais na decisão do presidente americano de impor sanções ao país do que as gestões feitas pela família Bolsonaro em Washington, em nome do fim da perseguição a Bolsonaro e a seus apoiadores e dos abusos de Moraes e do STF contra a liberdade de expressão, endossados pelo governo petista.
Apesar de a última pesquisa da Quaest ter apontado que 48% dos entrevistados acreditavam que Lula estava agindo de forma correta ao lidar com a questão e só 28% terem declarado que Bolsonaro e seus aliados é que estavam certos, 67% disseram que o Brasil deveria negociar com os Estados Unidos, diferentemente do que tem feito Lula, ainda que o discurso oficial seja de que o governo brasileiro está aberto à negociação.
Como mostram os resultados das pesquisas, a narrativa de que as medidas de Trump contra o Brasil gerariam no país um efeito semelhante ao ocorrido no Canadá, onde as afirmações do presidente americano sobre uma possível anexação do país acabaram favorecendo o candidato da esquerda em prejuízo do candidato da direita, também parece improvável. Inclusive porque até as eleições, ao que tudo indica, as sanções de Trump deverão perder a relevância que têm hoje no debate.
Em busca de uma boia para manter Lula na superfície, vale tudo. Alguns analistas viram na ligeira recuperação de sua popularidade uma demonstração de que a sua rejeição pode não ser estrutural, mas estar ligada a aspectos econômicos conjunturais, como a estabilização da inflação e a retração nos preços dos alimentos.
Nesta altura do campeonato, o laboratório de geração de narrativas pró-Lula vai funcionar a todo vapor e a mão pesada do STF, com apoio nada discreto do governo, deverá continuar a se fazer sentir sobre a oposição. Não faltam indicadores nas pesquisas, - porém, para quem quiser ver, - que mostram que a vida real é bem diferente do enredo fantasioso propagado pelo PT, pelo STF e por seus aliados e reproduzido por aí sem qualquer filtro crítico.




