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Deixem em paz o Sr. Cabeça de Batata!
| Foto: Divulgação

Pensei em dar a este artigo o título “Vamos parar com essa babaquice?”, mas, refletindo melhor sobre o tema, vi que não seria adequado. Pois quando classificamos algo como uma babaquice estamos, de certa maneira, subestimando sua importância, e o assunto é sério. A onda de insanidade envolvendo a ideologia de gênero já está afetando a vida e o futuro de crianças e adolescentes, transformados em cobaias de um experimento social perverso e irresponsável.

A mais recente vítima da escalada de fascismo identitário associado ao gênero é o Sr. Cabeça de Batata – boneco criado há 70 anos, em 1952, quando as crianças espetavam narizes em batatas de verdade. O brinquedo – o primeiro a ser anunciado na televisão nos Estados Unidos – fez tanto sucesso que, no ano seguinte, foi lançada a Sra. Cabeça de Batata, com acessórios femininos. Pois bem, a Hasbro, fabricante dos bonecos, anunciou na última quinta-feira que, em um esforço para “promover a inclusão” e “refletir melhor os tempos atuais”, o Sr. E a Sra. Cabeça de Batata passarão a ter... gênero neutro.

“A cultura evoluiu. A forma como a marca existe atualmente, com o ‘Sr.’ e a ‘Sra.’, é limitante quando se trata de identidade de gênero e estrutura familiar", declarou a diretora da Hasbro, Kimberly Boyd, à revista “Fast Company”. A ideia é estimular as crianças a deixarem de associar os personagens a gêneros diferentes, misturando as peças para montar “Sres. Cabeces de Batates” não-binários.

(Oi?)

Como era previsível, organizações LBGTQIA+, como a Gllad, se apressaram a comemorar o anúncio, afirmando que a iniciativa da Hasbro integra um “grande movimento em direção à diversidade e inclusão”. Em entrevista à Associated Press, o porta-voz da GLAAD afirmou: “A Hasbro está ajudando as crianças a ver brinquedos como simplesmente brinquedos, sem as pressões da normatividade de gênero”.

Não é um episódio isolado. Em setembro de 2019, a Mattel, fabricante da boneca Barbie, lançou uma coleção de “boneques” de gênero neutro, a “Creatable World” – “para atender às demandas das crianças” (??): “Crianças não querem que seus brinquedos sejam ditados pelas normas de gênero”.

A estética neutra dos “boneques” – que não têm lábios cheios nem finos, cílios longos nem curtos, nem seios como a Barbie nem ombros largos como o Ken – foi decidida depois que a Mattel consultou pediatras e especialistas.

(De novo: oi?)

Que pediatras e especialistas são esses? E desde quando as crianças fazem demandas por bonecos de gênero neutro? Em qualquer sociedade, as crianças vão assimilar o que seus pais e professores lhes apresentarem como modelos adequados. E o modelo que querem passar na marra a ensinar as crianças é o de uma sociedade sem gêneros.

Notem bem: não é um modelo de uma sociedade na qual homens e mulheres, heterossexuais e homossexuais, sejam igualmente respeitados e tenham direitos e deveres iguais, mas uma sociedade sem gêneros. Mas quem decidiu isso? Será que a maioria da população apoia essa mudança radical? E por que as pessoas que não concordam deveriam se submeter a isso? Por medo de parecer politicamente incorreto, a maioria deve se submeter aos caprichos lacradores de uma minoria? Desde quando?

E, principalmente, qual será o impacto dos boneques neutres e do Sre. Cabece de Batate na cabeça de crianças, cujas identidades estão em formação?

Estão querendo transformar o ser humano em um organismo sexualmente indiferenciado, como uma batata: mas é no mundo das batatas que não existe diversidade, já que todas as batatas nascem sem gênero. Com os seres humanos não é assim.

O problema de fundo é a seguinte: todas as iniciativas ligadas a eliminar as diferenças entre homens e mulheres, entre os gêneros masculino e feminino, partem de premissas equivocadas.

Primeiro, essas iniciativas negam a biologia, a genética e a anatomia, como se fosse possível suprimir por decreto fatos da natureza. Ensinar às crianças que ser menino ou menina é apenas uma questão de escolha (e que o certo é experimentar de tudo, para depois escolher o que se quer ser) é uma perversidade, cujos efeitos psicológicos e emocionais a longo prazo são imprevisíveis – mas que já são sinalizados pelo elevado grau de casos de depressão e suicídio em adolescentes que foram estimulados a “trocar” de sexo, muitas vezes com o apoio dos próprios pais, para quem o compromisso com a lacração é mais importante que a preocupação com o futuro e a saúde mental de seus filhos.

Mas não é só isso.

Os militantes da ideologia de gênero costumam usar o argumento de que os papéis masculino e feminino são construções sociais e culturais como pretexto para fazer tabula rasa desses modelos, riscando do mapa convenções que são há milênios alicerces da vida em todas as sociedades (até mesmo entre os indígenas das mais diferentes regiões do planeta se atribuem papéis sociais diferentes a homens e mulheres).

Ora, tudo que não é biológico é socialmente construído, e daí? A segunda premissa equivocada, portanto, é a de que existiria um estado natural, sem gêneros, ao qual retornaríamos se negássemos todas as convenções sobre as identidades sexuais.

Isso é simplesmente uma mentira: tal estado natural não existe. O que se está propondo, portanto, é a substituição de um modelo por outro, jogando-se na lata de lixo todas as referências, costumes e valores associados à diferença entre os gêneros masculino e feminino. A diferença é que o modelo novo, que estão tentando impor dor decreto e enfiar goela abaixo da população, nunca foi testado. É literalmente um experimento, cujas reais consequências só seriam conhecidas daqui a algumas décadas.

A terceira premissa equivocada é acreditar que se está lutando pela diversidade quando se negam as diferenças entre os gêneros. Trata-se, na verdade, de uma contradição em termos: não há nada mais diverso que a existência de homens e mulheres, do masculino e feminino: quando se propõe eliminar as diferenças entre os dois, não se está defendendo a diversidade, ao contrário: a diversidade estruturante da vida afetiva, emocional e sexual do ser humano está sendo negada. Querem impor a pluralidade de um gênero só, nem masculino nem feminino, e todo mundo é obrigado a achar isso bonito.

O que se afirma como inclusão de gênero é, no fundo, exclusão de gêneros, é manifestação do ódio à diferença entre o masculino e o feminino – e, por extensão, manifestação do ódio à instituição da família. Quando a Hasbro elimina as diferenças entre o Sr. e a Sra. Cabeça de Batata, ela não está promovendo a diversidade, ao contrário: está trocando dois gêneros por um único gênero, neutro – e induzindo as crianças a acharem isso certo, e a achar errado ter um pai masculino e uma mãe feminina. Ou seja, estão querendo transformar o ser humano em um organismo sexualmente indiferenciado, como uma batata: mas é no mundo das batatas que não existe diversidade, já que todas as batatas nascem sem gênero. Com os seres humanos não é assim.

Em vez de lutarem por bandeiras legítimas, como a igualdade de direitos entre homens e mulheres, aí incluídos os direitos e deveres de pessoas de orientações sexuais diversas – que indivíduos adultos e responsáveis devem ser livres para escolher, luta-se pela extinção de todas as diferenças entre homens e mulheres.

Ora, a partir do momento em que se abolem os gêneros, os próprios movimentos de luta por defesa de direitos de minorias perdem sua razão de ser. Não faz mais sentido alguém se definir como feminista e ao mesmo tempo defender a extinção dos gêneros, porque a luta feminista depende, justamente, do reconhecimento da existência de gêneros diferentes.

Bons tempos aqueles em que negar os gêneros do Sr. e da Sra. Cabeça de Batata seria apenas uma babaquice: hoje iniciativas assim recebem apoio de pais, da mídia, de Ongs milionárias e até de governos. Voltarei ao tema.

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