• Carregando...
O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, que ajuizou uma ação para cobrar US$ 10 bilhões da indústria de armas dos Estados Unidos
O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, que ajuizou uma ação para cobrar US$ 10 bilhões da indústria de armas dos Estados Unidos| Foto: EFE/Isaac Esquivel

O México é um dos lugares mais violentos do planeta. Para o governo do presidente Andrés Manuel López Obrador, é por culpa dos Estados Unidos. Mais especificamente, da indústria de armas sediada na América que produz a maior parte do arsenal que cai nas mãos dos bandidos mexicanos. Por isso, ele tomou a iniciativa de pedir uma indenização polpuda. Ajuizou uma ação de US$ 10 bilhões contra as empresas do setor. O caso obviamente foi rejeitado pela Justiça americana. Mas AMLO não desiste. Usou seu chanceler Marcelo Ebrard para anunciar que recorrerá e que não desistirá de cobrar a conta dos americanos. No ano passado, o México registrou 34 mil homicídios.

Embora pareça, AMLO não é um idiota. Não mesmo. A estratégia de culpar as armas americanas funciona para sua claque doméstica e para o ativismo do lado norte da fronteira. Nas duas frentes, ele desvia o foco, que deveria estar sobre as raízes da violência em seu país. AMLO sabe muito bem que as armas não são a causa, mas uma consequência da tragédia mexicana que tem sua origem no tráfico de drogas. AMLO sabe muito bem – dá para cravar – que a combinação de um Estado corrupto e complacente com o crime bem ao lado da maior economia do planeta (e não por acaso o maior mercado consumidor de cocaína) fez do México o maior entreposto de drogas do mundo.

Algo próximo a 100% da cocaína que chega aos Estados Unidos ou passa pelo México, ou tem a distribuição pelas redes de tráfico controladas pelos cartéis mexicanos. E não só a cocaína. Maconha, heroína e opióides originários dos quatro cantos do mundo fazem escala no México antes de desembarcar nos Estados Unidos.

Não se trata de fazer o jogo de quem ou onde se morre mais, mas no ano passado mais de 100 mil americanos morreram de overdose. Uma em cada cinco mortes foi causada pelo consumo de cocaína. Mais da metade das mortes testaram positivo para fentanil – um opióide sintético –, que também é traficado desde o México.

Mas AMLO acha que o problema do México é a indústria de armas nos Estados Unidos.

O presidente mexicano, que não é nada bobo, sabe muito bem de onde vem a droga que deságua em seu país para inundar os Estados Unidos e encher os bolsos dos cartéis de tráfico. Fortuna que não serve apenas para comprar armas, mas também influência, poder e políticos.

A cocaína vem dos traficantes colombianos, peruanos e bolivianos, mas AMLO prefere ignorar. Parte dela antes repousa na Venezuela e em Cuba, antes de aterrissar em solo mexicano. Os dois regimes moram no coração do presidente mexicano, portanto, não há a menor chance de ele reclamar.

Os cartéis de drogas controlam fatias do território mexicano, aterrorizam os cidadãos, comandam o tráfico humano rumo aos Estados Unidos, mantendo uma rede de aliciadores e coiotes que arrecada fortunas dos imigrantes que, em muitos casos, estão fugindo dos ambientes de violência primal implantada pelos cartéis no México e pelas gangues centro-americanas.

É verdade que o contrabando de armas é um problema a ser combatido. Mas ele só existe porque o tráfico de drogas e a falência do México frente aos cartéis criaram as condições para que ele exista. Portanto, desviar o foco do problema, além de populismo barato, parece ser estratégia de quem quer mostrar que traficante também é vítima. Um dos artifícios do lobby pela liberação das drogas, que aposta no fim da violência com a liberação da produção, venda e consumo.

A inovação mexicana de querer processar os fabricantes de armas poderia fazer algum sentido se ela viesse acompanhada de um conjunto de outras ações internacionais. Por exemplo, um pedido de indenização endereçada às Confederações de Produtores de Coca da Bolívia, cuja produção é majoritariamente destinada ao tráfico. O presidente da organização é o ex-presidente Evo Morales, amigo-irmão de AMLO. Também seria preciso uma cobrança bilionária do regime de Nicolás Maduro, que, desde os tempos de Hugo Chávez, usa o aparato do Estado para permitir que toneladas e toneladas de drogas sejam despachadas para o México.

Mas claro que isso é bobagem. AMLO sabe muito bem o que faz.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]