É sempre muito difícil fazer bem uma tarefa que é ruim pela própria natureza. No caso, a tarefa bichada é essa campanha da Justiça Eleitoral, mais uma, para ensinar aos eleitores como votar direito nas próximas eleições para prefeito. A intenção, em si, é um disparate: de onde os ministros do Tribunal Superior Eleitoral tiram a ideia de que são capazes de ensinar alguém a exercer “bem” o seu direito de votar – ou a fazer “bem” qualquer outra coisa?
É a incurável compulsão das autoridades públicas deste país em tratar a população brasileira como um bando de débeis mentais, sempre necessitados da ajuda da madre superiora para pensar, escolher e decidir. Além de absurda, a ideia é inútil. Se os sermões de campanha do TSE servissem para alguma coisa, o Brasil deveria ter os melhores políticos no mundo, não é mesmo? Tem esses que estão aí.
Na opinião dos próprios arquiduques dos nossos tribunais, aliás, o atual governo federal, saído diretamente das últimas eleições de 2018, é o pior que o país já teve em sua história. O que é que adianta, então, toda essa conversa de “voto consciente”? Há 31 anos, desde 1989, o Brasil faz eleições diretas para presidente da República. Há 38, desde 1982, faz eleições diretas para governador. Já deveria ter dado tempo para o brasileiro “aprender a votar” – ou tudo isso aí ainda é muito pouco? Quantos anos mais, segundo o TSE, serão necessários para essa gente entender como é que se vota do jeito que suas excelências querem?
Naturalmente, não existe uma única democracia no mundo onde se faça qualquer coisa parecida com essas campanhas pró-virtude que nos enchem a paciência há décadas. Também não existe nenhuma democracia onde o voto seja obrigatório – ou seja, onde os políticos transformaram um direito constitucional em uma obrigação. É lógico: nossas “instituições”, a “Constituição Cidadã”, etc, são muito superiores a tudo que existe no resto do planeta.
Na hora da execução, como se poderia esperar, a ideia ruim fica pior. Na atual campanha, o TSE convocou para nos dar instrução moral e cívica algumas dessas figuras que têm a profissão de “especialista”; sua especialidade é especializar-se em ser ouvido pela mídia na condição de “especialistas”. Um deles, chamado para advertir os eleitores do perigo das “fake news”, é o mesmo que disse que haveria “1 milhão de mortes” no Brasil por causa de Covid-19 se não fosse adotado um fechamento extremo de tudo, em todo o país, por tempo indeterminado: afirmou, até, que estava sendo otimista.
Não foi feito o fechamento exigido. O número de mortos está abaixo de 130 mil. Se isso não é notícia falsa, o que seria? Um outro especialista, para quem sair de casa é praticamente um crime de lesa-pátria, quer que os mesários não deixem de participar da maior “aglomeração” de gente desde o início da epidemia – as próximas eleições. É esse o nível de qualidade da campanha de propaganda do TSE.
Além de ser obrigado a ouvir isso tudo, você ainda tem de pagar – cada tostão gasto nas aulas dadas pelo TSE no rádio e televisão sai diretamente do seu bolso, através dos impostos que a máquina do Estado extorque a cada vez que o cidadão acende a luz, fala no celular ou põe um litro de combustível no tanque do carro. Qual a novidade? Se o brasileiro já paga os serviçais que puxam a cadeira dos magistrados “top de linha” na hora em que se sentam para as reuniões, as suas lagostas, os seus planos médicos cinco estrelas e tanta coisa mais, por que não teria de pagar pelas lições do TSE? É a beleza das nossas instituições.
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