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Leonardo Coutinho

Leonardo Coutinho

Brasil, América Latina, mundo (não necessariamente nesta ordem)

Narrativas

Trump não vai destruir o mundo

Em 2016, Trump foi apresentado como uma ameaça à democracia, que conduziria o mundo à destruição. (Foto: Aline Menezes com Leonardo AI)

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A cerimônia de posse do presidente Donald Trump foi transferida da parte externa do Capitólio – com vista para um gramado com 1.800 metros de extensão que, a cada quatro anos, recebe centenas de milhares pessoas para assistir o juramento do presidente americano – para uma área monumentalmente linda chamada Rotunda do Capitólio. Uma estrutura circular exatamente no centro do edifício-sede do Congresso, bem abaixo da cúpula que é a marca principal da arquitetura da sede do legislativo.

O motivo é a temperatura. Segundo o divulgado, ela está baixa demais. O que não deixa de ser verdade. O ar congelante, além de desconfortável, pode ser letal. Mas a razão da mudança é outra.

Os riscos de segurança – que sempre foram elevados e atingiram o seu ápice no atentado cometido contra o então candidato Trump, em julho passado – estão em níveis extremamente altos.

A razão é que nenhum presidente da história recente dos Estados Unidos esteve na posição que Trump está: amado e odiado ao extremo por parcelas significativas da população

O que estou falando vai além da polarização política. Há uma polarização emocional. E nesse contexto, há muita gente doida sendo alimentada pelo ódio contra o presidente americano.

Em 2016, Trump foi apresentado como uma espécie de “novo Mussolini” que não só destruiria a democracia, mas conduziria o mundo à destruição. No ano passado, a sua nova eleição provocou o mesmo tipo de reação. Não faltaram análises associando o republicando ao nazismo, ou até mesmo ao imperador romano César.

O ódio é tamanho que a pretensa transição pacífica que muitos celebram é formal. A medida disso é que Trump não pode tomar posse ao ar livre.

Além da histeria interna, a sua doutrina nas relações internacionais também sempre foi alvo de desinformação. Quem não se lembra que ele conduziria o mundo a uma guerra apocalíptica? Quem também não se lembra que ele desorganizaria o mundo de tal maneira que levaria à morte da democracia?

O segundo mandato de Trump será marcado ainda mais por um esforço monumental dos rivais para plantar o medo e a desilusão cataclísmica. As medidas que o presidente americano promete tomar, como o fim da imigração descontrolada e a retomada da deportação de imigrantes ilegais e criminosos; o abandono da agenda woke; e a retomada da produção de energia por fontes fósseis estão na lista das medidas que devem colocar muita gente em um transe de radicalismo que não só conflagra os Estados Unidos.

Em 2016 muita gente caiu nessa narrativa nos Estados Unidos. Em 2018, muita gente embarcou nisso no Brasil. E justo agora muita gente segue nutrindo isso em relação aos Estados Unidos. Mas quais são os efeitos práticos além da loucura em si?

A confiança na democracia vai sendo minada por todos os lados. Em todos os espectros políticos. E quem ganha com isso são as ditaduras e regimes autoritários que fazem as pessoas acreditarem que a democracia não serve mais e que estamos cada vez mais parecidos com eles. Estamos em meio a uma perigosa normalização do totalitarismo.

Não caia na tentação de pensar que Trump é um ditador em construção e que a Democracia Americana (assim mesmo com nome próprio) está em risco sob sua administração.

Assim, como não pense que a democracia não serve mais porque Nicolás Maduro rouba eleições, porque políticos e juízes arruínam com os pesos e controle entre os poderes e se mancomunam para governar.

Ao contrário dos prognósticos, Trump não implodiu o mundo e não vai implodir. Pelo contrário, ele pode ajudar a colocar um pouco de ordem no caos deixado por seu antecessor. 

Não é razoável esperar que o americano seja o remédio para todos os males do planeta. Ele não será. Mas é mais do que certo esperar uma administração que tomará posições com resultados objetivos.

Na lista de medidas externas que deverão ter a ação direta de Trump vão do conflito no Oriente Médio, a invasão da Ucrânia e a expansão da influência chinesa na América Latina. Este último, talvez um dos tópicos centrais que deverá se transformar em uma oportunidade para uma onda de investimentos americanos na região.

Mas nada será simples. O mesmo clima que obrigou as autoridades americanas a redesenhar a cerimônia de posse devido ao risco de segurança e distúrbios será o que veremos adiante. A administração Trump navegará por águas tempestuosas dentro e fora dos Estados Unidos.

Conteúdo editado por: Aline Menezes

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