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A alegação de Lula de que seu governo foi o que mais preservou a Amazônia é puro mito
| Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Dos oito países que compartilham a Amazônia com o Brasil, nenhum tem o histórico e capacidade de monitorar a floresta como os brasileiros fazem. Está no site do Inpe a mais completa radiografia do desmatamento – ano a ano, desde 1988. Sendo assim, é acessível e fácil verificar qualquer informação sobre a evolução da devastação. Mais do que isso, é no site do Inpe que está a prova de quem está mentindo ou não nesta campanha, quando o assunto é a preservação da Amazônia.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva adora dizer que foi quem mais reduziu o desmatamento. As agências de checagem já verificaram que não é bem assim. Classificam como “erro”, até.

O sobe e desce dos indicadores do desmatamento nos últimos 34 anos mostra que o “erro” de Lula foi ainda mais grosseiro. Objetivamente contabilizando a média de desmatamento por cada ciclo de governo, Lula estaria justamente na posição inversa a que ele e o PT vendem e na qual seus seguidores teimam em acreditar.

No ranking da devastação, o primeiro mandato de Lula ocuparia a primeira posição. Em seu governo, a floresta perdeu 21.617 km2 por ano. Os governos de Fernando Henrique Cardoso ocupam a segunda (segundo mandato) e a terceira posição (primeiro mandato).

Desafortunadamente para a floresta, para o Brasil e para o mundo, no primeiro mandato de Lula, a Amazônia sofreu como nunca antes desde o início do monitoramento. Essa é uma conta que não dá para apagar.

Lula tem em seu favor uma queda acentuada na devastação na segunda metade de seu primeiro mandato, que impediu a tendência trágica de seu governo que, além de ter a estrela do ambientalismo global Marina Silva como ministra do Ambiente, contava com a simpatia das ONGs em atividade na Amazônia. Muitas delas, por sinal, perderam nomes de seus quadros que foram transplantados para repartições dos órgãos ambientais.

A queda das taxas parece ter arrefecido o compromisso de Lula em proteger a floresta. O sintoma mais evidente foi como Marina Silva se demitiu do governo em maio de 2008, ano em que a taxa de desmatamento voltaria a empinar depois de três anos de quedas sucessivas.

Marina enviou uma carta para Lula na qual deixou claro que não tinha mais condições de trabalhar. “Esta difícil decisão, Sr. Presidente, decorre das dificuldades que tenho enfrentado há algum tempo para dar prosseguimento à agenda ambiental federal”, escreveu a então ministra. Ela se queixou do fato de ter sido tratorada pelo grupo desenvolvimentista liderado pela “Mãe do PAC”, Dilma Rousseff.

Era de conhecimento público que Marina havia sido pressionada a abrir a porteira de projetos de infraestrutura na Amazônia, afrouxando as regras de licenciamento. Ao recusar-se a deixar passar a boiada (como definiu certa vez o ex-ministro bolsonarista Ricardo Salles), Marina já havia colocado o cargo à disposição ainda no começo do segundo mandato de Lula.

Se, com Marina, a Amazônia já estava em segundo plano, sem ela a floresta parecia ser candidata a ser transformada em um grande estacionamento.

Não demorou para Marina deixar o PT e se aventurar-se no PV, partido pelo qual saiu candidata à presidência da República em 2010. Derrotada por Dilma e tratada como traidora por muitos petistas, a ex-ministra do Meio Ambiente fundou a Rede.

O ex-presidente e candidato Lula trata seu desempenho na área ambiental como algo espetacular e digno de celebração. Pura autoindulgência de dimensões amazônicas.

Jair Bolsonaro, que herdou uma curva ascendente do governo Temer e registra taxas crescentes, está fora do pódio dos campeões do desmatamento, mas não está longe dele. Na quarta posição, seu governo coincide com um período de alta valorização do dólar e de pressão por alimentos. A tempestade perfeita para expansão da fronteira agrícola. Fatores econômicos que são agravados por uma ruptura nas ações de comando e controle na selva. Bolsonaro pouco fez para reverter a situação.

Os debates – eleitorais ou não – tergiversam o essencial sobre a região. A Amazônia não é só um amontoado de árvores com uma biodiversidade sem igual. A floresta comporta metrópoles como Belém e Manaus. Uma lista consistente de cidades médias e uma infinidade de municípios, vilas e assentamentos que, junto com os índios e ribeirinhos espraiados pela mata, formam uma população de mais de 30 milhões de habitantes.

A gritaria oculta o fato de que a Amazônia é pobre. Muito pobre. A lista dos municípios com os piores índices de desenvolvimento humano do Brasil é dominada pelas cidades amazônicas.

Pensar somente nas árvores, criminalizar quem vive na floresta ou pensar que a subsistência delas deve ser construída sobre uma lógica extrativista pré-industrial é cruel.

A Amazônia é uma terra de mitos. O seu próprio nome é derivado de um. Mas é preciso parar por aí. Não haverá salvação para a Amazônia sem passar pelo desenvolvimento de seus habitantes. E a salvação aqui não tem relação alguma com a catástrofe ambiental que é iminente há quase 40 anos. A região precisa de governança, modernidade, trabalho e renda para valer. Blá blá blá de campanha não vai proteger a Amazônia e nem cuidar de quem vive nela.

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