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11 possíveis consequências positivas da pandemia
| Foto: Reprodução Twitter

Gerações futuras que quiserem entender os argumentos anti-isolamento social durante a pandemia de Covid 19 de 2020/21 encontrarão no livro “Liberdade ou lockdown”, do economista libertário americano Jeffrey Tucker, uma ótima fonte. O autor, diretor editorial do American Institute for Economic Research e autor de oito livros sobre o tema da liberdade, apresenta de forma competente, bem fundamentada e elegante teses que contestam a eficácia de medidas restritivas rigorosas adotadas no esforço de contenção do coronavírus. O livro tem posfácio de Rodrigo Constantino.

É preciso levar em conta que “Liberdade ou lockdown” foi lançado nos Estados Unidos em setembro de 2020, o que justifica a ausência de referências a desdobramentos recentes da pandemia, como o surgimento de novas variantes letais, incluindo a brasileira. Nem por isso se trata de um livro “datado”: os argumentos de Tucker permanecem válidos e, de forma geral, são os mesmos utilizados pelos críticos brasileiros a políticas de isolamento compulsório, por motivos já bem conhecidos: a destruição da economia, a falta de comprovação científica da eficácia das medidas, o questionamento das estatísticas sobre mortalidade e, principalmente, o ataque inédito às liberdades individuais em países democráticos. ”Para a maioria dos americanos, o lockdown da Covid-19 foi nossa primeira experiência de total negação da liberdade”, escreve o autor.

Infelizmente, no Brasil a politização extrema do assunto foi o pior efeito colateral da pandemia, tornando impossível qualquer discussão equilibrada sobre o assunto. O vírus se tornou o principal cabo eleitoral de um campo político capaz de fazer o diabo para voltar ao poder: a grande mídia e os intelectuais de esquerda mal disfarçam sua felicidade e entusiasmo quando a situação se agrava. Na verdade ninguém está preocupado com as vítimas, ao contrário: a torcida velada é para que morra cada vez mais gente, porque isso enfraquece o governo. Se é para derrubar o presidente genocida, nenhum custo pode ser considerado alto, mesmo que seja um custo medido em sofrimento e vidas humanas.

Por sua vez, os governistas reagem a quaisquer críticas de forma automática e emotiva, sem procurar examinar o que elas podem conter de verdadeiro. O negacionismo absoluto de parte dos governistas é o outro lado da moeda, o reflexo no espelho da oposição da esquerda raivosa. Triste sociedade, que se tornou refém de um pensamento binário que divide e envenena os brasileiros.

Embora a posição de Tucker seja claríssima na defesa das liberdades e contra o isolamento, ele não cai nessa armadilha. Em nenhum momento “Liberdade ou lockdown” soa como arma de uma disputa puramente política, ou como um ataque a adversários que se pretende destruir. Prova disso é a última parte do livro, que inclui o capítulo “Haverá reações boas”. Tucker projeta 11 consequências positivas dos tempos sombrios que vivemos, na forma de reações da sociedade que comento a seguir – tentando analisar como elas se encaixam no contexto brasileiro:

Reação contra a mídia

Já está ocorrendo. Em uma situação de polarização, o esforço para demonstrar isenção e neutralidade por parte dos grandes veículos de comunicação deveria ser redobrado, mas não foi isso que aconteceu. Houve uma opção clara pela oposição e pela sabotagem permanente ao governo, opção que foi radicalizada ao longo da pandemia. Uma coisa é a obrigação de vigiar e cobrar, outra é partir para o ataque incondicional, adequando o noticiário a uma agenda. O leitor/espectador comum, não-comprometido com nenhum lado, percebe a diferença.

Reação contra os políticos

Somente quando a pandemia passar e a poeira baixar, será possível avaliar em sua justa medida as consequências de decisões do presidente, dos governadores, dos prefeitos, dos deputados e senadores. Muita coisa ainda será descoberta e revelada. Muitas surpresas ainda virão. Mais uma vez: o brasileiro comum, que não se alinha a uma agenda ideológica, saberá avaliar quem trabalhou a seu favor ou não.

Reação contra os excessos do ambientalismo

Tucker avalia que a preocupação com a saúde dos seres humanos estão voltando a prevalecer sobre os cuidados com o meio-ambiente: um sinal disso é que itens descartáveis de uso único, como sacolas de plástico, começam a substituir sacolas reutilizáveis (e transmissoras de doenças). “Fomos levianos com os germes”, escreve o autor. “Voltaremos a nos preocupar com a qualidade de vida como primeira necessidade”.

Reação contra o distanciamento social

Sobretudo nas gerações mais jovens, distanciamento social só vale no discurso. Pelo menos na cidade onde vivo (Rio de Janeiro), as recomendações nunca foram respeitadas: praias e bares lotados, festas com centenas de pessoas em espaços fechados, bailes funk nas comunidades e eventos de música eletrônica "clandestinos" continuaram fazendo parte da rotina ao longo da pandemia. Isso sem falar nos transportes púbicos, sempre cheios de gente que não parou de trabalhar. Quando a pandemia passar, as aglomerações serão épicas. Se você não acredita, aguarde o próximo Carnaval...

Reação contra o excesso de regulamentações

“Em meio ao pânico, descobrimos que muitas regras que governam nossas vidas não fazem sentido”. Também no Brasil a desburocratização e simplificação de procedimentos diversos pode ser uma consequência positiva no mundo pós-pandemia.

Reação contra a digitalização da vida

As pessoas precisam de contato humano, de proximidade física, de interações e trocas reais. Chamadas de vídeo jamais substituirão encontros reais – sobretudo após um longo período de afastamento compulsório de amigos, parentes e pessoas queridas.

Reação contra o anti-trabalho

Nos Estados Unidos, onde existe uma cultura do trabalho, essa reação será forte: lá a realização pessoal e o sentimento de sucesso estão associados a uma vida profissional produtiva. Desnecessário dizer, no Brasil não é assim: aqui o trabalho é visto como castigo, e o sucesso do outro é um crime inadmissível. Bom mesmo é viver de esmola de governos que exploram a miséria do povo. Esperemos que a pandemia ajude a mudar isso também.

Reação contra os especialistas

A epidemia demonstrou que há especialistas para todos os gostos: procurando bem, você encontra médicos e cientistas renomados defendendo teses diametralmente opostas, e pesquisas e estudos científicos com conclusões definitivas ao sabor do freguês. A volta do bom-senso, da humildade em relação ao desconhecido e a reação à tirania dos especialistas são outros efeitos esperados após o fim da pandemia.

Reação contra os acadêmicos

De forma análoga à reação contra a mídia, os brasileiros comuns já entenderam há muito tempo que os intelectuais e professores universitários vivem confinados em uma bolha à parte, na qual o discurso igualitário mal disfarça a defesa de interesses corporativos. O abismo entre a academia e o Brasil real tende a aumentar, o que em algum momento levará a academia "com partido" à irrelevância.

Reação contra estilos de vida pouco saudáveis

Segundo Tucker, a preocupação com comorbidades durante a pandemia deverá levar muitas pessoas a adotar hábitos mais saudáveis, o que por sua vez pode resultar na diminuição dos índices de obesidade, por exemplo. Particularmente na sociedade americana, isso pode representar uma mudança radical.

Reação contra gastos

Sempre segundo o autor, a relação das pessoas com o dinheiro e a forma como elas administram sua vida financeira também sofreram mudanças drásticas, que devem se prolongar após o fim da pandemia. No Brasil, a falta de educação financeira também é um problema grave, que pode passar a receber mais atenção após o trauma do desemprego causado pela pandemia.

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