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José Fucs

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O ódio a Bolsonaro, a “direita limpinha”, os “isentões” e a frente anti-Lula em 2026

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O presidente Lula durante evento na Ilha de Marajó, em 2 de outubro. (Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República)

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Com a aproximação das eleições de 2026 e o provável impedimento de o ex-presidente Jair Bolsonaro participar do pleito, há muita especulação rolando por aí sobre qual a melhor estratégia para a oposição enfrentar de forma competitiva o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a esquerda na disputa – e não é para menos.

Afinal, diante dos rumos trilhados pelo atual governo, ninguém do campo oposicionista quer deixar a porta aberta para mais quatro anos de lulopetismo no comando do país. A elaboração de uma estratégia consistente e bem articulada para enfrentar o demiurgo petista nas urnas, portanto, é o primeiro passo para viabilizar a sua ordem de despejo do Palácio do Planalto.

Mesmo o tal do centro democrático, a centro-esquerda de plumagem tucana e até uma parcela da centro-direita – que fizeram o L em 2022 “pela democracia”, mas acabaram engolidos pelas ambições hegemônicas do PT –parecem dispostos agora a buscar uma composição com a oposição, para impedir um novo mandato de Lula.

A construção de um “frentão” para derrotar o líder petista, porém, tem de passar primeiro pelo reconhecimento da força política de Bolsonaro. Independentemente do que se pense sobre o ex-presidente, não dá para negar que ele ainda mantém boa parte de sua popularidade e de seu capital político e que o seu aval será fundamental para qualquer candidatura de oposição a Lula ser bem-sucedida.

Mesmo em meio aos reveses que ele tem sofrido, é difícil imaginar que seja possível haver uma candidatura competitiva para enfrentar Lula em 2026 sem a sua benção. Com um apoio calculado, no pior cenário, entre 20% a 30% do eleitorado, Bolsonaro continua a ser um tremendo cabo eleitoral, para o bem ou para o mal, para quem quer que pretenda enfrentar Lula com reais chances de vitória – e é aí que começa o problema para amalgamar uma frente de oposição contra o líder petista.

Pelo ódio que sentem por Bolsonaro e pela rejeição que têm a tudo que a ele se relacione, nem a chamada “direita limpinha” nem os famigerados “isentões”, que ficaram “em cima do muro” na última eleição, votando nulo ou em branco, nem os “zumbis” do PSDB parecem admitir hoje qualquer tipo de composição com o ex-presidente, mesmo que isso amplie as probabilidades de reeleição de Lula.

A formação de um frentão anti-Lula em 2026 já no 1º turno parece improvável no momento. Mas isso não significa que a direita e a centro-direita vão entrar em desvantagem nas eleições nem deve gerar ansiedade em seus apoiadores

Imersos em um processo de negação da força política de Bolsonaro, que, segundo eles, desidratou-se politicamente com todo o processo relacionado ao suposto golpe de Estado que teria articulado, representantes dos três grupos têm procurado relativizar a sua herança, acreditando que o apoio do ex-presidente a um candidato anti-Lula se tornou dispensável para garantir o seu sucesso nas urnas.

O maior sonho dessa turma, na verdade, seria ver o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite – um social-democrata típico, que até anteontem estava no PSDB e se bandeou recentemente para o PSD – entrando na disputa para representá-la. Mas, como isso se mostra improvável no momento, até porque o governador do Paraná, Ratinho Júnior, que também é do PSD, parece ter a preferência do partido, eles estão fazendo todos os tipos de conjecturas, para não ter de ficar “em cima do muro” ou acabar se unindo a Lula de novo, como aconteceu em 2022.

Em seus devaneios, chegaram a propor até que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, apontado como o mais competitivo no tabuleiro eleitoral para enfrentar Lula, apesar de já ter dito que pretende buscar a reeleição, renegue o seu padrinho político, para ser unir a eles – que sempre se opuseram a Bolsonaro e “passaram pano” desde o princípio, em muitos casos, para as ações arbitrárias do STF (Supremo Tribunal Federal) contra o ex-presidente e o seu grupo político.

Na pior das hipóteses, caso Tarcísio realmente não dispute a Presidência, gostariam que outro possível candidato da oposição, como o próprio Ratinho Júnior ou os governadores de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), fizessem o mesmo, isolando Bolsonaro e os seus aliados. Isso permitiria a formação de uma aliança entre o que eles chamam de “direita democrática” e as forças de centro e de centro-esquerda, viabilizando uma candidatura da chamada “terceira via”.

Nada indica até agora, no entanto, que qualquer um dos possíveis candidatos da oposição, todos do campo da direita e da centro-direita, pretenda embarcar nessa canoa furada, antagonizando-se com o ex-presidente e sua tropa de choque. Ou seja, se quiser de fato tirar Lula do Planalto, esse pessoal terá de abraçar o mesmo candidato do ex-presidente, ainda que seja apenas no segundo turno, como fizeram em 2022, ao apoiar Lula “de nariz tampado” – ou nem tão tampado assim.

É certo que, hoje, em meio à polarização política, nem a “direita limpinha” nem os “isentões” nem os sobreviventes do PSDB, entre eles os autodenominados “liberais progressistas”, que caberiam numa Kombi, têm voto para seguir voo solo. Mas, diante do que promete ser uma eleição acirrada, os seus votos podem ser o fiel da balança na disputa e devem levar as forças mais à direita a sustentar um discurso político que possa incorporar ao menos parte desses grupos no bonde anti-Lula.

Além de parte da oposição buscar uma candidatura viável sem ligação com Bolsonaro, há uma disputa intestina em curso na própria direita e na centro-direita pelo apoio do ex-presidente que é até mais preocupante, pela divisão que pode causar entre os seus integrantes e pelo impacto que pode ter nas chances de vitória oposicionista no pleito.

Dos Estados Unidos, onde está morando, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, o filho 03 do ex-presidente, parece empenhado em viabilizar a sua própria candidatura à Presidência – uma solução rechaçada hoje pelos principais líderes da oposição – caso o impedimento do pai para participar das eleições se confirme, como é mais provável.

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Ao mesmo tempo em que tem procurado subsidiar as sanções do governo Trump contra ministros do STF, especialmente Alexandre de Moraes, e outras autoridades do país, Eduardo vem torpedeando qualquer articulação para que as candidaturas de Tarcísio de Freitas e de outros nomes de centro-direita recebam o apoio de Bolsonaro. Para ele, são todos “traidores” e “oportunistas”, que não representam o bolsonarismo raiz e estão tentando pegar carona num movimento para o qual deram pouca ou nenhuma contribuição.

Há sinais, ainda, de que, se Eduardo se tornar inelegível para as eleições de 2026, em decorrência de uma possível condenação na ação que corre contra ele no STF, justamente por causa de sua alegada participação nas sanções americanas, outro nome do clã – como a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro ou mesmo o seu irmão mais velho, o senador Flávio Bolsonaro – venha a receber o seu apoio e o de seus aliados, que formam a ala mais ideológica do bolsonarismo.

Segundo alguns analistas o lançamento de várias candidaturas de centro-direita, como as de Zema, Caiado, Ratinho Júnior e do próprio Tarcísio, fora a eventual candidatura de Eduardo ou de outro membro da família Bolsonaro pela direita, pode também enfraquecer a oposição na disputa contra o lulopetismo.

Por tudo isso, a formação de um “frentão” anti-Lula em 2026 já no 1º turno parece improvável no momento. Mas isso não significa que a direita e a centro-direita vão entrar em desvantagem nas eleições nem deve gerar ansiedade em seus apoiadores. Ao contrário do que pode parecer à primeira vista, o lançamento de múltiplas candidaturas pela oposição pode ser até positivo. Com vários representantes na disputa, a oposição poderá multiplicar as críticas a Lula e a seu governo, enquanto Lula terá de dispersar os ataques a seus adversários, em vez de concentrá-los em apenas um ou dois candidatos.

Provavelmente, mais importante do que formar um frentão contra o petista já na largada, será o compromisso de os candidatos da oposição derrotados no 1º turno apoiarem o mais votado do grupo no 2º turno, caso Lula seja mesmo o adversário, como parece mais provável hoje. É isso que deverá fazer a diferença para a oposição derrotar o líder petista. É isso também que vai mostrar quem quer expurgar de fato o lulopetismo do poder e quem, na hora h, vai acabar abraçando Lula, seja lá pela razão que for, ou beneficiando-o por tabela, ao ficar “em cima do muro”. Depois, não vai adiantar ficar chorando por aí, em razão dos rumos trilhados pelo governo petista e pelo país, como vem acontecendo com muita gente que fez o L em 2022, “para derrotar o bolsonarismo”.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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