Comissões parlamentares de inquérito, de qualquer nível e para qualquer finalidade, são possivelmente o maior clássico em matéria de fraude que a vida pública brasileira criou nos últimos 500 anos. Ao contrário do boi, nada se aproveita de uma CPI.
Jamais as investigações de deputados e senadores investigam realmente alguma coisa e, com certeza, jamais descobrem o que os seus criadores e participantes prometem descobrir. Na melhor das hipóteses, são pura perda de tempo e desperdício acintoso de dinheiro público. Na pior, e mais frequente, são apenas uma ferramenta para se fazer chantagem. Em qualquer dos casos, CPI é sinônimo de farsa, e farsa de terceira categoria. Um drama de circo teria vergonha de oferecer ao distinto público algo tão ruim.
Mesmo com esse histórico, a CPI inventada agora para “apurar responsabilidades” na administração da Covid promete ser um exagero em matéria de hipocrisia, desonestidade e mentira pura e simples. Não há absolutamente nada de concreto e objetivo a apurar – salvo, é óbvio, a única coisa que realmente deveria ser apurada: a roubalheira desesperada à qual estados e municípios se dedicam há mais de um ano, desde que receberam do STF a autonomia total para cuidar da epidemia e, por força da situação de emergência, ganharam o direito de fazer compras sem licitação.
Mas essa investigação, justamente, os parlamentares que agem no submundo do Congresso não querem fazer. Ladroagem e incompetência, só se for federal; a corrupção que de fato existe, a estadual e municipal, tem de continuar protegida.
Nada representa tão bem o espírito da coisa quanto as ameaças feitas por um dos pretendentes mais agitados à presidência da CPI. É uma obra prima. O homem, representante do Amazonas, afirmou em público — e foi levado altamente a sério por muito jornalista — que o governo federal “não fez nada para evitar a entrada do vírus no Brasil”. Acredite se quiser: foi isso mesmo o que ele disse, e é em cima dessa razão que ele quer processar o governo, certamente por genocídio.
Como assim, “não impediu”? E qual dos 200 países do mundo conseguiu impedir? Estados Unidos? Inglaterra? Austrália? A Europa supercivilizada? A África? O que ele sugere como explicação para os 3 milhões de mortes que a Covid causou no mundo até agora?
A estupidez, como se sabe desde sempre na política brasileira, é livre. O curioso é a ligeireza que os colegas do deputado e o resto do “Brasil que pensa” dedicam a surtos como esse – hoje em dia está valendo tudo, decididamente. Para coroar o seu desempenho, o candidato a chefe dessa nova farsa disse que não cederia a “pressões” para incluir os estados e municípios na CPI. É claro que não: seu estado, o Amazonas, é um daqueles em que mais se roubou por conta da epidemia.
Manaus descobriu-se de repente sem balões de oxigênio — pela simples razão de que os governos locais, que têm a responsabilidade direta pelo sistema hospitalar público, só foram se lembrar do problema quando as pessoas estavam morrendo por falta de ar. Mas o deputado não aceita “pressões”. CPI, só nos outros.
Oposição conta com pressão popular para viabilizar pedido de impeachment de Moraes
Moraes quis prender executiva do X e Caiado homenageia ministro; acompanhe o Entrelinhas
Gilmar volta a defender Moraes, mas evita comentar atuação de auxiliares
Campos Neto diz que BC considera elevar juros, mas decisão depende de projeções
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS
Deixe sua opinião