Após um ano e 280 mil mortos de Covid-19 parece bem evidente que alguma coisa, ou muitíssima coisa, deu horrivelmente errado na administração da epidemia por parte das autoridades constituídas. Estão tentando, durante esse tempo todo, proibir a circulação do vírus através de restrições cada vez mais extremadas sobre a vida em sociedade – da redução das frotas de ônibus ao fechamento de prateleiras nos supermercados, experimenta-se de tudo, e nada dá certo. Se tivesse dado os números seriam outros, não é mesmo?
Como essas autoridades não vão admitir, nem nos próximos 100 anos, que possam ter errado em alguma coisa, é pouco provável que façam algo muito diferente do que vem fazendo até agora. Resta ao cidadão, diante disso tudo, acompanhar os números da vacinação – a única ação do poder público que oferece uma perspectiva de fim de túnel para a calamidade. Os números, naturalmente, são exibidos na mídia como um desastre, dentro do esforço nacional pró-pânico que marca desde o início o noticiário sobre a pandemia. Mas, quando olhados com atenção aos fatos, o quadro que aparece é diferente.
O Brasil, no momento, é o quinto país que mais aplicou vacinas no mundo em números absolutos – chegou aos 12 milhões em dois meses, e o ritmo tende a aumentar. É pouco, claro. Os Estados Unidos, mais ou menos no mesmo período, vacinaram 110 milhões de pessoas, ou mais de 40% de sua população adulta. O Brasil ainda não chegou aos 8%, descontando-se do total os 60 milhões de crianças que não podem ser vacinadas. Mas a curva aponta para cima. Se o ritmo da vacinação continuasse exatamente o mesmo de hoje, haveria um total de vacinados próximo aos 70 milhões até o fim do ano. Tudo indica que o ritmo vai ser bem mais intenso que a média mensal de 6 milhões de doses que são aplicadas hoje.
O sistema de vacinação, operado por municípios e estados, é competente e tem vasta experiência, adquirida nas campanhas regulares para a prevenção de outras doenças – consegue vacinar mais de 1 milhão de pessoas por dia. O que falta, aí, não é gente boa ou trabalho bem feito; é vacina mesmo. É claro que os números vão crescer à medida em que crescer a quantidade de doses entregue ao sistema – e é certo que vai haver mais vacinas, cada vez mais.
O processo pode ser ajudado, também, pela multiplicação do número de postos de vacinação; nos Estados Unidos, como a produção de vacinas é muito alta, as pessoas estão sendo imunizadas em muito mais lugares – até nos consultórios médicos. A combinação entre quantidade de doses disponíveis e quantidade de locais de aplicação é que responde pelos 110 milhões de vacinados americanos – a população que mais recebeu vacina até hoje em todo o planeta.
Num mundo com 200 países, estar entre os 10% (ou vinte) piores em número de mortes por 1 milhão de habitantes, como é o caso do Brasil no momento, é muito ruim. Se fosse um campeonato de futebol, seria segunda divisão na certa – embora estejamos, aí, na companhia dos países mais bem sucedidos da Terra. Mas com a vacina é o contrário: ficar no quinto melhor lugar entre esses mesmos 200, acima de qualquer país da Europa salvo a Inglaterra, é muito bom.
Se a vacina tiver, na prática, o impacto na redução de contaminações, internações hospitalares e mortes que seus defensores, até agora, garantiam que ela iria ter, o Brasil está no bom caminho. A menos que a quarentena ampla, geral e irrestrita seja decretada até o Dia do Juízo Final – em busca, aí, de uma “nova sociedade” e não mais do combate à epidemia.
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