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As premissas falsas (e de alto risco) da ideologia de gênero
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Não sei se por inocência ou má-fé, os ativistas da ideologia de gênero partem de algumas premissas falsas – ou, no mínimo, discutíveis – que é preciso desmontar. Concluí um artigo sobre o tema publicado na semana passada constatando que estamos em meio a um experimento social de alto risco, cujo fracasso terá um custo — social, emocional, psicológico — altíssimo para toda uma geração. A verdade é que crianças e adolescentes estão servindo de cobaias para uma agenda que sequer conta com o apoio da maioria da população. Faltou detalhar por quê.

Da mesma forma que os papéis de gênero “tradicionais” são construções sociais, quaisquer outros papéis decorrentes de outro modelo também seriam. É o que já está acontecendo, na prática: os códigos de conduta das chamadas sexualidades não-binárias (“pode isso”, “não pode aquilo”) – também são construções sociais e culturais – pelo simples fato de que praticamente tudo que não é integralmente determinado pela natureza é uma construção cultural e social, inclusive os valores éticos e morais que regem a vida em sociedade há milênios.

Mas também é verdade que praticamente nada é exclusivamente construção social: a genética e a biologia importam. Um “detalhe” fundamental que não pode ser desprezado nesse debate é que determinadas construções sociais e culturais já passaram pelo crivo da História e pelo teste do tempo — o que não impede, evidentemente, que elas sejam continuamente aprimoradas.

Por exemplo, a família. Por que deveríamos acreditar que a proposta de abolição da família nuclear traria resultados melhores que o a formação no seio do núcleo familiar, em termos de felicidade e realização dos indivíduos? Onde estão as evidências de que adultos formados fora do ambiente familiar são pessoas melhores, mais felizes e mais saudáveis? As evidências sugerem o contrário, então por que esse novo modelo deveria ser considerado um progresso em relação ao anterior? E por que deveríamos aceitá-lo passivamente?

Mesmo que, por hipótese, a maioria da população aprovasse o experimento da desconstrução da família e dos gêneros, não seria tarefa fácil saltar de um mundo (no qual a família se baseia na existência de dois sexos) a outro (no qual se escolhe o próprio sexo como se escolhe uma roupa). Esse processo exigiria uma lenta e difícil transição, que levaria gerações e seria potencialmente traumática para todos os envolvidos, com resultados imprevisíveis.

Não existe qualquer garantia de que crianças que “exploram” diferentes identidades de gênero serão adultos mais saudáveis que crianças educadas da forma tradicional; ao contrário, estatísticas de instituições médicas americanas indicam elevados índices de depressão e suicídio entre jovens adultos que foram submetidos na adolescência a tratamentos hormonais ou cirúrgicos de mudança de sexo.

Somente uma sociedade doente adota um projeto de reengenharia social que não vê problema em usar crianças como cobaias

O comportamento humano e a percepção de cada indivíduo a respeito da própria identidade e dos demais sempre serão determinados pelo contexto social, que estabelecerá as referências de comportamentos normais e desviantes. Sempre haverá convenções morais e sociais a seguir, e essas convenções sempre serão construções culturais e históricas. É esse contexto — que também será sempre socialmente construído, seja qual for — que determinará o vocabulário, a sintaxe e a gramática do desenvolvimento psicológico de cada geração em formação; determinará, em outras palavras, os modelos de representação social que permitirão a passagem da criança e do adolescente para uma vida adulta responsável e integrada aos interesses da sociedade e à defesa do bem comum.

Mas, com a abolição do modelo familiar em curso, a mente de uma criança tende a ficar à deriva. Parece razoável imaginar que indivíduos que são estimulados desde a primeira infância a acreditar que não são nem homens nem mulheres —o que sempre foi uma referência simbólica primária na formação da identidade — provavelmente encontrarão muitas dificuldades (legais, inclusive) para interagir com o mundo real (falo do mundo real, não do mundo do Facebook, das telenovelas “progressistas” e dos artistas lacradores).

Uma sociedade que escolhe usar a infância como ferramenta de desconstrução de paradigmas é uma sociedade doente. Somente uma sociedade doente adota um projeto perverso de reengenharia social que não vê problemas em utilizar a infância como cobaia de uma agenda ideológica.

Mas, além de tudo que foi dito acima, há limites objetivos inescapáveis na vida. Para ficar em um exemplo óbvio: por duro que seja para muitos homens que se denominam mulheres, somente as mulheres de verdade podem ter a experiência da maternidade; um indivíduo que nasceu homem mas optou pela identidade de gênero feminina, ou que se tenha submetido a tratamentos hormonais ou intervenções cirúrgicas para “virar mulher”, jamais poderá ficar “grávido” ou dar à luz. A experiência da gravidez e da maternidade cria laços entre a mãe e o bebê que um pai jamais experimentará (ele experimentará outros laços, evidentemente).

Então é preciso afirmar o óbvio: existem diferenças entre homens e mulheres que são naturais, que não são construções sociais e culturais. E existem papéis de gênero que, sendo sociais, decorrem diretamente dessas diferenças, são determinados por elas, embora nada impeça, evidentemente, que um homem fique em casa dando leite em pó para um recém-nascido, enquanto a mãe trabalha fora.

Isso implica dizer que, como em todos os aspectos da vida, também aqui a liberdade é limitada, e é preciso aceitar isso. Eu sou livre para escolher minhas práticas sexuais, e (se eu não estiver violando nenhuma lei nem fazendo mal a ninguém) ninguém tem nada a ver com isso; mas, por mais que eu deseje, sendo homem, eu não sou livre para decidir ser mãe. Porque eu posso escolher minha prática sexual, mas não posso escolher meu sexo. De qualquer forma, tudo isso diz respeito a indivíduos adultos, de quem se espera que assumam a responsabilidade pelas suas escolhas e pelo rumo que decidem dar à própria vida.

Ora, não se pode esperar nem exigir o mesmo de uma criança. E é aqui que a ideologia de gênero bate de frente com o Brasil real. Porque a infância é um limite que a grande maioria da população não tolera que seja ultrapassado. Isso não é negociável. Mexam com crianças, e estarão despertando instintos de autodefesa da maior parte dos brasileiros; ou seja, estarão trabalhando contra o próprio programa autointitulado progressista com o qual se alinham 99% dos intelectuais e artistas no Brasil.

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