
Ouça este conteúdo
Na noite de 14 de setembro de 2025, a atriz americana Hannah Einbinder subiu ao palco do Emmy, ergueu a estatueta e fechou o discurso com “Palestina Livre”, temperado com um “f*** ICE”. “ICE” não quer dizer gelo, não. É como o serviço de imigração e controle de fronteiras dos Estados Unidos é conhecido por suas iniciais em inglês.
Pois bem. Na sequência, ela explicou à imprensa que, como judia, sente a obrigação de distinguir entre o judaísmo e o Estado de Israel. O detalhe está no que veio depois: um perfil nas redes sociais alinhado ao Hamas, o Quds News Network, correu para transformar o clipe em propaganda, mas com um detalhe: borrando os ombros e o decote da atriz. Palestina Livre! Mulheres, nem tanto.
A cena é aparentemente trivial, mas revela uma contradição que muitos preferem não enxergar: parte do ativismo “pró-Palestina” na arena cultural ocidental presta um serviço involuntário a uma facção que sequestrou a própria sociedade palestina e a trata como figurante descartável.
O caso Einbinder é didático: a palavra da celebridade é útil à propaganda. Mas não só isso. São tão bobos que se sujeitam ao fato de que o Hamas nem sequer se esforça para fingir ser tolerante.
O Hamas usa a religião como cobertura para um radicalismo letal que os militantes ocidentais fecham os olhos para justificar o apoio imoral aos terroristas
Em Gaza, onde o Hamas governa de fato desde 2007, não é de hoje que o zelo pela “modéstia” serve como instrumento de controle social. Já em 2009, a Human Rights Watch documentou imposições de códigos religiosos de vestimenta a alunas e a expansão de ordens que violavam liberdades individuais.
A mensagem implícita era clara: a política começa pelo guarda-roupa e pelo medo. Quem aplaude o discurso de uma atriz nos Estados Unidos, mas silencia quando os mesmos militantes borram os ombros femininos dela, vive em uma realidade distorcida.
Em 7 de outubro de 2023, o Hamas cometeu crimes de guerra e crimes contra a humanidade em território israelense, incluindo a morte e o sequestro de civis (muitos deles mulheres, idosos e crianças). A manutenção dos reféns é um crime em curso.
O ponto central é o seguinte: quando uma organização pratica esse repertório de bestialidades e domina um território usando seu povo como escudo humano, qualquer slogan que não mencione os reféns, nem a natureza do regime em Gaza, é a mais pura propaganda.
A fala de Hannah Einbinder movimentou o mundo das celebridades pró-Hamas. As críticas a ela estão sendo tratadas como tentativa de censura. Bobagem. Criticar o que ela diz é tão legítimo quanto o direito que ela tem de dizer as bobagens que diz.
A atriz pode e deve continuar dizendo o que bem entender. É até bom. Esse tipo de situação é educativo e nos mostra como esse pensamento torto nasce de gente que não consegue ligar dois pontos nitidamente visíveis.
Como gritar “Palestina Livre” se as pessoas que vivem lá não são livres? O borrão no vestido é tão evidente sobre isso, mas a turma do amor não consegue ver. Como bem escreveu e cantou Caetano Veloso: “O amor é cego. Ray Charles é cego. Stevie Wonder é cego. E o albino Hermeto não enxerga muito bem”.
A ausência de qualquer crítica ao borrão no decote de Hannah Einbinder só confirma que os adoradores do Hamas não viram nada que os incomodasse.
Hannah Einbinder não é o problema, que fique claro. Ela estava no seu direito de estar linda e dizer o que bem entende. Ela é mais uma vítima do Hamas. Seu retrato borrado é um registro de que o Hamas não poupa nem seus aliados.
Os terroristas têm a sorte de que há uma espécie de síndrome de Estocolmo generalizada, que permite que os seus simpatizantes finjam que o Hamas não existe e não tem nada a ver com a tragédia do povo palestino. Sendo assim, gritar “Palestina Livre” de um palco nos Estados Unidos é fácil demais.





