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Duas estátuas: o que querem os talibãs do progressismo?
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Em março de 2001, tropas talibãs explodiram dois gigantescos Budas do século V, esculpidos em pedra em uma colina na província de Bamiyan, no Afeganistão. Eles tinham resistido a 1.500 anos de História, mas não sobreviveram à fúria justiceira de uma seita de fanáticos.

Ora, na cabeça dos talibãs, eles estavam certos em destruir aqueles monumentos, uma vez que representavam valores que contrariavam suas crenças como fundamentalistas islâmicos. Mas a convicção de um grupo, por sincera que seja, não implica que ele possa impor sua vontade ao resto do mundo, muito menos de forma violenta.

Pelo menos este era o consenso na época daquele atentado a um patrimônio cultural da humanidade. Protestos se espalharam por todo o Ocidente, inclusive por parte da mídia e da UNESCO, o braço da ONU dedicado à educação, ciência e cultura.

Hoje, contudo, quase não se ouvem manifestações – muito menos da ONU – contra a vandalização ou remoção de estátuas de personagens históricos pelos talibãs do progressismo. Pior: os ataques parecem contar com o apoio velado (ou mesmo entusiasmado) da mídia, para perplexidade da maioria da população, constrangida a considerar aceitável o vandalismo.

Da mesma forma que os originais, os talibãs do progressismo combinam motivações políticas e religiosas: ambos se mostram igualmente agressivos na imposição de sua agenda e de suas crenças. Sua tática, como minoria, é semear o medo e constranger a maioria ao silêncio resignado. Está funcionando.

Há quem se cale por receio da patrulha que se dissemina. Há também os inocentes úteis, iludidos pela ideia de que é moralmente correto apagar a História (como se isso mudasse o passado) como forma de pagar alguma dívida ancestral. Há, por fim, quem se diga democrata mas secretamente festeje, movido pelo ressentimento, esse processo de destruição a céu aberto de signos da nossa civilização, por apostar no poder nivelador do caos.

Da mesma forma que os originais, os talibãs do progressismo combinam motivações políticas e religiosas: ambos se mostram igualmente fanáticos na imposição de sua agenda e de suas crenças. Sua tática, como minoria, é semear o medo e constranger a maioria ao silêncio. Está funcionando.

O fato é que, no Brasil e no mundo, a reação da maioria está sendo muito tímida: é quase silenciosa a repulsa das pessoas comuns à destruição de estátuas de Cristóvão Colombo, Miguel de Cervantes, Winston Churchill e até de Mahatma Gandhi, entre muitos outros personagens históricos subitamente expostos à execração pública e tratados a pontapés por grupos autodenominados antifascistas.

De maneira similar, muitas pessoas comuns estão com medo de se manifestar contra a CENSURA a clássicos da literatura e do cinema que cometeram o crime de refletir os valores e costumes da época em que foram criados, como o romance “Huckleberry Finn”, de Mark Twain, os livros de Monteiro Lobato e os filmes “...E o vento levou” e até “Mary Poppins” – o mais recente réu do tribunal sumário que acusa, julga, condena e executa, sem direito de defesa nem contraditório.

Diante dessa escalada de insanidade que se manifesta mundo afora, vem à mente um trecho bastante (mas nunca suficientemente) citado do pensador britânico Roger Scruton, recentemente falecido (aliás, em meio a uma sórdida campanha de difamação e assassinato de reputação):

“O conservadorismo advém de um sentimento que toda pessoa madura compartilha com facilidade: a consciência de que as coisas admiráveis são facilmente destruídas, mas não são facilmente criadas. Isso é verdade, sobretudo, em relação às boas coisas que nos chegam como bens coletivos: paz, liberdade, leis, civilidade, espírito público, a segurança da propriedade e da vida familiar. (...) Em relação a tais coisas, o trabalho de destruição é rápido, fácil e recreativo; o labor da criação é lento, árduo e maçante” [grifos meus].

Primeira estátua:

Poucos personagens da História contemporânea estão mais associados à defesa da liberdade e dos valores da cultura ocidental no século 20 que Winston Churchill: na década de 30, na Câmara dos Comuns, ele foi um dos primeiros a alertar sobre os riscos da ascensão do Nazismo; durante a Segunda Guerra, já como primeiro-ministro, foi o principal responsável pela coesão e resistência da sociedade britânica em seus momentos de provação suprema, sob os bombardeios alemães.

Basta dizer que, sem Churchill, o desenlace da Segunda Guerra poderia ter sido outro, e hoje estaríamos todos escravizados pelos nazistas. Em 1941, quando o resultado do conflito ainda era altamente incerto, o líder britânico fez uma palestra para os estudantes da Harrow School, na qual recomendou:

“Nunca ceda. Nunca se apequene. Nunca desista, nunca, nunca, nunca. Em nada. Grande ou pequeno, importante ou não. Nunca ceda. Nunca se renda à força, nunca se renda ao poder aparentemente esmagador do inimigo.”

Churchill se tornou uma lenda ainda em vida: em 1º de março de 1955, fez seu último discurso como chefe de governo, intitulado "Jamais desesperar". Em 21 de junho daquele ano, a prefeitura de Londres inaugurou uma estátua em sua homenagem, com a presença dele próprio.

Segunda estátua:

Vladimir Ilyich Ulianov, aka Lenin, impôs por um golpe em seu país um sistema de governo que esmaga e desumaniza o indivíduo. Perseguiu intelectuais, professores e artistas, que classificava como lacaios do capital. Censurou e controlou todos os meios de comunicação de massa. Usou a fome como ferramenta de opressão política e limpeza étnica, com mortes que se contam aos milhões – em 1921/22, em regiões afetadas pelo confisco das colheitas, a fome foi tão grave que houve casos de canibalismo.

Lenin expulsou de suas terras centenas de milhares de camponeses que, por cultivarem pequenos pedaços de terra, eram forçados a entregar suas colheitas ao Estado e taxados de inimigos do povo. É famoso um telegrama seu com orientações sobre o que fazer com pequenos proprietários (“kulaks”), que resistiam aos saques e confiscos:

“Camaradas! O levante kulak nos cinco distritos de sua região deve ser esmagado sem piedade. Os interesses de toda a revolução o exigem. (...) É necessário dar o exemplo:

1) Enforcar (e digo enforcar de modo que todos possam ver) não menos de 100 kulaks, ricos e notórios bebedores de sangue.

2) Publicar seus nomes.

3) Apoderar-se de todos os seus grãos. (...)

Façam isso de maneira que a cem léguas em torno as pessoas vejam, tremam, compreendam e digam: eles matam e continuarão a matar. (...)

Seu, Lenin.

O terror vermelho imposto nos primeiros anos da revolução mergulhou a Rússia na fome, na violência desmedida, no caos econômico e na miséria. Estima-se que, entre 1917 e 1922, pelo menos 100 mil pessoas foram executadas por motivação política. Segundo o historiador Orlando Figes (“A tragédia de um povo: A Revolução Russa, 1891-1924”), houve casos de escalpelamentos, empalamentos e fogueiras humanas. Segundo estimativas da historiografia mais recente, o regime implementado por Lênin matou algo entre 20 milhões e 60 milhões de pessoas, no total.

Foi Lenin quem criou o primeiro Gulag (campo de trabalhos forçados para presos políticos), em 1919, em Solovski. No ano seguinte, mais de 100.000 pessoas estavam presas em campos semelhantes, nas regiões mais inóspitas da Sibéria. Os Gulags tinham duas funções: o isolamento de opositores e trabalho escravo, em volume que chegou a ser significativo para a economia soviética.

O que querem os talibãs?

Pois bem, eis que, do alto de sua superioridade moral, manifestantes antifas que nunca conheceram o verdadeiro Fascismo nem tiveram que defender seu país numa guerra, manifestantes que se beneficiam diariamente dos direitos e liberdades que Churchill ajudou a preservar, picharam sua estátua em Londres com a frase: “[Churchill] was a racist”, em uma referência ao passado colonial da Inglaterra.

E, praticamente na mesma semana em que a estátua de Churchill era vandalizada em Londres, em Gelsenkirchen, no oeste da Alemanha, inaugurou-se uma estátua de Lenin, feita na Tchecoslováquia em 1957 e desde então guardada em um depósito. Na cerimônia, um orador afirmou: “Lenin foi um pensador à frente de seu tempo, de importância histórica mundial, um combatente pela liberdade e pela democracia". Isso na Alemanha, onde durante décadas o comunismo escravizou metade da população; na Alemanha, o país que ficou marcado pelo vergonhoso Muro de Berlim.

Começando pela liberdade de expressão, hoje os bens coletivos de que falava Roger Scruton não estão apenas em perigo ou sob ameaça: estão sendo abertamente atacados, sob o olhar cúmplice – ou, no mínimo, complacente – da mídia, da academia e das autoridades. Quem tem consciência disso e se cala ou se omite; quem vê o que está acontecendo e cede e se apequena, ignorando o alerta de Churchill, deveria refletir: o silêncio é o alimento dos corvos que amanhã irão furar seus olhos.

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